Mestre Antônio Gabriel, um homem de fé
Tadeo Feijão*
| 27 Outubro, 2017
“E a fé, Antônio?”
Esta era a realidade de Antônio Gabriel da Costa na sala de recuperação do Instituto José Frota, em Fortaleza, no dia em que eu o vi pela primeira vez, em abril de 1992. Por fora, um politraumatizado por um acidente automobilístico grave. Por dentro, um diálogo com Mestre Gabriel, seu irmão, que lhe cobrava sua coerência entre palavra e prática.
Mestre Antônio, duas semanas antes de sofrer um grave acidente, enquanto dirigia seu caminhão carregado de telhas pela BR-116 – próximo de Chorozinho, Ceará –, havia doutrinado em uma Sessão sobre a importância da fé. Naquela noite, no hospital em Fortaleza, quando eu o visitei pela primeira vez e o encontrei em coma, com poucas chances de sobreviver, ele mantinha um diálogo interior com Mestre Gabriel, que, em resposta a um pedido seu para salvar sua vida, lhe respondeu de forma severa: “E a fé, Antônio? Tu fala tanto da fé”.
Ali, naquele instante que o vi em uma maca de ferro, sem forro, rosto desfigurado pelo acidente, eu falei no seu ouvido: “Mestre Antônio, sou da União do Vegetal e vou cuidar do senhor”. Era exatamente o momento em que ele travava esse diálogo interior e decidia-se pela fé como derradeira alternativa.
Assim começou uma amizade que durou enquanto ele viveu e dura até hoje, em mim. Mestre Antônio ficou hospitalizado por mais de dois meses, submetendo-se a várias cirurgias. Durante esse período demonstrou seu desejo de viver e sua disciplina férrea na consecução desse propósito. Nesse curto período, conheci um homem simples, humilde e de muita fé.
Anos depois, ele retornou a Fortaleza para uma visita, onde deu uma demonstração de gratidão e humildade. Numa Sessão no Núcleo Fortaleza, ele agradeceu a todos que o apoiaram em sua recuperação e fez a chamada Fortaleza do Mestre, pela primeira vez após sua aprovação. Nessa mesma viagem ele visitou os médicos que cuidaram dele. Ele não apenas se lembrava do nome de todos, mas eles também se lembravam de Mestre Antônio. Vi, emocionado, o poder da simplicidade. Um homem simples, modesto que soubera cativar e impressionar pessoas que cotidianamente cuidam de tantos, mas que conseguiram enxergar nele um ser humano especial.
Dessa amizade com Meste Antônio, ganhei um presente que trago comigo, pois passou a ser parte de mim: a fé. Mestre Antônio era um homem de fé.
Outubro é o mês de seu aniversário. É um mês em que a saudade cotidiana desse homem simples se apresenta com mais intensidade. E ao Mestre Antônio Gabriel elevo meu pensamento com saudades e com a fé de que sua vida valeu pelas muitas lições que ele deixou.
Leia mais: Mestre Antônio Gabriel, um homem de bem.
*Tadeo Feijão é vice-presidente da Diretoria Geral e presidente eleito da DG para o triênio 2018-2021.
Nota do Editor: M. Antonio Gabriel faria 90 anos.
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Saudades desse amigo querido de voz forte que ainda ecoa em minha mente e que falava do seu irmão, Mestre Gabriel, com brilho nos olhos, amor e emoção! Saudades das conversas ao pé da fogueira em Coração de Maria. Com fé, esses momentos estarão sempre vivos em minha memória, em meu coração.
Onde estiver M Antônio, esteja bem!
Francisco Pinto
Sede Geral
Muito legal poder reler essa historia com o Mestre Antonio Gabriel. Amigo que conheci em Coração de Maria e com quem pude conversar sobre a sua vivencia com o Mestre Gabriel. Muitas risadas pude dar com ele, uma homem simples e alegre, de bom humor. Saudade.
Esse texto me fez viajar no tempo, e me levou pra beira daquelas fogueiras nas noites frias em Coração de Maria.
Mestre Antônio, sempre presente nos mutirões da construção do barracão, nas obras do templo, sessões e preparos alegrava e enriquecia aqueles momentos em que saíamos de Salvador para onde hoje é o Núcleo Coração de Maria para dar a nossa contribuição de trabalho. A melhor parte daquelas oportunidades era amanhecer o dia a beira da fogueira ouvindo aquele velhinho contando as histórias ali vividas em seu tempo de menino e as coisas que ele viu o ‘José’ fazer. Com um jeito simples e manso, mas com uma força no falar trago em minha memória e no meu coração o pouco do que acompanhei desse nobre senhor. Que o Mestre esteja sempre olhando por ele e por todos nós.
Luz Paz e Amor
Lindo texto, suas palavras me emocionaram e fizeram relembrar bons momentos de alegria vividos em companhia do Mestre Antonio Gabriel. Que ele esteja em Paz!
Sueli Andrade
Nucleo Apuí
Muito emocionante este texto escrito com tanta profundidade e sentimento. Revivi muitos momentos que estive junto na sua recuperação e nos bons momentos em sessão, preparos, festas e visitas ao amigo, M. Antônio. Sua imagem e seu exemplo estão vivos em nossa memória e em nosso coração. Gratidão ao M. Tadeo por trazer esta memória viva do M. Antonio Gabriel.
Dançamos muito forró juntos na comemoração de seu aniversário. Homem bom, simples, meu amigo, M. Antonio. Coração de Maria ficou marcada pela sua presença alegre.
E bom lembrar do Mestre Antonio Gabriel, que gracas a Deus tive a oportunidade de encontra-lo, reconheço o seu valor, a simplicidade de viver, de se expressar, do exemplo que ele vem ensinando pra nós.
Uma lembrança viva deste relato que o Mestre Tadeo Feijão trouxe em uma sessão extra aqui em Maceió no Núcleo Flor de Maria 10° Região, palavras na época de suma importância no começo da minha caminhada na União do Vegetal. Que tenhamos cada dia mais amigos como o Mestre Antônio é na vida do Mestre Tadeo Feijão. Luz, Paz e Amor!
Fraternalmente: Adriano Flávio Santos da Rocha – Núcleo Pau D’arco. 10° Região
Somente agradecer a Sede Geral por nos dar a oportunidades de saber um pouco mais dessas coisas importantes na União do Vegetal.
Luz paz e amor a todos nós.
Bonito exemplo de amizade, humildade e fé a vida de M. Antônio Gabriel, neste texto narrado pelo M. Tadeu Feijão com detalhes que eu ainda não sabia.
Sou bem grata por este blog com todas estas pessoas que se dedicam para que estes exemplos possam chegar ao nosso conhecimento.
Me faz bem saber da trajetória de vida de pessoas tão importantes para a existência da UDV em minha vida.
Saudade de meu amado vó, das nossas conversas, dos seus ensinamentos, das histórias que contava, do seu amor e cuidado com toda família.
Saudade