Aprendizagem Cooperativa no âmbito da União do Vegetal
Cristiane Carvalho Holanda*
| 4 julho, 2019
A Aprendizagem Cooperativa (AC) é uma inovação educacional que, além de ser uma técnica estruturada eficaz de aprendizagem, contribui na construção de um mundo mais colaborativo, justo e sustentável, pois ser cooperativo e solidário é fundamental para nossa sobrevivência. Os cinco elementos que integram essa técnica de aprendizagem (interdependência positiva, interação promotora, responsabilidade individual e coletiva, habilidades sociais, processamento de grupo) estão presentes no Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. Esta é a constatação observada na investigação realizada por mim em pesquisa doutoral feita junto à Universidade Federal do Ceará (Brasil) e à Universidade de Valladolid (Espanha)**, alicerçada nas ideias dos educadores Anastasio OVEJERO, David e Roger JOHNSON, Spencer KAGAN e Paulo FREIRE.
Alguns países – Estados Unidos, Noruega, Japão, Finlândia, Portugal, Espanha, Brasil e outros – têm investido fortemente na metodologia da Aprendizagem Cooperativa, o que aponta para sua relevância. Nos depoimentos dos seus sócios foi possível identificar que a UDV tem princípios semelhantes aos da Aprendizagem Cooperativa. Nos processos de formação que ocorrem na União do Vegetal se percebe o apoio solidário, a maximização dos recursos materiais e humanos, a colaboração com o desenvolvimento das competências socioemocionais e o aumento da capacidade de influência positiva, fortalecendo o sentimento de pertencimento e bem-estar.
O homem não é uma ilha e precisamos uns dos outros para viver. Sabemos da interdependência social que existe entre nós. O que um ser humano faz afeta todo o planeta, e só sobreviveremos se aprendermos a pensar uns nos outros e nos concentrarmos no que é melhor para todos.
Depoimentos
Nos depoimentos de sócios da Direção da UDV colhidos no âmbito da pesquisa encontramos pontos de convergência da AC com a doutrina e a prática desta instituição religiosa, entre os quais destacamos a manifestação de Maria Izolda Cela Coelho (Conselheira do Núcleo Estrela Brilhante, Fortaleza-CE), quando afirma:
“Observamos cada pessoa com profundidade, atentos às suas necessidades, fortalecendo a nossa interdependência positiva. Temos a convicção de que a União faz a força. Cada um tem talentos e competências, e em cooperação chegamos juntos à vitória. Um grande exemplo é a nossa caminhada de evolução espiritual, a chegada a uma dimensão mais plena espiritualmente é interdependente, e quando chegam novos sócios auxiliamos neste processo de transformação e também nós vamos melhorando”.
Também Tadeo Feijão, Presidente da Diretoria Geral do Centro, diz que os cinco elementos da Aprendizagem Cooperativa são integrantes de todos os processos da UDV:
“A responsabilidade é um pilar muito importante, inclusive o Mestre Gabriel entregou a Estrela ao Mestre Monteiro ‘pela responsabilidade’. Os trabalhos são voluntários e a responsabilidade não pode faltar. A ampliação da consciência inicia-se pela responsabilidade. A interdependência positiva está cada vez mais presente na UDV, nos relacionamos de uma forma respeitosa e levamos em consideração a contribuição de cada um. É como uma corrente, quando existe um elo mais fraco, chegamos juntos para fortalecer. Cada Núcleo é como uma célula de aprendizagem cooperativa e é importante que essas células trabalhem cada vez mais unidas em cada Departamento, Núcleo, na Região e em toda a União”.
Antônio de Pádua Campos Filho (Mestre no Núcleo Estrela Brilhante) sintetiza essa afinidade entre a Aprendizagem Cooperativa e os princípios empregados pela UDV, afirmando:
“A UDV é uma comunidade cooperativa de aprendizagem, inclusive o nome UNIÃO tem ligação com aprender em cooperação. Aprendemos juntos”.
Os estudos em desenvolvimento comprovam que na União do Vegetal e na Aprendizagem Cooperativa as pessoas trabalham juntas para desenvolver seus talentos e habilidades em todos os aspectos por meio da cooperação. O que vai além de simplesmente trabalhar em grupo. Propõe um novo jeito de sentir e de ser para fortalecer uma cultura de paz e, dessa forma, melhorar o mundo em que vivem.
*Cristiane Carvaho Holanda é sócia do Núcleo Inmaculada Concepción (Madri-Espanha).
**Um resumo dessa pesquisa foi apresentado por Cristiane Holanda durante a III Conferência Internacional da Ayahuasca, em Girona (Espanha), em 1º de junho de 2019. Sua publicação aqui integra as ações em celebração dos 58 anos da União do Vegetal.