Do Sertão à Amazônia

Mestre Gabriel em frente a sua casa na rua Abunã. Da esquerda para a direita: Jandira, Pequenina, Antonio Gabriel,
Mestre Gabriel e Antonio Domingos Ramos. (Porto Velho – RO, 1971)
Foto: Francisco Herculano de Oliveira

mestre gabriel e familia

José Gabriel da Costa nasceu no dia 10 de fevereiro de 1922, no município de Coração de Maria, próximo a Feira de Santana, na Bahia. Filho de Manoel Gabriel da Costa e Prima Feliciana da Costa, pequenos agricultores. É o oitavo de 14 irmãos, educados na fé católica e no trabalho diário na fazenda.

O dia 10 de fevereiro é dia consagrado na União do Vegetal.

INFÂNCIA E JUVENTUDE 

José, como era chamado em casa, aprendeu a ler e escrever sozinho e foi pouco à escola – três meses. Seu professor disse a seu pai que não tinha mais o que lhe ensinar e, como não havia outra escola na região, José encerrou ali os estudos.

Aos 20 anos foi para Salvador (BA), trabalhou no comércio e também como condutor de bonde. Na capital, conheceu algumas religiões, “procurando uma realidade”, como disse a seu irmão, Antônio Gabriel. Lá, frequentou terreiros de candomblé, onde se apresentava como Sultão das Matas. Aos domingos, jogava capoeira na praia de Amaralina, onde era chamado de Zé Bahia e conhecido por sua agilidade.

DO SERTÃO À FLORESTA

Sua estada em Salvador não durou muito. Em meio à Segunda Guerra Mundial (1943), o governo brasileiro, visando aumentar a extração do látex das seringueiras, nativas na Floresta Amazonica, recrutou um exército de “soldados da borracha” e deu opção aos jovens nordestinos de irem para a Amazônia, colher seringa. Em 1944, sem ter oportunidade de despedir-se, José Gabriel escreve uma carta para sua família e embarca em um navio para Belém (PA), com destino à Porto Velho, então Capital do Território Federal do Guaporé, hoje Estado de Rondônia.

Nesta região José Gabriel da Costa trabalhou em diferentes seringais do Acre, de Rondônia e também na Bolívia, onde conheceu o chá Hoasca (ayahuasca), em abril de 1959.

O vídeo abaixo conta a trajetória de vida do Mestre Gabriel até seu encontro com o Chá Hoasca e a criação da União do Vegetal.

LINHA DO TEMPO

– José Gabriel da Costa nasce em 10 de fevereiro de 1922, no município de Coração de Maria, próximo a cidade de Feira de Santana, Bahia (BA).

– Em 1944, alista-se como “soldado da borracha”. Viaja de navio de Salvador  (BA) para Belém (PA) e, de lá segue para Porto Velho (Território Federal do Guaporé).

– De 1944 a 1946, foi seringueiro nos seringais Bom Futuro e Triunfo. De volta a Porto Velho, trabalhou com fornecimento de lenha para a Estrada de Ferro Madeira Mamoré e, depois, no Hospital São José em Porto Velho, como auxiliar de enfermagem.

– Em 1947 conheceu Raimunda Ferreira da Costa, chamada de “Pequenina”, e com ela se casou.

– Entre 1950 e 1958, de Porto Velho passou a ir aos seringais com a sua família, vivendo por um período no Território de Guaporé, atual estado de Rondônia, e voltando à capital. Fez esse trajeto por algumas vezes, sem ter a oportunidade de conhecer o Chá Hoasca.

– De 1959 a 1964, Mestre Gabriel morou nos Seringais Guarapari e Sunta, nas margens bolivianas do rio Abunã, nas fronteiras com o Acre. Em abril de 1959, teve seu primeiro contato com o Chá Hoasca, que era distribuído às pessoas, sem ritual ou doutrina definida. Inicia, então, seu propósito de utilizar o chá de forma benéfica e ordenada.

– Em 22 de julho de 1961, declara criada a União do Vegetal, estando presentes sua esposa “Pequenina”, seus filhos e alguns seringueiros. Continua distribuindo o chá, já dentro de um ritual e uma doutrina.

– Em janeiro de 1965, Mestre Gabriel e família mudaram-se para Porto Velho (RO), onde a UDV se organizou primeiramente como Associação Beneficente União do Vegetal e em 1970 como Centro Espírita Beneficente União do Vegetal, instalando-se a sua primeira Sede na rua Abunã.

– Em 24 de setembro de 1971, desencarna em Brasília (DF).