O equilíbrio está no centro
| 22 Maio, 2020
Duarte Antônio Guerra*
Sou médico psiquiatra e tenho atendido muitas pessoas com repercussões emocionais deste período tão singular que estamos vivendo. Há os que estão muito afetados e, portanto, preocupados economicamente; os que estão zelando por seus familiares em grupo de risco; os imunodeprimidos, que estão praticamente sem contato; há os avós sentindo a falta dos netos e vice-versa; e os que vivem a necessária adaptação ao imprevisto, que está sendo todo esse corpo de medidas que mudou nossa rotina.
Já prevíamos que pessoas em tratamento para depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e outros experimentariam uma piora de seus quadros na vigência da pandemia e quarentena, mas ainda não sabíamos o quanto, e ainda menos sabíamos como seria para os que não estão em tratamento.
Nestes dias de quarentena, tenho visto muitas vezes acontecer o estado de ansiedade gerando uma atitude de alerta, de vigilância, de não relaxamento, podendo até causar sintomas físicos como dificuldade para respirar, aperto no peito, palpitações, tremores, suor, frio, formigamentos e até dores de cabeça, abdominais ou nas articulações. Além destes, uma sensação de desconforto psíquico e medos imotivados.
Estados de ansiedade continuados geram alterações em eixos hormonais de nosso organismo que impactam na imunidade, e quando crônicos podem causar estados melancólicos, depressivos.
Avalanche de informações
Infelizmente, a avalanche de informações despejada nas redes sociais e absorvida diariamente gera uma série de indagações que não auxiliam a tranquilizar os indivíduos: Será que é mentira? E se for verdade? E se acontecer isso ou aquilo? E, em meio a tantas informações, orientações divergentes sendo recomendadas: flexibilizar, isolar, ignorar. Cada posição dessa com a sua fundamentação, nem sempre consistente.
Além disso, o fato de estarmos vivendo uma situação que não está sob nosso controle também atua como fator gerador de ansiedade. Ansiedade exagerada e necessidade de controle andam juntas – dizemos que todo ansioso é um controlador em potencial – e aqui uma importante lição que podemos aprender com a pandemia: não estamos na governança de tudo. Há algo (Algo) superior a nós.
Mas voltemos ao indivíduo no meio disso tudo e à repercussão nas emoções dele, perturbando sua paz, algumas vezes prejudicando-lhe a saúde mental.
Enquanto profissional da área e sendo também um ser humano, o que tenho buscado para mim e recomendo aos que me procuram é estar centrado. No centro, há adaptação ao movimento, e não uma tentativa de modificá-lo a qualquer custo.
No nosso centro não há horas a fio vendo notícias, não há pânico desmedido. Mas também não há descaso, negação, falta de seriedade com as coisas. Não há tampouco fomento de inverdades, nem crença cega sem exame adequado.
Quando estamos centrados, há a pessoa, seu trabalho, sua família, sua fé. Não há negligência, há cautela. Não há desespero, mas cuidado – não só em seguir as recomendações, mas também com as próprias emoções. Quando estamos concentrados, não há desesperança, há fé na renovação da vida e em dias melhores.
Quando encontramos o nosso centro, há uma respiração calma e profunda, o canto dos pássaros e o correr do rio. Há um olhar para o céu e para o Sol, um sorriso da criança que carregamos dentro de nós, há equilíbrio.
Que possamos, portanto, aprender também isto nestes dias que vivemos: dominar nossa ansiedade e encontrar a paz.
De novo, no Centro há a Paz!
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*Duarte Antônio Guerra é médico psiquiatra, professor da UFMT, integrante do Quadro de Mestres do Núcleo Florestal (Alta Floresta-MT) e Responsável na União do Vegetal pelo Grupo de Trabalho de Valorização da Vida.