Mestre Monteiro: um Conselheiro Pacificador
| 30 Março, 2021
João Bosco de Queiroz*
José Emerson de Queiroz**
“O amor é o bálsamo que cicatriza todas as feridas e ergue os caídos”
A história da União guarda uma grande semelhança com a história que lemos ou ouvimos do Novo Testamento, cujo tema central é a vida e a mensagem de Jesus, com diversos personagens que se destacam e que foram peças determinantes e fundamentais na divulgação, consolidação e expansão do Cristianismo. Fazendo um paralelo da história do cristianismo primitivo com a história atual da nossa religião, também iremos encontrar pessoas que têm uma grande importância e responsabilidade pela divulgação, consolidação e expansão da União do Vegetal na Terra. Uma dessas pessoas se chama Raimundo Monteiro de Souza ou Mestre Monteiro, como é mais conhecido na nossa religião. Que pela sua história, grandeza e importância, homenageamos nesta data, em que inteira 87 anos de uma intensa vida, toda ela dedicada a família como um homem responsável e, grande parte dela, dedicada a União do Vegetal como discípulo, Mestre (apóstolo), conselheiro e pacificador.
O Homem
Raimundo Monteiro de Souza nasceu no dia 30 de março de 1934, em Humaitá (AM), filho de Lindolfo Monteiro de Souza e Zulmira Monteiro de Souza, irmão de Luiza Monteiro e Emanuel Monteiro. Criado em um ambiente religioso, ainda criança, com apenas seis anos de idade, perdeu a mãe e foi criado pelo pai, homem trabalhador, honesto, disciplinado e de caráter, que moldou na sua personalidade virtudes que o fez ser uma pessoa séria, íntegra, cumpridora de seus deveres, obediente as leis e responsável em tudo que faz.
Desde cedo, mostrou um apurado senso de responsabilidade e isso fez com que muito jovem começasse a trabalhar para auxiliar seu pai, que era um migrante nordestino e havia se tornado um soldado da borracha. Assim, do primeiro trabalho como servente de pedreiro, através do esforço e do estudo, poucos anos depois conseguiu ingressar no serviço público como office-boy e por conta da dedicação e de muito esforço, foi obtendo promoções, chegando a ser presidente da comissão de sindicância, tendo participado de comissões de inquérito; desempenhou também alguns cargos de confiança; exerceu o cargo de assessor e chefe de gabinete de dois governadores militares; trabalhou ainda como almoxarife, na Secretaria de Educação; foi chefe da seção de estatística; inspetor escolar itinerante e professor do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL); e em Brasília trabalhou no Ministério do Meio Ambiente.
Por ser uma pessoa bem intencionada e extremamente responsável, assim que teve condições, procurou constituir uma família para ter um apoio e mais segurança na vida, assumindo desse modo a responsabilidade de um lar. Casado com Zilda Felícia da Costa Monteiro de Souza e pai de José Monteiro, Jair Monteiro, Leila Suely, Adônis, Nágela, Raymisson, Raílson e Ariadne; é também avó de cinco netos e uma neta que alegram e embelezam sua vida.
Procurando um ambiente aonde pudesse se sentir plenamente integrado com Deus, buscou conhecer o Catolicismo, a Umbanda, o Kardecismo, o Esoterismo e a Maçonaria, onde ascendeu a alguns níveis hierárquicos, chegando ao grau 18. Mesmo passando por diversos lugares nessa busca espiritual, sentia que não havia ainda encontrado o seu lugar. E esse sentimento foi o que fez, aos 32 anos de idade, querer conhecer um local e um homem que mudaria para sempre o seu destino e marcaria profundamente o íntimo do seu ser.
O filósofo Aristóteles ensinava que “o nosso caráter é o resultado da nossa conduta” e observando a conduta de vida do Mestre Monteiro, podemos reconhecer nele um homem de moral, de boa índole, honrado, correto, digno, com uma personalidade forte e marcante. Um homem de caráter, que teve e tem uma existência dedicada ao trabalho, a família, a religião, sempre cumprindo exemplarmente seus deveres profissionais, familiares e religiosos, trabalhando incansavelmente para prover o sustento e o conforto do lar e para proporcionar paz e harmonia aos discípulos dessa Sagrada Religião.
O Discípulo
Como sempre foi um buscador das coisas espirituais, tendo andado por diversos lugares à procura de saciar a sede de conhecimento, sabia intimamente que um dia haveria de encontrar um lugar onde se sentisse plenamente realizado. E ao conhecer a União reconheceu que havia chegado aonde poderia descobrir todas as respostas que buscava para suas dúvidas existenciais e encontrar o conhecimento espiritual que tanto almejava.
“Professor Raimundo”, como era conhecido e foi apresentado ao Mestre Gabriel, chegou à UDV em 4 de setembro de 1966, trazido por um conhecido seu chamado José Silva de Figueiredo Martins (Zé do Óculos). Naquele dia, participou pela primeira vez de uma Sessão do Vegetal, e aquela Sessão marcaria para sempre o seu espírito e determinaria sua caminhada espiritual nesta existência. Sua procura por um lugar religioso havia terminado e a busca pela paz da consciência, com as respostas às inquietações do espírito, estava apenas começando. Lembra-se que o que mais lhe chamou a atenção naquele dia foi a firmeza do olhar do Mestre Gabriel e que aquele encontro foi o acontecimento central de sua existência. Compreendeu, a partir da convivência com ele, que estava na presença de um sábio, de um Mestre, de um guia espiritual e que tudo que havia passado foi apenas uma preparação para aquele grande momento da sua vida. Sem muitos questionamentos ou dúvidas, quanto as palavras daquele a quem escolheu para acompanhar na missão, procurou obedecer às suas orientações, aprender sua doutrina e praticar seus ensinamentos.
Para um dia realizar a tarefa de conduzir o povo no caminho da salvação e cumprir com a responsabilidade quando fosse para isso chamado, procurou prestar o máximo de atenção a oratória do Mestre Gabriel e a seguir seu exemplo de vida, conseguindo, dessa maneira, se preparar para a missão que lhe foi confiada. Antes de partir deste plano, o Mestre Gabriel fez um teste, que demonstrou claramente o sentido de responsabilidade e a obediência que o Mestre Monteiro tinha por ele: pediu a ele, no dia 22 de julho de 1971, para dirigir a Sessão e contar a história da Hoasca, mesmo sabendo que estava com um filho doente e hospitalizado e se encontrava muito preocupado com aquela situação; Mestre Monteiro procurou obedecer e não fugir de sua responsabilidade e cumpriu com aquilo que o Mestre havia lhe pedido: contou a história e dirigiu a Sessão. Vencido o teste, mostrou que era digno de confiança para ser o seu representante quando não estivesse mais presente em matéria.
Como a responsabilidade sempre foi e é uma característica marcante do seu caráter, durante sua caminhada recebeu, em 11 de junho de 1969, o título de Mestre pela responsabilidade, e este grau que adquiriu fez nascer em seu coração um sentimento de amor por todos que precisam de Luz e gravou na sua consciência o compromisso e a responsabilidade pela União do Vegetal.
O Mestre apóstolo
Se entendermos como Discípulo toda pessoa que aprende de alguém ou que segue os ensinamentos de um Mestre, podemos definir que apóstolo é todo aquele que é mandado em uma missão, que prega a mensagem, que é um missionário. Nesse sentido, o Mestre Monteiro, além de discípulo do Mestre, é também um dos seus Mestres apóstolos, pois após o desencarne do Mestre Gabriel, nunca deixou de transmitir seus ensinamentos, andando por todos os lugares aonde foi chamado para pregar e propagar a palavra do grande Mestre e transmitir sua mensagem de paz.
Como um apóstolo missionário, que é preciso pregar fora de seu local de origem, assim fez quando se mudou de Porto Velho para Brasília, de lá para residir no Rio de Janeiro, também quando foi morar no Acre, no Piauí e em outros lugares; ao viajar por todo o país e pelo exterior, sempre na missão de levar ao povo palavras de esperança e conforto, dando o melhor de si, na certeza de estar retribuindo a confiança depositada pelo grande Mestre e pelas pessoas, na realização de seu trabalho espiritual.
Assim como o apóstolo de Jesus, Paulo de Tarso, que através de visitas e cartas orientou e consolidou nas igrejas nascentes o cristianismo original, Mestre Monteiro também visitou os lugares mais distantes para levar uma palavra de conforto, fé e esperança aos Núcleos que estavam nascendo; seguindo ainda o exemplo do apóstolo do Cristo, também escreveu diversas cartas aos Núcleos aconselhando, ensinando e orientando as pessoas como deveriam seguir nesse caminho de Luz, Paz e Amor.
Da mesma maneira que os apóstolos de Cristo passaram por diversas aflições e sofreram incompreensões no cumprimento da missão, assim também aconteceu com o Mestre Monteiro, que cruzou alguns momentos difíceis e delicados durante sua caminhada, pela incompreensão daqueles que ainda não conhecem, verdadeiramente, o valor e o trabalho da União do Vegetal. Semelhante aos apóstolos de Jesus que venceram todos os obstáculos e realizaram o trabalho, do mesmo jeito o Mestre Monteiro superou as adversidades, vencendo as dificuldades e hoje permanece com a consciência tranquila e serena por estar cumprindo sua missão.
Para ilustrar, podemos citar um destes momentos difíceis: no início da década de 70, a União foi fechada por ordem do chefe de polícia, e o Mestre Monteiro, como presidente do Centro e confiando no Grande Mestre, moveu uma ação contra o governo, colocando em risco seu cargo de funcionário público federal, uma vez que pelo estatuto do servidor público, era proibido ao funcionário se manifestar judicialmente contra o Estado. Não foi apenas uma vitória pessoal de um funcionário público, mas a conquista de um direito sagrado de frequentar uma religião, conseguida por um dos apóstolos do Mestre, que mostrou, com essa atitude, que é possível corrigir uma injustiça quando se tem compromisso com a verdade. Esse exemplo, demonstra uma participação ativa desde o início da União na luta pela legalização do uso ritualístico do Chá e serviu de inspiração, esperança e certeza de vitória, quando, posteriormente a União teve que provar na Suprema Corte americana que é uma religião séria, cristã e que pode transformar o indivíduo em um ser humano melhor.
O Conselheiro Pacificador
Existe um ditado antigo que diz que “o melhor conselheiro do homem é a sua consciência” e isso pode ser comprovado quando encontramos pessoas que têm consciência daquilo que fazem na vida e que por esta razão também são capazes de aconselhar o seu semelhante. O Mestre Monteiro é uma dessas pessoas. Sabendo como se conduzir, pensando no próximo e procurando uma maneira de orientar as pessoas para que evitem sofrimentos e possam viver em paz, o Mestre Monteiro um dia mandou uma carta ao Mestre Cruzeiro (Florêncio), que estava de mudança de Porto Velho para Manaus, com orientações e conselhos de como ele deveria se comportar e dirigir a União do Vegetal em um local distante, sem a presença do Mestre Gabriel. Pelo conteúdo da carta, lida em uma Sessão, a mando do Mestre Gabriel, que perguntou: “quem pode dizer que não é um Conselheiro Oriental?”, o Mestre Monteiro foi escalado para dirigir a Sessão seguinte e foi convocado ao Corpo do Conselho Oriental.
Essa força do Conselho, aliada a serenidade em sua vida, fez com que conseguisse pacificar e resolver diversas situações enfrentadas pelo Centro ao longo de todo esse tempo. São diversos acontecimentos que se apresentaram, em que a força da pacificação se fez presente através de sua presença e de seus conselhos. Podemos dizer que após o desencarne do Mestre Gabriel, a União ficou sem um superior, sem um substituto ou alguém que pudesse representar o Mestre. Naquela ocasião, o Mestre Monteiro foi escolhido para liderar o grupo, serenar os ânimos e conduzir o rebanho; noutra oportunidade, quando houve a mudança da Sede Geral de Porto Velho para Brasília, no ano de 1982, devido alguns atritos de compreensões, novamente o Mestre Monteiro foi eleito para pacificar as coisas e iniciar essa nova fase da União do Vegetal, com a Sede Geral agora distante de Porto Velho. Na década seguinte, depois de uma situação que gerou uma intranquilidade nos filiados do Centro, o Mestre Monteiro volta a ocupar o cargo de Mestre Geral Representante para tranquilizar a irmandade e conduzir a União dentro de um clima de paz e harmonia. Eis uma das razões pela qual o Mestre Braga sempre dizia: “o Mestre Monteiro é uma das pessoas responsáveis pelo vegetal na terra”.
Isso pode ser comprovando quando verificamos que o Mestre Monteiro já foi tesoureiro, Vice-Presidente, Presidente, Mestre Representante, Mestre Central e por cinco vezes ocupou o cargo de Mestre Geral Representante, que é a autoridade máxima do Centro. Além disso, é fundador e presidente honorário da Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico, autor de diversos boletins, inclusive alguns que são lidos em todas as Sessões de Escala; idealizador da logomarca da UDV (o Sol, a Lua e a Estrela), usada em todos os documentos oficiais do Centro; autor de uma chamada; e responsável pela criação de alguns órgãos que ainda hoje fazem parte da estrutura organizacional e espiritual da União do Vegetal. Por tudo isso, e muito mais que não está escrito aqui, o Mestre Gabriel profetizou à Mestre Pequenina: “vamos cuidar bem desse professor que ele vem ser um homem importante para a União do Vegetal”.
Por todos os lugares que andou, ao chegar a todos os cargos que ocupou e todas as vezes que foi chamado para cumprir um trabalho, seja ocupando um cargo de liderança ou de responsabilidade, o Mestre Monteiro sempre se portou como um conselheiro, um orientador, um pacificador; sempre teve sua vida pautada por uma conduta correta, serena e pacífica. Ao dirigir uma Sessão, participar de uma entrevista, conversar com os irmãos, sua presença transmite calma, serenidade e uma paz, frutos de um coração tranquilo e da consciência do dever cumprido.
Conhecendo melhor o Mestre Monteiro, fica fácil compreender o que Jesus ensinou no sermão da montanha, quando disse: “bem aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus”. Feliz de quem tem um lugar onde possa ouvir conselhos orientais de pessoas pacíficas. Bendito o lugar que tem bons conselheiros pacificadores. A União é esse lugar bendito e possuímos a felicidade de termos o Mestre Monteiro entre nós, um bom filho de Deus sempre ensinando, orientando, aconselhando e pacificando a nossa alma e fortalecendo o nosso espirito.
*João Bosco de Queiroz é Mestre Assistente Central da 10ª Região do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
**José Emerson de Queiroz é Mestre Assistente Geral do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.