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Mestre Gabriel: dons, ofício e profissões – 2
| 17 Janeiro, 2022
A peleja na floresta
Tito Liberato*
Após contrabandear 70 mil sementes de seringueira da Amazônia, a Inglaterra iniciara extensa plantação na Malásia. Depois da eclosão da 2ª Guerra Mundial, o Japão bloqueou a rota da borracha inglesa e os Aliados recorreram ao Brasil que, por meio de um acordo com os Estados Unidos, firmou o compromisso de triplicar a produção, o que fez o governo mobilizar-se na arregimentação de voluntários, chegando a alistar cerca de 54.000 pessoas, os chamados “soldados da borracha”.
Os portos onde os navios com voluntários atracavam assemelhavam-se àqueles carregados de escravos. Logo que chegavam, lá estavam os patrões, para escolhê-los pela aparência e pelos dentes e de lá seguirem para os seringais. Não havia qualquer treinamento, apenas o fornecimento de um “kit” com alguns utensílios. Para sobreviver à floresta, deveriam acrescentar-se um bom punhado de disposição para o trabalho duro e, sobretudo, coragem.
Ao chegar a Porto Velho, o senhor José Gabriel da Costa, Mestre Gabriel, passou trabalhar comprando e vendendo peças de madeira chamadas de dormentes, usadas para assentar os trilhos da ferrovia Madeira-Mamoré.
A lida com a borracha iniciou-se no Seringal Bom Futuro, onde sua primeira função foi no barracão. Conforme contou numa carta a sua mãe, depois foi designado junto com um primo para abrir caminhos para os seringueiros fazerem a extração. No entanto, havia índios canibais na região e os dois foram capturados. Só Gabriel escapou.
Já no Seringal Triunfo, foi trabalhar como noteiro, aquele que registrava a produção, e lá conheceu um jovem chamado Mário, que trabalhava como muleiro, e se tornaram tão próximos que firmaram um “pacto de eterna amizade”. Seu amigo contraiu beribéri (doença causada por distúrbios sensitivos e motores) e logo ficou incapacitado. Quando soube que iam matar Mário, por não estar mais em condições de trabalhar, embrenhou-se com ele na floresta, carregando-o nas costas por 15 dias, até perceber que estava morto e sepultá-lo.
Pequenina
Após contrair uma infecção causada por uma mordida de carrapato, teve de internar-se no Hospital São José, em Porto Velho. Lá, treinou dar injeção usando laranjas. Tornou-se hábil na função e, em razão também do bom trato com as pessoas, tempos depois retornaria ao hospital para trabalhar como enfermeiro, embora tivesse apenas a técnica, sem a formação que hoje se exige. Foi nesse trabalho que conheceu Pequenina (Raimunda Ferreira da Costa), que viria a se tornar sua esposa e consorte, e com ela realizaria seu maior e mais nobre trabalho, criar a UDV.
Nessa estada em Porto Velho, além da função de enfermeiro, fornecia lenha para a estrada de ferro.
Após ser desligado do hospital por razões políticas, pois apoiava o candidato rondoniense adversário do governador designado, iniciou uma fase com diversas idas e vindas entre os seringais e a vida em Porto Velho. Nos períodos em que morou com a família em Porto Velho, foi também dono de venda, vivendo como comerciante.
Nos seringais, convém ainda registrar, auxiliava as pessoas de diversas maneiras, inclusive com as entidades que recebia nos trabalhos de umbanda, apresentando-se como Sultão das Matas, Troveseiro, Flor da Aurora e Tomba Morro. Conta-se, também, que observava as pessoas e fazia histórias em versos, imprimindo como folhetos quando ia à cidade para distribuir aos amigos e, assim, diverti-los e fazer esquecer um pouco as agruras do cotidiano.
Tesouro
Em 1959, Gabriel encontra um senhor chamado Chico Lourenço, que enfim lhe entregaria o Tesouro que com tanta persistência procurava, o Vegetal. Ainda naquele ano e após algumas Sessões na presença de Chico Lourenço, Gabriel passa a preparar o Chá Hoasca e conduzir os trabalhos, iniciando assim o exercício do seu principal ofício, de Mestre, para ensinar e orientar as pessoas no caminho do bem.
Em dezembro de 1964 chegou ao fim o período da vida nos seringais. Porto Velho, que antes havia sido o porto de chegada, então serviria como ponto de partida para que a mensagem de fraternidade e paz fosse levada aos quatro cantos do mundo.
*Tito Liberato é integrante do Corpo do Conselho e Monitor do Departamento de Memória e Comunicação (DMC) da Sede Geral da UDV (Brasília-DF).
Fontes:
– Livro Mestre Gabriel, o Mensageiro de Deus (Ruy Fabiano)
– Agenda Institucional UDV 60 Anos (2021)
– Alto Falante Histórico, edição de maio de 2020 (Caminho de Flores)
– Tese de Doutorado “O exemplo na vida de quem prega: uma análise do campo ayahuasqueiro feita a partir de e com os sócios o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (Patrick Walsh Neto).
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Conheça os textos da Série “Mestre Gabriel: dons, ofício e profissões”:
- A peleja na floresta { você está aqui }
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Lindo trabalho informativo a respeito da vida de nosso querido e saudoso Mestre Gabriel. Podemos perceber o tamanho da perseverança na busca do tão sonhado tesouro que o Mestre falava, esse valiosíssimo trabalho do DMC… vemos a dedicação do C. Tito Liberato em trazer tão valiosas informações a respeito da missão de Mestre Gabriel nesse ano de 2022 em que comemoramos o centenário do Mestre Gabriel. Viva, Mestre Gabriel. Viva a UDV.
Bem escrito, narrativa atraente, dá uma dimensão bem humana do nosso Mestre, suas idas e vindas pela sobrevivência, como cidadão honrado e cumpridor da palavra como se mostra nestes episódios. O compromisso com o amigo de “amizade eterna” é exemplar. Parabéns ao conselheiro Tito pelo trabalho.
Excelente material de pesquisa. Presente pra todos nós.
Grato à equipe pelo trabalho primoroso.
Abraços fraternos.
Muito bonito o texto! Por meio dele nós podemos conhecer mais a respeito do nosso Mestre Gabriel! VIVA O CENTENÁRIO DO MESTRE GABRIEL!!
Bonito texto. Pra quem já visitou o imenso seringal, fica fácil imaginar os obstáculos vencidos pelo M. Gabriel. Carregar nas costas um amigo, no meio da mata, coisa de Mestre mesmo.
Um exemplo a ser seguido. M. Gabriel um ser humano fantástico. Parabéns pelo trabalho, C. Tito Liberato.
É por isso e tantas outras coisas que o Mestre Gabriel passou em sua vida, que foi considerado e sempre será, um vitorioso! Como é bom fazer parte dessa vitória, através desse tesouro que ele nos presenteia e que conduz ao nosso desenvolvimento espiritual e transformação interior! Viva os 100 anos do Mestre Gabriel!
Parabéns pelo trabalho C. Tito Liberato, é muito importante esse tipo de pesquisa para conhecermos mais sobre o nosso divino mestre. Viva o centenário do Mestre Gabriel!!
Valioso relato
História de superação no cumprimento de uma sublime missão à humanidade…
Bonito trabalho para nos apresentar um pouco mais da vida do nosso grande Mestre.
O Mestre Gabriel superou as adversidades sem esquecer dos que estavam próximos a ele, prestando auxilio a estes e lhes dando motivos para continuarem firmes na jornada. Um belo exemplo para sempre prestarmos auxilio a nossos amigos! Viva o centenário do Mestre Gabriel!!
Além de especial, é muito bonita a escrita dessa série. Muito interessante a abordagem histórica alinhada ao modo como Mestre Gabriel viveu sua vida, nos mostrando ainda mais a força do nosso Guia Espiritual e a confiança que podemos e devemos ter nele, é uma alegria fazer parte dessa Sagrada Obra!
Lindo exemplo de amizade podemos enxergar na vivência do Mestre, para podermos praticar na fábrica de fazer amigos que é a União do Vegetal!