Conselheiro Baiano, 50 anos de UDV
Avelino Santana (Conselheiro Baiano) conviveu com Mestre Gabriel e desencarnou em junho com quase 93 anos.
| 1 Agosto 2017
Equipe do Blog*
Em 30 de junho de 2017, o Conselheiro Avelino Santana (conhecido por Conselheiro Baiano) desencarnou de causas naturais de maneira tranquila e serena, em sua casa, junto aos seus familiares. Sócio do Núcleo Templo de Salomão (Porto Velho-RO), inteiraria 93 anos no próximo dia 24. O Blog da UDV o homenageia contando a seguir um pouco da sua história de vida:
Avelino Santana nasceu em Umburanas, distrito de Feira de Santana (BA), hoje município de Antônio Cardoso. Em 1944, ele veio para a Amazônia no mesmo navio que trouxe José Gabriel da Costa (Mestre Gabriel), também baiano e nascido em Coração de Maria, então distrito de Feira de Santana. Mas quem o levou para conhecer o Vegetal, quando reencontrou o Mestre Gabriel, foi Francisco Feitosa dos Anjos (Mestre Sidom), em 1967. Tornou-se então um dos discípulos mais frequentes na residência do Mestre Gabriel.
Conselheiro Baiano é lembrado pelos antigos que conviveram com o Mestre Gabriel como um dos discípulos que mais frequentavam a casa do Mestre e estava sempre por perto. Em determinado momento da sua caminhada na UDV, deu um exemplo de fé em seu guia espiritual, quando o seu filho Raimundo (conhecido como Bodó) sofreu um grave acidente ao cair do telhado de um hangar no qual havia subido para assistir um jogo de futebol. Baiano foi agraciado pelo Mestre Gabriel com a cura desse filho.
Encontro com José Gabriel da Costa
Ainda jovem, Avelino Santana sentiu o chamado para rumar à Amazônia como soldado da borracha para extrair a goma elástica e abastecer a demanda por esta matéria prima tão carecida no período da Segunda Guerra Mundial. Assim, embarcou em um navio e no seu convés uma música lhe chamou a atenção. Ao lembrar de como conheceu José Gabriel da Costa, Conselheiro Baiano conta:
“Eu ouvi um pandeiro tocando e fui me aproximando e vi aquele homem puxando aquelas toadas, cantando. As pessoas gostavam de ficar ali escutando aquela cantoria e as histórias que aquele camarada contava. Perguntei a uma pessoa o nome dele e me falaram que era Gabriel. Dalí, me senti cativado por aquele conterrâneo e fizemos uma amizade que trago comigo até hoje”.
Nessa viagem, um marinheiro distribuía coletes e alertava aos recrutas que não fumassem e permanecessem em silêncio, pois, naquele momento, todos estavam em perigo por conta de um submarino alemão que ameaçava naufragar o navio. Ao raiar do dia, um zepelim (balão), acompanhado de dois navios de guerra das forças aliadas fizeram a guarda e o navio seguiu viajem conduzindo aqueles homens para vitórias ainda maiores.
Na chegada em Porto Velho, foram recepcionados pelo então Governador do Território Federal do Guaporé (depois denominado Rondônia), Aluísio Ferreira. Na oportunidade, Avelino Santana já passa ser conhecido entre os amigos pelo apelido de “Baiano”. Na sequência se separa de José Gabriel da Costa e passa a trabalhar como militar, exerce diversas funções e desenvolve habilidades de pedreiro. José Gabriel da Costa, por sua vez, vai trabalhar no KM 104 da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

Reencontro com Mestre Gabriel
Em 1965, Mestre Gabriel chega em Porto Velho vindo dos seringais, trazendo a União do Vegetal já criada e dando início a organização da UDV.
Quando chega para beber o Vegetal pela primeira vez, no portão da casa de Mestre Gabriel, Baiano quis recuar, mas foi visto pelo Mestre Gabriel que ordenou: “Entra logo, rapaz!”. E Baiano, rindo, dizia: “Eu entrei e aqui fiquei, pois não encontrei lugar melhor nessa vida que a União do Vegetal, porque a União do Vegetal é o equilíbrio… Ande por onde andar, se a pessoa tiver a União com ela, se encontra com o equilíbrio”.
Em 1977, Conselheiro Baiano auxilia a localizar os familiares do Mestre Gabriel na Bahia. Naquele ano, o então Mestre Raimundo Nonato Marques falava da existência de um irmão do Mestre Gabriel, Antônio Gabriel, que morava em Feira de Santana (BA). Ele sabia que uma pessoa que bebia Vegetal em Porto Velho, desde a época do Mestre Gabriel, Avelino Santana, o Baiano, conhecia uma pessoa em Feira de Santana que, por sua vez, conhecia alguém da família. Após uma viagem à Porto Velho, graças ao auxílio do Conselheiro Baiano, Raimundo Nonato voltou com o contato para localizar os familiares de origem do Mestre Gabriel.
–
*Texto elaborado a partir de informações recolhidas pelo Coordenador do Departamento de Memória e Comunicação (DMC) da 1ª Região, Conselheiro Walter Badaró (Núcleo São Miguel – Porto Velho- RO).