A música como instrumento do Mestre Gabriel
| 8 de Fevereiro, 2021
Nesta publicação em homenagem ao nascimento do Mestre Gabriel, vamos falar de música e destacar três composições importantes para aqueles que querem conhecer mais a respeito da União do Vegetal e de Mestre Gabriel. O texto é de autoria da jornalista Juliane Oliveira* e foi publicado anteriormente em 12 fevereiro de 2019. O blog deseja que o material publicado possa ser recebido como um presente dedicado à todos que acompanham o “Seu” Gabriel no cumprimento da missão.
O Olhar do Mestre Gabriel registrado em fotografias e em suas palavras ainda hoje repetidas por aqueles primeiros irmãos que estiveram ao seu lado no início desta Obra Sagrada ecoam nos salões do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. Na fotografia do Mestre Gabriel que ilumina os Templos da UDV, dois elementos chamam a atenção: uma vitrola e alguns discos de vinil. Ao lado esquerdo do Mestre, eles estão ali não apenas como adornos, estão ali para servir ao Mestre Gabriel naquilo que é cabível: serem instrumentos para trazer a música para o Salão do Vegetal e assim, complementar ou trazer um assunto conforme a necessidade do momento.
A vitrola e os discos de vinil escolhidos com propriedade, permitiam ao Mestre Gabriel fazer seu trabalho, conforme depoimento do Mestre José Luiz de Oliveira, compadre de Mestre Gabriel e membro do Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel.
“As vezes ele [Mestre Gabriel] falava num determinado assunto e complementava com música dentro do mesmo assunto ou ele colocava uma música pra puxar o assunto e doutrinava dentro daquele assunto. A música era usada pelo Mestre Gabriel assim, como ferramenta de trabalho”.
Adotada desde o tempo do Mestre Gabriel, a música é utilizada ainda hoje nos Salões do Vegetal e nos possibilita conhecer um pouco mais deste homem simples, porém de grande sabedoria que viveu o Dilema da Vida e por ela nos ensinou e ainda ensina. Filho de Coração de Maria (Feira de Santana-BA), recebeu desde muito cedo a influência da boa música de raiz do século passado e através dela trouxe para dentro de sua casa, Uma Casa de Caboclo, a alegria, a esperança e a força motivadora na construção de um mundo melhor. Um dia se despediu, mas antes, fez um Agradecimento, nos ensinando mais uma vez:
“Tudo que eu faço, tudo que eu falo e tudo que eu canto é ensinando”{ Mestre Gabriel}.
Dilema da Vida
A música Dilema da Vida é parte do repertório da União do Vegetal. Através dela, José Gabriel da Costa, o Mestre Gabriel, apresenta-se para a irmandade da União do Vegetal e para quem mais quiser conhecê-lo. Usada com frequência quando ele estava presente nas sessões em Porto Velho-RO, a música mostra as dificuldades de quem se dispõe a “vencer o mal” praticando o bem.
Assim vou lutando com dificuldade
Seguindo meu lema sem retroceder
Para ser mais claro falando a verdade
Com honestidade é duro vencer.
Mesmo cruzando dificuldades – muitas delas conhecidas no mundo hoasqueiro, Mestre Gabriel trabalhou sempre pela Paz e pela Fraternidade Humana. Não desistiu e sempre demonstrou sua convicção na Justiça Divina. Em sua Obra Sagrada está clara a sua crença em um Poder Superior. Assim, na música Dilema da Vida, que ele tanto usou para ensinar seus discípulos a também serem pessoas de valor – como ele era e é, Mestre Gabriel mais uma vez faz demonstração de sua convicção:
Porém de uma coisa eu tenho certeza
Alguém algum dia vai reconhecer
Que não uso arma em minha defesa
E quem tem nobreza vai me defender
Não tenho ganância, não quero riqueza;
Desejo apenas cumprir meu dever
E aquele que rege toda natureza
Mandará o prêmio que eu merecer.
Surpreende-nos como Nonô e Naná conseguiram expressar através da música Dilema da Vida os mesmos dilemas vividos por Mestre Gabriel. Como ele mesmo disse “quem quiser me conhecer um pouco mais, escute esta música”.
Uma Casa de Caboclo
Quem hoje adentra os Salões da União do Vegetal encontra um lar, uma casa de muitos amigos. De diversos formatos, tamanhos e cores, cada Núcleo de hoje é fruto de Uma Casa de Caboclo – a casa de “seu Gabriel e dona Pequenina”. Nesta casa, como contou Mestre Florêncio encontrava-se abrigo e o amorosidade da gente simples que ali construía um lar para os filhos e uma escola espiritual para os muitos discípulos que já começavam a chegar:
“Nós chegamos à casa do Mestre Gabriel, uma casa no chão batido, coberta de palha e tábuas, o banheiro era lá em cima, no quintal. Era uma casa de caboclo mesmo. Simples, bem simples a casa do Mestre Gabriel, mas foi lá que ele nos acolheu. Eu fui um dos que nessa casa de caboclo e lá não faltava um café, boas conversas, uma rede atada para deitar. Tanto ele quanto a Mestre Pequenina nos tratavam bem” ( Trecho retirado do Livro Relicário – Imagens do Sertão, de autoria do Jornalista Edson Lodi).
Segundo depoimentos, Mestre Gabriel colocou a música Uma Casa de Caboclo uma vez para Mestre Sidon (in memoriam) quando este ficou observando a simplicidade e os poucos recursos que Mestre Gabriel dispunha. E mais uma vez, Mestre Gabriel demonstra sua sabedoria e também nos convida a conhecer o “seu céu aqui na terra” – o que em versos nos lembra os Núcleos da União de Vegetal hoje tão alegres com a presença de crianças e jovens que frequentam esta mesma casa de caboclo acompanhados de seus pais. E por nós, crianças sedentas de conhecer a espiritualidade que o Chá Hoasca e os ensinos do Mestre Gabriel têm para nos proporcionar:
Casinha simples encostada ao pé da serra
Se é amigo não repara onde eu moro
Vá ver de perto o meu céu aqui na terra
E conhecer as criancinhas que eu adoro
Agradecimento
Como quem prenuncia um ‘adeus’, Mestre Gabriel trouxe de sua viagem de Fortaleza –CE um LP com a música Agradecimento (Severino Ramos e Jacy Santos), do Trio Nordestino. A música, conforme entrevista do Mestre José Luiz, foi escrita na época porque um dos componentes do Trio Nordestino havia adoecido e eles escreveram a música como forma de agradecimento. Segundo Mestre José Luiz, o Mestre Gabriel dizia assim: “Eles [Trio Nordestino] foram um instrumento para eu [Mestre Gabriel] agradecer através dessa música o benefício que eu recebi no Hospital de Messejana (CE). A dedicação que os médicos tiveram comigo e a recuperação da minha saúde. Eles pensam que fizeram pra eles, mas eles fizeram pra mim”.
Deus me deu
Quase tudo que eu queria
Até a felicidade de ser filho da Bahia
Há quanto tempo não vejo minha cidade
Vou matar minha saudade
Tá quase chegando o dia
A música Agradecimento foi tocada pela primeira vez na União do Vegetal em Manaus-AM no dia 25 de março de 1971, quando Mestre Gabriel retorna à Porto Velho e faz breve escala em Manaus depois de um longo período de tratamento em Fortaleza-CE. Nesta viagem, Mestre Gabriel vai até à Bahia e reencontra familiares. O retorno do Mestre Gabriel à Porto Velho marca um novo tempo para a União do Vegetal. Assim como na música, Mestre Gabriel já demonstrava que estava “chegando o dia” de sua partida e, como bom professor, usa da música para demonstrar sua humildade, ensinando mais uma vez aos seus discípulos o valor da gratidão e do reconhecimento à Deus:
“Mas agradeço tudo que Deus fez por mim
Aos homens da medicina
E ao Senhor do Bonfim”.
Assim como tudo que o Mestre Gabriel faz é ensinando, ele também usou a música como uma ferramenta de trabalho para ensinar à nós, seus discípulos, como ser um obreiro desta Sagrada Obra que é a União do Vegetal – o tesouro do Mestre Gabriel.
Vídeo
Apresentamos no vídeo abaixo essas três importantes músicas que compõem a história do Mestre Gabriel e da União do Vegetal. Para a produção do vídeo, a equipe do Blog da UDV ouviu o Mestre José Luiz de Oliveira, membro do Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel:
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*Juliane Oliveira é integrante do Corpo Instrutivo da Sede Geral (Brasília-DF) | O texto foi construído a partir de entrevista realizada com o Mestre José Luiz de Oliveira (membro do Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel e Mestre Assistente Geral – 2021/2024), e de informações do livro Relicário – Imagens do Sertão, de autoria do Mestre Edson Lodi, membro do Conselho de Administração Geral (Conage).