Em São Paulo, nasce o Núcleo Samaúma
* João Marcelo Cassis Mathor
| 2 Dezembro, 2015
Em 1972, o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal tinha atividades em apenas dois locais: a Sede Geral, em Porto Velho (hoje Núcleo Mestre Gabriel); e o Núcleo de Manaus (hoje Núcleo Caupurí). Em maio daquele ano, Nielson Menão e a então sua esposa, Maria Ivone de Castro Menão, beberam Vegetal pela primeira vez em Manaus numa sessão de adventícios.
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Com mudança marcada no mês seguinte para São Paulo, o casal manifestou a disposição de continuar bebendo o Chá nessa cidade. Ao mesmo tempo, Nielson pediu autorização ao Mestre Florêncio, conhecido na época como Mestre Cruzeiro, para convidar um amigo seu de São Paulo, o ator Kito Junqueira, a beber o Vegetal em Manaus.
Mestre Cruzeiro autorizou e em 26 de junho de 1972, o casal, Kito e ainda mais três integrantes de um grupo teatral paulista beberam o Chá: Nilda Toniollo, Helena Villar e Jovelti Arcângelo. No dia seguinte, todos viajaram para São Paulo, levando um litro de Vegetal entregue por Mestre Cruzeiro à responsabilidade de Nielson, para beberem quando tivessem necessidade.
Quando chegaram, falaram do Chá ao amigo de nome Mário Ricardo Piacentini, conhecido como Marinho. Mas avisaram que se ele quisesse beber teria de ir até Porto Velho, pois não tinham autorização para dar o chá para outras pessoas.
Marinho e Nielson viajaram para Porto Velho e beberam o Vegetal no dia 22 de julho de 1972. Quando voltaram para São Paulo, trouxeram mais alguns litros de Vegetal e resolveram se organizar para começar a seguir aquela nova religião que conforme os que já participavam dela diziam, era para “acordar o espírito”.
Os primeiros que beberam o chá em São Paulo, além dos já citados, foram outros amigos que participaram do grupo de teatro, entre eles: Fábio, Arley, Joel, Joana, Castelo, Paulo, Cuja e Heloá. As primeiras sessões em São Paulo aconteceram nas casas dos participantes e eles costumavam ouvir música após beber o chá.
“Quanta Samaúma!”
Mestre Hilton Pereira Pinho (um dos dirigentes formados pelo Mestre Gabriel), veio a São Paulo e auxiliou na organização do grupo. Ensinou algumas chamadas e auxiliou a criar a diretoria e o registro do núcleo em cartório, que precisava de um nome. Quando o Mestre Hilton chegou a São Paulo, viu muitas paineiras (que são da mesma espécie da Samaúma da Floresta Amazônica). Ele andava pela cidade e dizia: “Este é um tipo de Samaúma, quanta Samaúma!”. E assim, na hora de escolherem um nome, escolheram Núcleo Samaúma.
O Mestre Geral Representante da UDV na época, Raimundo Monteiro de Souza, autorizou a abertura do Núcleo. No dia 10 de setembro de 1972, precisamente às 18 horas, o Núcleo Samaúma foi fundado, sendo Nielson Menão designado o seu primeiro Mestre Representante. Mais a frente, a Administração Geral, em Porto Velho, confirmou a autorização da criação do Núcleo Samaúma. Nielson não está mais na União do Vegetal e Ivone é conselheira no Núcleo Luz do Oriente (Brasília-DF).
Mário Piacentini
A partir de então passou-se a realizar sessões de escala regularmente na propriedade do discípulo Mário Arnaldo Piacentini (pai de Marinho) que veio a beber Vegetal pela primeira vez em janeiro de 1973. Depois chegou ao Quadro de Mestres. Ainda no lugar de conselheiro, Mário Piancentini ficou como responsável pela Distribuição do Vegetal para o grupo. Mestre Mário já desencarnou e é um dos responsáveis pela consolidação do Núcleo Samaúma.
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Mestres da região Norte eram convidados para vir a São Paulo e trazer ensinamentos e esclarecimentos sobre a doutrina da UDV. As visitas dos mestres foram bem importantes, pois eles traziam informações de como dirigir a UDV.
Mestre Paixão
Alguns desentendimentos gerados pelas diferenças culturais levaram a um período de suspensão das atividades do núcleo em 1976. Em 29 de julho de 1978, Mestre Raimundo Pereira da Paixão (outro dirigente formado por Mestre Gabriel) chegou a São Paulo com sua família e a incumbência de reorganizar o Núcleo Samaúma. Em primeiro de novembro de 1978, recebeu a autorização da reabertura oficial do núcleo.
Em alguns meses, o Mestre Paixão fez as pessoas sentirem o dever de construir um local próprio para beber o Vegetal. Disse que se fosse preciso suspenderia as sessões até que se tivesse um local próprio. Em setembro de 1979, o Mestre Mário Piacentini e Else Angélica Piacentini Medeiros doaram um terreno de 10 mil m2 em Araçariguama (SP) e ofereceram um outro local para se beber o chá, vizinho ao terreno, até então bebia-se o vegetal em Cotia-SP.
Templo
Iniciou-se então um grande esforço concentrado para angariar fundos e construir o templo em Araçariguama. Foram muitas feiras, festas, jantares e almoços beneficentes, além de outras atividades que produzissem algum lucro. Terminada a construção do templo, este foi inaugurado em fevereiro de 1982.
Assim, o Núcleo Samaúma iniciou sua expansão, com a construção de uma casa de preparo e demais dependências. Novos sócios foram chegando e, com seu crescimento, alguns núcleos foram desmembrados, iniciando um processo de expansão da União do Vegetal pelo sul do país. Hoje com 43 anos de história, o Núcleo Samaúma segue crescendo e sendo uma referência entre os Núcleos da UDV.
*João Marcelo Cassis Mathor é integrante do Corpo Instrutivo do Núcleo Samaúma (Araçariguama-SP)
Pesquisa das fotos históricas: João Marcelo Cassis Mathor.