A história de Maria, mulher seringueira

Tito Liberato*
Thaís Penha**

| 10 Julho, 2025

No curso da Segunda Guerra Mundial, o Brasil esteve ao lado dos Aliados e, após o bloqueio japonês às rotas tradicionais, fornecia-lhes borracha, indispensável para a confecção de utensílios militares. Na ocasião, o Governo arregimentou cerca de cinquenta mil pessoas, quase todas nordestinas, para plantarem seringueira e colherem o látex na floresta amazônica.

Tão dura era a labuta que pouco mais da metade dos emigrantes sobreviveram, dentre eles José Gabriel da Costa, o Mestre Gabriel. Uma quantidade menor ainda conseguiu retornar ao Nordeste.

A jornada desses seringueiros é um pedaço esquecido da história do Brasil; a das mulheres seringueiras, mais esquecida ainda. Se para um homem já era difícil a sobrevivência, para a mulher era comparável a um ato de heroísmo. Muitas vezes “entregue” a um seringueiro, cuidando de uma criança com outra na barriga, buscando água onde onças e outros animais selvagens saciavam a sede, enfrentando a força das águas no período de chuvas e de cheias dos rios, adentrando picadas na floresta fechada, algumas vezes para nunca mais voltar.

Quando o ciclo da borracha entrou em declínio, os nordestinos que não conseguiram regressar ao torrão natal permaneceram em choupanas no Norte do país, abandonados à própria sorte e sem poder se beneficiar com o pouco de riqueza que circulava nos tempos áureos do esforço de guerra. Ficaram na floresta, agora não mais para plantarem seringueira nem dela colherem o látex, mas para sobreviverem, da forma como pudessem, às agruras e aos desafios de uma vida vivida à mercê da floresta e conforme as leis dela.

Maria da Onça, nossa homenageada, nasceu de uma das famílias de seringueiros, nordestinos migrantes, que permaneceram no Norte. Nasceu na floresta, cresceu com o que tinha e enfrentou como podia as desventuras da vida naquela parte relegada da nossa pátria.

Maria

Acreana, nascida em 27 de setembro de 1966, Maria Gomes da Silva coleciona momentos de grandes desafios, aventuras, dores, coragem, persistência e vitórias.

Sempre alerta aos sons e movimentos da natureza e guiando-se diariamente pela luz da Estrela Matutina, encontrou na fé e na coragem toda a força necessária para realizar as travessias.

Após a infância nos seringais, período em que o encontro frente a frente e a peleja com o felino rendeu-lhe o apelido de Maria da Onça, ela foi instada a deixar a família e embrenhar-se na floresta, em busca de uma nova vida. Após dias deambulando com um pouco de sal e fósforo que uma senhora lhe havia dado para facilitar as refeições à base de peixe durante a jornada, casou-se com o homem que se lhe apresentara em condições de vir a ser um bom marido, escapando assim dos riscos inerentes à condição de mulher solteira em meio àquele ambiente dominado por machos, muitos deles rudes e quase selvagens.

Desse casamento vieram os filhos, criados na floresta como havia sido na infância dela, sem tecnologia nem hospitais, mas também com encantos, fartura e alegrias.

Outra ruptura houve de ser feita, e então a mãe Maria precisou deixar para trás a vida na floresta, onde não passava privação, para enfrentar o cotidiano de penúria na cidade de Feijó (AC), lugar em que pela primeira vez deparou-se com energia elétrica, veículos, televisão.

É na cidade que conhece o Chá Hoasca e a União do Vegetal, mas os desafios não cessaram por aí: sem desistir de batalhar pela vida dela e dos filhos, muda-se mais uma vez em busca de novos e melhores horizontes, seguindo então para Rio Branco (AC), onde viria a construir a caminhada na União do Vegetal.

Jardim Real

Atualmente e após conseguir trazer de volta todos os filhos, alguns deles na Direção da UDV, essa mulher batalhadora e cheia de fé segue contribuindo com a obra do Mestre Gabriel no lugar de Conselheira no Núcleo Jardim Real (Rio Branco-AC) e – sempre que pode –segue dando testemunho de luta, de persistência e de vitória. Também foi sócia no Núcleo João Brandinho, no município de Feijó (AC).

O livro “Varadouro – A História de Maria, Mulher Seringueira” é uma narrativa redigida com grande sentimento e com a pena inspirada e escorreita do autor, Edson Lodi. Mais que um resgate de uma página esquecida da história do Brasil, é um testemunho de vida, um rico exemplo de luta, fé na vida e sobretudo de que não devemos julgar a ninguém. A história de Maria revela muitos gestos de amor e de entrega, e o destino lhe recompensou dando de volta aquilo que havia perdido, devolvendo-lhe alegria e muito mais.

Sem estender aqui mais detalhes acerca dessa arrebatadora história de vida, convidamos os leitores para melhor conhecê-la através do livro “Varadouro”, disponível para compra pelo site da Nossa Loja.

Serviço
Livro: “Varadouro – A história de Maria, Mulher Seringueira”
Onde comprar: nossaloja.vc
Valor: R$60,00

*Tito Liberato pertence ao Corpo do Conselho do Núcleo Luz do Oriente (Brazlândia-DF);

** Thaís Penha pertence ao Corpo Instrutivo do Núcleo Rei Inca (Aparecida de Goiânia-GO).