Os 102 anos de Jackson do Pandeiro
José Radier de Sousa*
| 10 Setembro, 2021
Cajueiro, êê, cajueiro ê-á
Cajueiro pequenino
Todo enfeitado de flor
Eu também sou pequenino
Carregadinho de amor.
Tradicional cajueiro
Dos meus avós traz lembrança
Testemunha evocativa
Dos meus tempos de criança.
O cajueiro não dá coco
Coqueiro não dá limão
O amor quando é de gosto
Não produz ingratidão.
(Letra da música “Cajueiro”, de autoria de Jackson do Pandeiro e Raimundo Baima)
No acervo musical utilizado por Mestre Gabriel estão presentes alguns músicos nordestinos e, entre eles, estava Jackson do Pandeiro. Graças a sua versatilidade artística, é conhecido no meio artístico como o “Rei do Ritmo”. No dia 31 passado, teria feito 100 anos** de idade se ainda estivesse vivo. Em reconhecimento às suas contribuições musicais à União do Vegetal e à música brasileira, fazemos esta simples homenagem:
Mestre José Luiz de Oliveira, um dos Mestres da Origem, conta que Mestre Gabriel utilizou em Sessões algumas músicas de Jackson e, mesmo após Mestre Gabriel ter feito a passagem, este costume ainda hoje é preservado. Entre suas músicas há uma que nos chama atenção por ter em sua letra elementos que nos lembram o nosso Guia Espiritual e o seu jeito alegre.
A música “Cajueiro”, de autoria de Jackson do Pandeiro e Raimundo Baima, possui na sua essência quatro palavras: humildade, amor, recordação e gratidão. Vemos, por meio destas palavras, uma bonita mensagem a todos que estão buscando ser pessoas de bom coração, praticar o bem e trabalhar por um mundo de paz.
Assim foi a vida de Mestre Gabriel, uma pessoa conhecida como um verdadeiro amigo, por tratar a todos com amor, carinho e respeito, sem distinção de qualquer natureza.
Sua história de vida resplandece os princípios e valores que pregou. Mostrou que precisamos reconhecer o valor de cada pessoa, de cada discípulo, e que quando estamos unidos somos mais fortes para superar as dificuldades, lembrando sempre das nossas raízes, dos nossos primeiros irmãos.
Coração de Maria
Ao lado da casa dos pais de Mestre Gabriel, localizada em Coração de Maria, no Estado da Bahia, tinha (e ainda hoje existe) um cajueiro onde José (como era conhecido por seus familiares) brincava com seus irmãos, sob sua sombra. Antes de viajar à Amazônia, para servir ao Exército como “soldado da borracha”, disse à sua família que voltaria depois de 25 anos, e assim cumpriu sua palavra. E com este mesmo sentimento de amor aos seus antepassados, formou sua família e cumpriu com dignidade sua missão de esposo, pai e Mestre. Mostrou-nos, com simplicidade, que ser grato é ser justo, em sentimento e atitudes, pelo bem que se recebe.
Biografia
José Gomes Filho, nome de batismo de “Jackson do Pandeiro”, nasceu no dia 31 de agosto de 1919, na cidade de Alagoa Grande, no Estado da Paraíba. Fez a passagem em 10 de julho de 1982, em Brasília. Filho de José Gomes e de Flora Maria da Conceição, conhecida por “Flora Mourão”, cantora de coco (gênero musical nordestino) e a primeira influência musical de Jackson.
Ainda quando criança, inspirado num personagem de filmes de faroeste da época (Jack Perry), ele se chamava de “Jack” enquanto brincava com seus amigos. Inicialmente se chamava “Zé Jack”, depois passou para “Jack do Pandeiro”, mas quando chegou à Rádio Jornal do Comércio, de Recife, em Pernambuco, tornou-se “Jackson do Pandeiro”, por sugestão do diretor de programa da rádio, que dizia que ficaria mais sonoro e causaria mais efeito quando fosse anunciado.
>> Clique aqui e ouça a música Cajueiro.
*José Radier de Sousa é integrante do Corpo Instrutivo da Sede Geral (Brasília-DF).
**texto publicado anteriormente em 09 de setembro de 2019, quando Jackson do Pandeiro faria 100 anos.
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Parabéns ao blog pela justa homenagem a este artista nordestino e brasileiro, de tanta importância pra nossa música e nossa cultura !
Adorei!!
Grato, mano Radier, pela generosa lembrança do valor desse eterno Cantador que é Jackson do Pandeiro.
Um grande legado que Mestre Gabriel deixou, além de seus Sagrados Ensinos, foi a arte de ouvir uma boa música.
Gratidão
Fiquei encantada e emocionada com o tom poético do texto ao descrever com singeleza e doçura o amigo verdadeiro que o Mestre Gabriel é de todos os seus discípulos, independente de qualquer distinção. Para mim, o autor fez uma homenagem ao Mestre Gabriel, através do “Rei do Ritmo”. Belo reconhecimento!
Em sua sabedoria o nosso Mestre Gabriel utilizava a musicalidade de outros mestres pra chegar no coração e na consciência dos seus discípulos, e hoje usando a mesma ciência, essa cultura e esse jeito nordestino de cantar, ainda nos encanta, e nos encantos de nossa espiritualidade nos encontramos com o Mestre e seus ensinos. Viva a musica e seus representantes divinos. viva Jackson, viva o Mestre.
Já que som do Pandeiro é um som brasileiro, viva o Jackson do Pandeiro!
Interessante verificar que o Rei do Ritmo foi justamente utilizado pelo Rei da Palavra. É letra e música, tudo da maior qualidade!
Viva o Mestre Gabriel, com seu apurado senso!
Linda homenagem! Acho muito linda a presença da cultura sertaneja na história da União do Vegetal!
Bela lembrança e justa homenagem! Gratidão ao Mestre por também nos ensinar de maneira tão lúdica e fina.