Mestre Pequenina, uma mulher de fibra
Paulo Afonso Amato Condé*
| 28 setembro, 2019
Quando cheguei na União do Vegetal, ainda na Sede Geral em Porto Velho, no início de 1980, eu e a minha esposa Léa nos aproximamos da Mestre Pequenina e sua família, pois ela era muito atenciosa com a gente. Passamos a visitá-la, ainda na casa onde morou com o Mestre Gabriel. Uma casa bem simples e uma família bem numerosa. Sempre sentimos ali um clima de paz e um amor fraterno. Além dos seus filhos, ela sempre acolheu seus netos e outras pessoas que moraram com ela por algum tempo. Sempre a vi trabalhando e lutando para criar seus filhos e auxiliar as pessoas que lá chegavam. Ficamos amigos e tivemos uma boa convivência em todos os anos que pudemos conviver com essa pessoa que sofreu, mas que consideramos uma vencedora, pois soube criar seus filhos, mesmo com a ausência do marido.
A Léa identificou-se muito com seu jeito de ser simples e espontâneo, e logo ficou fã da Mestre Pequenina. Naquele mesmo ano que chegamos, houve eleição para Mestre Geral Representante. Todos o Mestres da Sede Geral eram candidatos e todos os discípulos também eram eleitores. A Léa conta que examinou bem e votou na Mestre Pequenina (único voto). Quando encontrava com ela dizia “minha candidata preferida”, e Mestre Pequenina respondia: “Bendita ignorância!” E davam risadas.
A experiência com mais Luz e o lugar mais alto que pude vivenciar com o uso do Vegetal foi em uma Sessão realizada no terreiro da sua casa, onde ela morou com o Mestre Gabriel, momentos muito importantes na minha caminhada que ficaram gravados para sempre em minha memória. A firmeza e o talento dessa Senhora eu pude ver e comprovar em muitos momentos ao longo da história dessa Instituição. Uma palavra firme e clara que sempre foi e sempre será respeitada no âmbito dessa União do Vegetal. Sei que ela tinha uma gratidão por mim e minha família, assim como eu tenho por ela e toda sua família.
Às vezes ela era séria e outras vezes muito bem-humorada e divertida. Pude conhecer essa mulher de fibra e aprender a gostar dela. Mulher sertaneja, forte e decidida no que queria. Não tinha meias palavras e dizia o que pensava de forma franca e aberta, sustentando o que aprendeu com nosso Grande Mestre e transmitindo os ensinamentos e a doutrina de forma clara. Ouvi algumas vezes ela dizendo que “o Mestre Gabriel criou a União do Vegetal no seio da sua família e que a União é para ser uma só família, pois somos todos irmãos. Que aqui podemos ser felizes, criar nossos filhos em um ambiente sadio e encontrar o caminho da salvação”.
Uma mulher digna e honrada que acompanhou o Mestre e atravessou todas as dificuldades dentro dos seringais. Só sabe o que isso significa quem conhece a vida dentro das florestas. Mesmo em Porto Velho, a vida foi de muita luta e trabalho, mas superou todos os obstáculos e é conhecida como nossa matriarca. Aquela que acolheu em sua casa a primeira Sede da União e continuou acolhendo todos que a procuravam. Que provou sua conduta exemplar, nunca se aproveitou da União e mostrou o bom senso e a sua forma de cativar as pessoas, sendo por isso considerada e respeitada por todos. Deixou uma herança de persistência e coragem para vencer as dificuldades, muitas boas histórias e uma rica herança de fieldade ao seu marido e aos ensinamentos que ele transmitiu.
Reconhecemos nela uma pessoa batalhadora, nunca abandonou a União e lutou até os dias finais da sua vida pela sua família e por essa família maior que é a União do Vegetal, pelos amigos e por esta Sagrada Obra com simplicidade, sinceridade, justiça e amor.
Neste 28 de setembro, dia em que comemoramos seu nascimento, homenageamos esta Senhora, Mãe e Mestre de toda União. Viva Mestre Pequenina!
*Paulo Afonso Amato Condé é Mestre Geral Representante do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal
>> Clique aqui e veja o vídeo “Talismã“, produzido em 2015, em homenagem aos 87 anos de Mestre Pequenina.