Homenagem a um homem de paz
| 31 julho, 2020
Solidei Ferreira Lima*
“Mestre Adamir é uma pessoa que não se bate nem com uma flor.”
Mestre Gabriel
“Os Mestres sempre devem estar prontos pra atender os discípulos.”
Mestre Adamir
É uma satisfação poder comemorar hoje esta data especial, aniversário de nosso saudoso Francisco Adamir de Lima, o Mestre Adamir, um pacato cidadão brasileiro, nordestino do Ceará, pessoa de fino trato e inúmeras qualidades positivas em sua personalidade intuitiva e repleta de virtudes, dotado de uma sensibilidade sem igual.
Esta singela homenagem se estende à irmandade do Núcleo Mestre Adamir, que hoje também faz aniversário, comemorando 18 anos. Nosso reconhecimento a este Núcleo que tem essa nobre missão de levar adiante o nome desta pessoa querida por tantos, e assim desempenhar este trabalho bonito de cuidado de um ponto de Luz na terra, palavras ditas por ele mesmo, quando em visita ao local, em Teresina, no Piauí.
Vocação e missão
Na década de 60, Francisco Adamir de Lima embarcou em uma viagem com destino a sua verdadeira vocação e missão. Estava movido por um espírito empreendedor, na busca por melhores oportunidades, guiado por uma intuição de um dia chegar a desvendar o que lhe direcionava a este caminho, o tão sonhado “cinema de índio” (Chá Hoasca) e suas maravilhas, que ouvira desde menino, lembrança viva em sua memória.
Ele partiu do Ceará e ingressou em uma árdua caminhada pelo Sul do país. Logo depois, viajou para o Norte, com uma breve passagem por Belém (PA), indo depois até Rondônia, lugar que lhe trouxe tantos encantos e maravilhas em sua jornada, entre elas a oportunidade de, em 1969, conhecer a União do Vegetal, um marco em sua vida.
Com apenas um ano e quatro meses que havia chegado à UDV, recebeu do próprio Mestre Gabriel a Estrela de Mestre, sendo um dos 22 Mestres formados por ele. Buscou sempre zelar pelos ensinamentos recebidos e trabalhou incansavelmente pela obra do Mestre. Sua desenvoltura no aprendizado lhe proporcionou aperfeiçoar alguns dons, dentre eles um profundo conhecimento sobre as plantas medicinais – com destaque para os Nove Vegetais –, sabendo a real indicação e a aplicação para inúmeras curas.
Outro dom muito interessante era o de decifrador de sonhos, uma qualidade que demonstrava também sua sensibilidade. Após sua “viagem ao alto”, em 2001, algumas pessoas chegaram a relatar terem sonhado com ele e recebido orientações, ou até mesmo avisos de guarnição.
Caminhada
Podemos elencar alguns fatos importantes ao longo de sua caminhada na UDV. Em 1º de novembro de 1970, na eleição para a segunda diretoria, Francisco Adamir de Lima foi eleito presidente, ainda no grau de Conselheiro, conforme anunciado pelo Mestre Gabriel: “aquele em que eu votar será o eleito, e por um voto”. O que de fato aconteceu. Era ele, portanto, o presidente quando, em 10 de agosto de 1971, a União do Vegetal registrou seu novo estatuto, incluindo entre seus artigos o uso do Chá Hoasca e adotando a atual denominação de Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
Pouco tempo depois, Mestre Adamir viajou ao Rio de Janeiro com o Chá Hoasca, no intuito de levantar mais informações científicas acerca de suas propriedades e seus efeitos, procurando o Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Podemos, portanto, considerá-lo um dos pioneiros dos trabalhos de pesquisa científica a respeito do Vegetal.
Na análise realizada pelo Instituto, foi encontrada a substância Harmalina. Na época, ele perguntou ao pesquisador o que era essa substância, e lhe foi dito que “ela traz paz, alegria e felicidade para as pessoas”. Anos depois, este mesmo pesquisador afirmou, em artigos científicos, que a Harmalina é um antidepressivo natural.
Zelo e sensibilidade
“O primeiro pensamento é o positivo”
Mestre Adamir
Por sua sensibilidade, Mestre Adamir sempre teve um cuidado com as palavras na condução de uma Sessão, de um Preparo ou até mesmo em uma mensagem de Mariri. Ele não deixava penetrar nenhuma palavra que não estivesse em harmonia: se ele sentisse algo nesse sentido, buscava corrigir imediatamente. E utilizava esse conhecimento também para o auxílio de quem o procurava.
Em suas administrações, fundamentava sua doutrina na valorização da família, do trabalho e da religião. Ele dizia que esses três pilares são fundamentais para equilibrar a vida de uma pessoa. Era um pai exemplar em todos os sentidos: carinhoso, acolhedor, sério, atencioso e enérgico quando era preciso; sempre ao lado de sua cabocla, Conselheira Conceição Ferreira Lima, uma mulher de fibra que sempre esteve ao seu lado cuidando dos cinco filhos (Alkimir, Nociley, Solidei, Adamira e Natália).
O casal teve a oportunidade de ter um bom convívio com o Mestre Gabriel e sua família, auxiliando em tudo que podia. Por essa ligação é que o Mestre Gabriel os escolheu para serem compadres, padrinhos do seu filho Benvindo Gabriel.
Mestre Adamir contava que desde sua primeira Sessão já teve o pensamento de permanecer na UDV. Ele pôde presenciar, nessa primeira Sessão, através da Luz do Vegetal, todo o relato da história trazida naquele dia pelo Mestre Raimundo Carneiro Braga, confirmando ter encontrado o “cinema de índio” que tanto buscava conhecer.
Dali em diante, sempre se fez presente em todas as Sessões, Preparos, reuniões e mutirões, seguindo um conselho do próprio Mestre Gabriel: – Seu Adamir (como ele o chamava), o bom mesmo é a gente trabalhar com as próprias mãos para se ter amor à obra. Conselheira Conceição relata que era raro o dia em que Mestre Adamir não saía mais cedo de seu comércio em Porto Velho para ir à casa de Mestre Gabriel, tal era sua ligação com ele.

Realizações
Na década de 70, Mestre Adamir decidiu mudar-se com sua família para a cidade de Jaru (RO), fundando neste local o Núcleo Mestre Rubens, onde foi Mestre Representante por mais de uma década.
Durante este período, visitou diversos Núcleos no Brasil, levando mensagens de Mariri e Chacrona, e muitas vezes também o próprio Chá Hoasca, além de mudas dessas duas plantas e dos Nove Vegetais.
No Jarú, Mestre Adamir formou um acervo botânico, voltado para atender à União do Vegetal. Ele chegou a ter uma área de terra somente para o plantio e cultivo dessas plantas, chamado Chacronal Sol Nascente, cuidado e cultivado por sua própria família.
Ainda no Núcleo Mestre Rubens, outro marco importante, no ano de 1987, foi a realização do primeiro Encontro do Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel.
Mestre Adamir já tinha esse pensamento há alguns anos, de reunir os Mestres formados pelo Mestre Gabriel para tratar dos ensinos recebidos por eles, no sentido de se preservar sua fidelidade. A partir desse encontro, foi aprovada a criação deste Conselho, a quem cabe zelar pela unidade e fidelidade doutrinária na União do Vegetal.
Dedicação
No final dos anos 80, Mestre Adamir muda-se de volta para Porto Velho. Guiado mais uma vez por sua intuição, filia-se ao Núcleo Mestre Gabriel para auxiliar a irmandade. Dois anos depois, recebe um convite do Mestre Braga (que à época ocupava o lugar de Mestre Geral Representante) para ir passar uma temporada em Rio Branco, visto que o Núcleo João Lango Moura estava precisando de um auxílio. Mestre Adamir aceita a missão e se muda com toda a família para o Acre. Com esmero, carinho e determinação, em muito pouco tempo vê o Núcleo prosperar.
No começo do ano 2000, Mestre Adamir muda-se novamente, dessa vez para Fortaleza, com a missão de auxiliar nos trabalhos da UDV, e também em busca de mais qualidade de vida no que diz respeito à sua saúde física, que se encontrava um tanto debilitada. Nessa época, ele facilita o encaminhamento para a abertura de dois Núcleos no Ceará.
Sua viagem ao outro plano espiritual condiz com a conclusão de um ciclo de visitas a todos os Núcleos que estavam sob sua responsabilidade – no lugar de Mestre Central da 11ª Região (Ceará, Piauí e Maranhão) – como se estivesse fazendo os acertos finais para deixar a casa em ordem. Nesses dias que antecederam sua passagem, deu sinais do que viria a acontecer, como se estivesse despedindo.
Naquele período, Mestre Adamir teve também uma dedicação especial à irmandade de Teresina, que iniciava o trabalho de implantação do primeiro Núcleo do Piauí, o qual recebeu seu nome, sendo inaugurado em 2002, no dia do seu aniversário, pouco mais de um ano após seu desencarnamento em (28/05/2001).
E hoje, neste dia 31 de julho de 2020, elevamos nosso pensamento ao Grande Mestre, lembrando do nosso querido Mestre Adamir. Que seu legado de amor, compreensão e solidariedade seja sempre um guia em nossas vidas, nos iluminando e nos orientando em nossa caminhada.
Em nome de toda a família, nossa gratidão pela oportunidade de poder compartilhar alguns momentos sublimes desse ser pacífico, de um coração amigo e fraterno.
*Solidei Ferreira Lima é filho do Mestre Adamir e é integrante do Corpo Instrutivo do Núcleo Tucunacá (Caucaia-CE).