Mestre Pequenina, presença viva na UDV

Ana Maria de Lima Souza*

| 28 setembro, 2018

Foto: Yuugi Makiuchi, 1985.

Nesta data, 28 de setembro do ano de 2018, ela inteira 90 anos. Ela quem? PEQUENINA! Uma mulher forte e pelejadora na luta da vida. Nome de batismo: Raimunda Ferreira da Costa (in memoriam) – Dona Pequenina, Irmã Pequenina, Mestre Pequenina. Formas de tratamento às quais respondia com a mesma atenção.

Foi no “batidão da estrada” da vida que se fez companheira, mãe biológica, mãe de tantos outros que à sua residência chegaram e encontraram, naquela humilde casa, o pão, que em épocas remotas, embora fosse pouco, sempre dava para os seus e mais alguém… Além do pão que saciava a fome, o afeto que consolava e alimentava o espírito.

Seguiu “passo por passada, devagarzinho, com os olhos abertos não errou o caminho e bem firme e segura, cantando versinhos”, até seringa cortou quando foi necessário. Enfrentou destemidamente aqueles que, por algum momento, pensaram que poderiam molestá-la. Afinal, seu companheiro encontrava-se impossibilitado de trabalhar para pagar as contas ao explorador patrão dono do seringal. Mas qual o quê! Depararam-se com a mulher guerreira, capaz de defender a sua honra, de seu companheiro e de seus filhos.

Tudo isso, lá, onde ouvia os pássaros cantar em meio às matas verdes, onde apreciava o luar, onde os animais se ajuntavam, e nesse reino da criação onde toda a natureza a alegrava porque sorrindo na libertação…

A saga se seguiu. No ano de 1971, cumprida sua missão, seu companheiro de jornada, o Gabriel, como o chamava, lhe disse adeus. Nesse momento, a mulher tornou-se mais forte, mais aguerrida para os enfrentamentos do dia a dia. Filhos para continuar criando, casa para manter e com mais responsabilidade na supervisão da Obra que auxiliara a criar. Continuou mantendo a olaria de onde tirava o sustento da família. O interessante: sua casa sempre estava com pessoas que buscavam acolhida, amparo e, sei, sempre receberam.

Para mim, um traço marcante na sua personalidade: a dignidade para enfrentar a realidade dura que viveu. Não delegou a terceiros a responsabilidade por seu filho Róseo. Quando os primeiros irmãos de São Paulo chegaram a Porto Velho, e viram toda aquela luta dela, propuseram levá-lo para São Paulo e interná-lo. A resposta: “Essa é uma responsabilidade minha”.

Embora contasse com a assistência da Beneficência da UDV e de irmãos, nunca deixou de trabalhar. Não só para ter para os seus, mas para atender a quem a procurava.

Sua presença é forte e se fortalece e aviva ainda mais com a criação do Núcleo Mestre Pequenina (Porto Velho-RO), nesta data do seu aniversário. Justa homenagem àquela que esteve com o Mestre Gabriel na condição de mulher ativa, companheira e mãe na criação e no desenvolvimento da Sagrada União do Vegetal. Que o seu legado de confiança no Mestre, esperança na vida, amor e caridade seja perene na memória dos sócios da UDV.

E “… Nesse grande reino viva a criação, viva a tudo e a todos e a transformação. Alegre e feliz a gente vai ficar…”. E dar continuidade no dever de caianinhos.

*Ana Maria de Lima Souza é integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Mestre Gabriel (Porto-Velho-RO).