Orientação Espiritual com crianças e jovens deve começar em casa

Flávio Gut*

| 25 junho, 2018

O responsável pela Orientação Espiritual com Crianças e Jovens do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (OE), Mestre Almir Nahas (foto abaixo), explica que a prioridade no triênio 2018/2021 será trabalhar para criar condições a fim de que os pais, em casa, no dia a dia, possam dar uma boa orientação espiritual a seus filhos, através de seus exemplos e de sua convivência. Mestre Almir Nahas acrescenta que entre as metas da Orientação Espiritual estão o fortalecimento dos laços de família e de amizade entre as famílias, a integração da OE com os departamentos do Centro e a difusão da boa arte e boa cultura.

Na entrevista a seguir, concedida ao Blog da UDV, relata as ações que já estão sendo desenvolvidas e os desafios para a orientação espiritual de crianças e jovens em um mundo hiperconectado.

Que tipo de ações são desenvolvidas?

Desde o início da União, Mestre Gabriel mostrou sua atenção e cuidado com seus filhos. Junto com Mestre Pequenina trabalhou sempre trazendo seus filhos, para implantar a União do Vegetal e reunir outras pessoas e suas respectivas famílias. Nosso Mestre sempre deu atenção a crianças e jovens, começando em sua casa, tratando atenciosamente, esclarecendo e orientando, mostrando o caminho do bem viver.

As famílias do início, os primeiros irmãos e seus filhos e netos, constituem os principais troncos desta frondosa árvore que se tornou o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal, que cresce constantemente, com a chegada de novas famílias, e o crescimento do número de filhos e de filhos dos filhos, ocupando lugares de responsabilidade.

O que a OE está fazendo, inserida no Departamento de Instrução e Doutrinação Espiritual, é realizar centenas de atividades, ao longo de dez anos de trabalho que veio sendo sistematizado, atividades dirigidas a crianças e jovens, como parte da programação cotidiana dos Núcleos. Atividades recreativas, integradoras, que promovem a amizade entre crianças e jovens, o despertar para a espiritualidade por meio da ligação com a natureza, o incentivo ao reconhecimento do Bom e do Belo nas artes. Ensinando a prática do Bem através da integração com a Beneficência, o Plantio, a Novo Encanto.

Existem registros organizados, na memória da OE, de muitas atividades bem-sucedidas, que estão dando bons resultados já há alguns anos. Entrevistas, relatos de experiências de Mestres e pessoas mais antigas mostrando sua trajetória na União, Encontros de Jovens, excursões, encontros de pais e famílias, mostras de arte, oficinas de culinária, existe um vasto repertório de atividades que estão catalogadas e disponíveis em Cadernos de Atividades, num e-book que foi lançado faz poucos meses e no site da OE, que está prestes a ser relançado. Há muito trabalho já realizado e muitos sendo desenvolvidos com amor por nossas crianças e jovens, a serviço das famílias sócias do Centro.

E como fazer com que os pais sejam realmente responsáveis por essa orientação?

Os pais já são naturalmente responsáveis. O que se faz necessário é alertar para essa realidade. Existe uma tendência cultural, especialmente na sociedade brasileira, de pais terceirizando a educação de seus filhos. Para a escola, para a TV, para a internet, para os grupos de amigos e até para a UDV. Mas nós, filiados à UDV, temos a missão de trabalhar pela construção de um mundo melhor. E faz parte disso manter os bons costumes e mudar aqueles que colocam a família em risco.

É óbvio que os pais são os responsáveis pela educação e formação de seus filhos, para que se tornem cidadãos de bem, que tenham o Amor a Deus em seu coração e que possam se comprometer, ao longo da vida, com a prática do Bem, vivendo em equilíbrio e harmonia. Todos os pais querem a felicidade para seus filhos, e lutam por isso.

A terceirização é um desvio que estamos combatendo desde sempre na UDV, mas que mais recentemente se tornou uma prioridade. Então, em todos os Núcleos, em diversas oportunidades e de diversas formas, estamos auxiliando os pais a honrarem com sua responsabilidade, inclusive promovendo, nas nossas escalas aos sábados e também em outras oportunidades, atividades realizadas pelos pais ou junto com eles, e semeando a prática da orientação espiritual dentro dos lares, inclusive propondo práticas e atividades que possam ser desenvolvidas habitualmente entre pais e filhos. A presença amorosa e insubstituível dos pais com os filhos, tendo firmeza para ensinar o respeito, a obediência e outros valores reais que trazem dignidade ao ser humano adulto, é fundamental para o crescimento espiritual.

Como os dirigentes podem contribuir para a orientação dos pais e, consequentemente, de seus filhos? Os jovens hoje em dia estão expostos a uma grande variedade de estímulos e informações. Como trazer aos pais as informações que permitam a eles conduzir seus filhos em um caminho espiritual?

Temos ouvido há muito tempo o Mestre Geral Representante, não apenas neste mandato, doutrinando sobre isso. Foi o Mestre Braga (Raimundo Carneiro Braga), enquanto Mestre Geral Representante, que incentivou e determinou a elaboração do Guia de Orientação Religiosa, um livro de autoria do Mestre Ruy Fabiano Rabello (Sede Geral–Brasília-DF) e que está na base do trabalho desenvolvido a partir daí pela hoje chamada Orientação Espiritual com Crianças e Jovens. Mas ainda antes do Guia, em alguns Núcleos e na Sede Geral, a Direção já se ocupava de realizar um trabalho sistemático e organizado de orientação a pais, jovens e crianças.

O maior desafio é a internet e o mundo hiperconectado?

Atualmente, a família enfrenta sérios desafios. A internet e a indústria cultural de maneira geral, mas também a escola e outros ambientes e instituições sociais, estão impregnados de ideias que promovem a destruição de virtudes morais, intelectuais e espirituais. Misturando boas informações, boa cultura e arte e conhecimentos edificantes, a internet divulga muito lixo e muitas ideias demoníacas, frequentemente disfarçadas de modernidade, de flexibilidade e de liberdade. Os primeiros a estarem ligados a essa triste realidade somos nós, os dirigentes.

Infelizmente a pornografia, a banalização do sexo e do erotismo, a pedofilia e a manipulação ideológica de valores naturais e universais estão invadindo lares, destruindo famílias e levando dúvidas a mentes e corações de adultos, jovens e crianças. O crescimento da União do Vegetal fez com que também nossas famílias estejam sujeitas a perigos, a modismos e à inversão de valores. Nós dirigentes temos de lidar com essa realidade, e mesmo não tendo respostas para todos os assuntos, precisamos conversar sobre isso, entre nós, estudar, procurar nos informar o suficiente, para poder transmitir orientação segura e amorosa para pais e filhos.

Devemos, o quanto antes como sempre fizemos, combater o preconceito de todo tipo, mas devemos buscar, mantendo sempre o respeito a todas as pessoas, ter cada vez mais segurança e clareza em relação ao que é errado e o que é certo. E auxiliar nossos irmãos a distinguir um do outro. E hoje isso não é tão fácil, requer vigilância, atenção e busca de conhecimento. Não devemos temer os assuntos difíceis, mas devemos tratar deles com o cuidado e a profundidade que merecem, para que nossas famílias saibam se defender.

Como falamos, os jovens estão expostos diariamente às influências das redes sociais. Consumismo, ideias radicais, drogas estão presentes na vida deles e se apresentam como caminhos mais fáceis. Como trazer aos jovens uma consciência mais clara? Mostrar o caminho espiritual como a verdadeira alternativa para uma vida mais feliz?

Um ser humano que não compreende o que significa o mundo espiritual vive a esmo, sem saber para onde vai.  Quanto antes a criança entender que é um espírito, que existe a lei do retorno e que é preciso fazer boas escolhas na vida para ter bons resultados, ela se torna, alguns muito cedo mesmo, a protagonista de sua vida. Uma criança criada por pais que procuram seguir a Deus, seja em ambientes sociais, seja na intimidade do lar, tende a seguir esse bom exemplo. O jovem procura fazer escolhas conscientes, cuidadosas, prestando atenção ao que tem como objetivos em sua vida.

Nós temos um grande contingente de crianças e jovens inteligentes, ativos, capazes e muito interessados no conhecimento espiritual. E temos um grande contingente deles que ainda está sendo cativado para a espiritualidade. E esse cativar se faz por meio das sessões com jovens e crianças, do trabalho de cativar, de se tornar amigo de cada criança e cada jovem.

Se temos em nosso meio uma boa receptividade para crianças e jovens, sejam os que nasceram já em famílias da UDV, seja os que chegaram já com alguma idade, adolescentes ou jovens, conhecer cada jovem é o caminho para ter a confiança deles. Todos precisam de orientação, e os jovens também. Sendo pessoas de confiança deles, a Direção pode fazer o trabalho de alertar para o perigo das drogas, da pedofilia, da sensualização precoce (muito presente na moda, na música ou nas redes sociais, onde meninos e meninas são incentivados a expor o corpo e fazer poses sensuais, por exemplo).

E ao se iniciar este trabalho quando criança, é mais fácil orientar na adolescência. Isso é o que temos visto ao longo do tempo em nossos Núcleos. Mas sempre é tempo de entender, pegar o rumo certo e seguir a linha da UDV. Todos nós chegamos um dia, fomos aceitos e começamos a corrigir nossa vida para encontrar a verdadeira facilidade.

Com as crianças, qual trabalho vem sendo desenvolvido nos Núcleos? Existe uma prática que permita mostrar a presença de Deus, ou a ideia de um Deus amigo? Como fazer com que essas crianças se tornem jovens mais alertas?

O principal trabalho com as crianças é o de valorizar o potencial que trazem com elas. Infelizmente a educação predominante acaba tolhendo a espontaneidade e inibindo o potencial criativo de boa parte das crianças. Desde o nascimento, uma criança mostra a que veio ao mundo, e isso nos encanta. A arte de incentivar a beleza, a alegria, a pureza de sentimentos que vem com cada criança, permitindo desabrochar o potencial que vem com ela quando desperta para a vida, esse é um aspecto essencial de quem cria e educa. Claro que todos precisam de incentivo, carinho, direcionamento, segurança.

Nos primeiros anos, o ambiente doméstico exerce grande influência no adulto que essa criança será um dia. Se esses cuidados são recebidos por pais que se respeitam e se amam, a criança tem facilidade de ver Deus como um amigo, porque vê Deus em seu lar, na fluência do Amor, da Paz e Harmonia, na prática cotidiana do Bem. As atividades da OE se propõem a ser uma extensão disso. Assim, o trabalho do Departamento de Instrução e Doutrinação Espiritual, exercido pelo Quadro de Mestres e auxiliado pelo Corpo do Conselho, principalmente nas sessões, chega aos filhos dos sócios através de atividades desenvolvidas com amor e carinho pelos voluntários da OE.

Um dos indicativos de que o trabalho vem sendo benfeito há muito tempo é o expressivo número de dirigentes do Centro que fazem parte da irmandade desde que nasceram, e o numeroso contingente de famílias que chegam e encontram na UDV o apoio e a orientação necessária para se manter unidas e fortalecidas, contribuindo para a construção de um mundo de Paz. Assim como toda a UDV se organiza gradativamente de acordo com a necessidade de cada período de sua história, isso está em marcha também na Orientação Espiritual com Crianças e Jovens.

*Flávio Gut é integrante do Corpo Instrutivo do Núcleo São João Batista (Mairiporã-SP).