Paz – a obra de muitos

James Allen*

| 03 Outubro, 2023

Construir a paz é o trabalho de muitos. A maioria desses obreiros, contudo, não desfila nas passarelas das celebridades na Internet, hoje tão valorizada e legitimadora. São os realizadores das pequenas atitudes que constroem resultados, e que, por isso mesmo, fazem a diferença nessa obra da paz.

Bertolt Brecht, com rara habilidade, reconhece o agente silencioso dessa transformação:

Há homens que lutam um dia e são bons,
há outros que lutam um ano e são melhores,
há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Mas há os que lutam toda a vida, e estes são imprescindíveis.

O livro O Edificar da Paz – Regulamentação do Uso Religioso do Chá Hoasca no Brasil, de João Magno, uma publicação da editora Pedra Nova, este ano, publicado pela Prosperar, mostra quantos, em tantos setores da sociedade, deram sua contribuição para chegarmos até aqui, seguindo a União do Vegetal. E assim, garantindo o nosso direito de liberdade religiosa, consagrado pela Constituição Cidadã, de 1988.

João Magno cumpre, como tem sido regra na nossa instituição, preservar a nossa memória ao registrar a luta pela regulamentação do uso do Vegetal no Brasil. E não só para a União do Vegetal, mas também para aquelas comunidades que buscam o bem e a paz, cada uma com sua maneira de comungar a Ayahuasca.

Para cumprir meu objetivo com este artigo, minha maior colaboração ao trabalho desse caianinho seria fazer uma lista de todos que são citados em sua obra. Cada um desses merece seu nome neste mural de recordação. E ligaria esta lista, seus nomes, às citações, nesse relato que ele oferece ao mundo e à história das religiões e do Brasil. Isso, para que a sociedade saiba com toda clareza o trabalho exemplar pela construção da paz, mesmo diante dos conflitos e desencontros naturais da sociedade brasileira e humana.

Muitas pessoas da nossa irmandade dedicaram-se com força, determinação e equilíbrio a cumprir sua parte na luta pelo nosso direito de existir – como fonte da alta espiritualidade, organizada para atender tantos quantos queiram conhecer o seu sagrado símbolo de União. São caianinhos, pequeninos, ananinhos, como diria nosso Guia. E temos que reconhecer que muitos também – que nunca beberam do nosso chá, mas respeitaram nossas convicções e o direito de exercê-las – fizeram dessa, uma conquista da democracia brasileira.

É um tributo importante de fidelidade histórica que Magno se obrigou a registrar. Espero que essas palavras neste modesto artigo sejam uma pequena luz para iluminar este livro na agenda de estudos da história das religiões no futuro. E que seja percebido o valor que tem, quanto mais o tempo passar.

O relato despojado, mais do que isso: simples, e direto, no estilo adotado por João Magno, reflete sua maneira de ser, modesta e perseverante. Um homem sem arroubos de exaltação como poucos, com tantos motivos para tê-los. Um David nas lutas contra seus próprios Golias, que abraçou a luta da UDV contra o desconhecimento e o arbítrio de autoridades de plantão mal-informadas, e às vezes até mal-intencionadas.

Sobre o seu relato, sem mistificação, nosso querido irmão mostra que, nesse trabalho para defender o direito de o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal realizar o seu programa, alguns eventos indicam a delicada “mão do Mestre” a direcionar as ações. Contudo, ele desvela esses acontecimentos preservando seu compromisso com a precisão rigorosa, o cuidado extremado e uma sinceridade surpreendente sobre seus momentos de angústia e dúvidas na luta pelos interesses da UDV.

Hoje, para as novas gerações, que cresceram e crescem na União do Vegetal, deve parecer um absurdo que tenhamos, por décadas, lutado para sermos reconhecidos e não confundidos com drogaditos, ou pior, com promotores do tráfico de drogas. Isso é passado.

E foi a participação de João Magno em uma reunião do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad) uma das pedras fundantes do reconhecimento dos governos do Brasil e de outros países sobre a realidade da União do Vegetal. Sua determinação em dar voz à UDV naquele conselho mudou as perspectivas das autoridades sobre o nosso chá. Mas não sem suas incertezas e temores. João não é um herói sobre-humano, mas um homem comum, uma formiguinha, talvez. E ele relata seus sentimentos, momentos antes de ir à reunião, ele, um ex-deputado federal e ex-prefeito, que transitou com frequência nos gabinetes palacianos das altas autoridades brasileiras.

(…) Se eu fizesse uma fala desqualificada iria aumentar o risco de criar o problema! Ainda mais estando em jogo o uso do Chá Hoasca e o funcionamento da União do Vegetal. Tive medo. Mas disse para mim mesmo: “Vou encarar os doutores do Conad com o pouco que sei do Mestre Gabriel, o Mestre que procuro seguir (…)

Evidentemente, seus temores não se confirmaram. Ao contrário, o Conad, sensibilizado pelo seu depoimento, em que ele se apresentou como um usuário do chá, identificou a necessidade de aprofundar seus estudos e ir além de suposições ali apresentadas sobre os milhares de usuários da Hoasca no Brasil.

Se algo há a destacar, além da saga de João Magno ao escrever e publicar este relato, com certeza é sua decisão de publicar na íntegra “A Breve História da Institucionalização do Uso da Ayahuasca no Brasil”. (Testemunhei sua luta para publicar este livro entre minhas internações por Covid, e minha recuperação lenta e confusa).

João faz um gesto de reconhecimento a um trabalho profundamente meritório, humilde e constante de Edson Lodi. A publicação integral do artigo, por si só, abrilhanta o rigor histórico com que o autor tratou os fatos que colecionou em seu livro. Nosso primeiro secretário de Relações Institucionais, Lodi, é aquele típico formiguinha incansável na construção da grandeza da União do Vegetal. Não estará no mural das celebridades eletrônicas, talvez, mas no coração do nosso Mestre, com certeza, pelo trabalho silencioso que realiza; e sua “breve história” é o diploma marcante dessa jornada brilhante.

Não vou esmiuçar os detalhes desse registro histórico tão rico e estruturador do conhecimento sobre a União do Vegetal, e sua saga para estar desperta perante os olhos da sociedade. Vou apenas dizer o que senti em relação aos meus filhos, quando reli este livro para fazer este artigo. E o faço aqui publicamente.

Comentei com minha companheira Izabel, esta percepção. E por isso recomendo aos meus filhos, Camila, David, Olívia e Artur: leiam este livro “O Edificar da Paz”. Para conhecer uma luta incansável, pacífica e determinada, de acordo com os princípios da nossa doutrina, no esclarecimento dos nossos propósitos e ações junto às mais altas autoridades brasileiras. Precisamos conhecer essa história para não deixar que ela se repita.

Izabel ficou encantada com a facilidade de ler e compreender a sucessão das ações dos nossos caianinhos na luta da UDV para ter o direito de existir, e o leu de uma vez.

Leiam.

E vejam, na prática, o quanto todos esses, tão pequenininhos, são capazes de realizar. É uma justa homenagem que todo caianinho fará ao conhecer seu conteúdo: a meritória vênia à obra do nosso Mestre Gabriel, este ser dotado de grandeza e humildade. Não temos sua grandeza, mas unidos podemos resplandecê-la com nossa força de realização, aqui e no planeta, para fazer resplandecer a Luz da União do Vegetal.

JAMES ALLE (2)

*James Allen é integrante do Quadro de Mestres do Núcleo Canário Verde (Brasília-DF).


Serviço

O livro O Edificar da Paz – Regulamentação do Uso Religioso do Chá Hoasca no Brasil, de João Magno, uma publicação da editora Pedra Nova, está disponível no site da Nossa Loja. Clique aqui!

7 respostas
  1. Antônio Cavalcante Neto
    Antônio Cavalcante Neto says:

    Eu lembro que foram momentos de grande espectativa, pois não sabíamos o que iria acontecer, mas o Mestre é sempre o Mestre e tudo aconteceu do jeito que tem que acontecer!
    Ao meu Amigo João Magno quero dizer que quero ler este livro pra reviver na memória esta grande vitória do Bem!
    A União está plantada em caráter definitivo!!!

    Responder
  2. Ângelo Antônio Lopes Moura
    Ângelo Antônio Lopes Moura says:

    Narrativa histórica emocionante! Um retrato fiel da presença da mão do Mestre nos pequenos detalhes e nos grandes desafios que se apresentam na missão de Edificar a Paz.

    Responder
  3. Luciana
    Luciana says:

    Essa narrativa de M João Magno é de grande importância na história da nossa UDV, é possível ver com clareza a presença do Mestre e a dedicação e seriedade com que os irmãos conduziram essa trajetória da legalização. Mestre sempre presente! Relato emocionante e importante.

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  4. Mauro Carneiro
    Mauro Carneiro says:

    Um Belíssimo e emocionante relato cercado de mistérios em que o M.João Magno fez a defesa de nossa União perante as autoridades, nosso reconhecimento e gratidão pela sua participação nessa nossa história.
    Abs

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