Expedição ao Seringal Novo Encanto mostra que espiritualidade e preservação ambiental precisam caminhar juntas
Atividade promovida pela Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico foi voltada aos sócios da União do Vegetal e reuniu aproximadamente 100 pessoas na Floresta Amazônica
Flavio Gut*
| 10 agosto, 2018
A 20ª Expedição ao Seringal Novo Encanto, realizada entre 16 e 21 de julho de 2018, foi um marco no compromisso da Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico com a conservação e preservação da Floresta Amazônica. Essa expedição teve a participação do Mestre Geral Representante do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal, Paulo Afonso Amato Condé, que é engenheiro-agrônomo com mestrado em Agroecossistemas pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), uma oportunidade especial de unir a espiritualidade ao compromisso com a conservação ambiental.
A presença do Mestre Geral Representante deu a essa edição uma dimensão mais precisa do quanto a União do Vegetal está empenhada em conservar e preservar o Seringal Novo Encanto e o compromisso da UDV com a Natureza. Mestre Paulo Afonso foi acompanhado de sua companheira, a Conselheira Lea Maria Dantonino Alves Condé, e de um público recorde de aproximadamente 100 pessoas, incluindo expedicionários e equipe de apoio. Outro marco dessa edição foi o número elevado de mulheres. Uma grande celebração na Floresta Amazônica.
Também estiveram presentes o Mestre José Roberto Souto Maior, integrante do Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel; o Mestre Central da 7ª Região da UDV, Antônio Ferreira Gomes; o Presidente da Novo Encanto, Mestre José Roberto da Silva Barbosa (Núcleo Coração do Mestre, Rio Branco-AC); o Diretor-Executivo da Novo Encanto, Mestre Carcius Azevedo dos Santos (Sede Geral, Brasília-DF), e demais membros da Diretoria da Novo Encanto
Foi uma experiência que vai muito mais além da viagem em si por terras onde o Mestre José Gabriel da Costa teve sua vida como seringueiro e criou a União do Vegetal. As expedições ao seringal são, sobretudo, um caminhar pelo universo interior de cada participante. Tudo isso só foi possível graças à infraestrutura que existe hoje na sede do local, pronta para atender um número bem significativo de expedicionários.
A Associação Novo Encanto foi fundada por associados da UDV e hoje, por meio de um acordo de cooperação técnica, é o braço ecológico da União do Vegetal que promove ações socioambientais e de conservação não apenas no seringal, mas em todos os Núcleos da União. O Seringal Novo Encanto deu origem à Associação Novo Encanto em 1990 e hoje, no local, mantém uma área preservada de mais de 3 mil hectares de floresta nativa.
Rota dos expedicionários
A viagem começou em Rio Branco (AC), no Núcleo João Lango Moura, onde os expedicionários foram recepcionados. Segunda de manhã, 16 de julho, um café da manhã delicioso deu início à programação. Dali algumas horas de ônibus até as margens do Rio Abunã, e em seguida para o Seringal Sunta, onde o Mestre Gabriel, em 1961, criou a União do Vegetal.
Subir o Abunã em três barcos não muito diferentes do que Mestre Gabriel utilizava naquela época é uma experiência que faz refletir. Andar pelos caminhos em que nosso Mestre e sua família estiveram traz uma compreensão do tamanho das dificuldades enfrentadas por eles. O ambiente mudou, mas o lugar é o mesmo.
Na Sunta, foi a hora de escutar as explicações de um especialista na área, o Mestre Pedro Brás (Núcleo Estrela Divina, Plácido de Castro-AC), que desde criança aprendeu a viver nos seringais e conhece muito bem a área. Mestre Pedro contou que naquela época era um tanto difícil reunir muitas pessoas num mesmo local, até para uma festa, porque as distâncias eram muito grandes, mas o Mestre Gabriel conseguia trazer um tanto de gente para as Sessões de Vegetal. “Na Sunta o Mestre Gabriel mostrou às pessoas como trabalhar com o Vegetal de uma forma organizada”, contou.
Vila Plácido
E depois de um tempo na Sunta foi hora de descer o Rio Abunã novamente para seguir então ao município de Plácido de Castro, conhecido na época do Mestre Gabriel como Vila Plácido, onde um grande almoço e o carinho da irmandade aguardavam os expedicionários no Núcleo Estrela Divina.
Foi ali em Vila Plácido que Mestre Gabriel dirigiu uma Sessão de Vegetal importante para a UDV, em 6 de janeiro de 1962. São lugares que fazem parte da história da União Vegetal. Não existem palavras para explicar o sentimento. De Plácido de Castro até o Seringal Novo Encanto a viagem é longa, por estradas asfaltadas e muita estrada de chão, ou “ramais”, como dizem as pessoas do Acre. Chegar ao Seringal Novo Encanto à noite e receber o carinho (e a janta ótima!) do pessoal de apoio foi muito bom.
Seringal preserva ambiente semelhante ao da origem da UDV
O Seringal Novo Encanto é uma área muito semelhante ao ambiente vivido pelo Mestre Gabriel em seu tempo de seringueiro na Amazônia e ainda hoje conserva estradas de seringa (os caminhos dos seringueiros), seringueiras e outras árvores nativas da floresta, inclusive o Mariri e a Chacrona. Está situado no município amazonense de Lábrea, na divisa com o Estado do Acre.
Em meio à Segunda Guerra Mundial (1943), o governo brasileiro, visando aumentar a extração do látex das seringueiras, nativas na Floresta Amazônica, recrutou um exército de “soldados da borracha” e deu opção aos jovens nordestinos de irem para a Amazônia, colher seringa. Em 1944, Mestre Gabriel embarcou em um navio para Belém (PA), com destino a Porto Velho, então capital do Território Federal do Guaporé, hoje Estado de Rondônia. Na região trabalhou em diferentes seringais do Acre, de Rondônia e também na Bolívia, onde conheceu o Vegetal.
De lá pra cá, muita coisa mudou, especialmente em razão do desmatamento na área, por isso a Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico tem papel fundamental no trabalho de revitalização e conservação das áreas de floresta onde o Mariri e a Chacrona são nativos.
Movidos por um ideal
Com a situação de desmatamento que se pronunciava no fim da década de 1980, Mestre Luiz Maciel da Costa (in memoriam) e Luiz Gonzaga Alves Filho (Núcleo João Lango Moura, Rio Branco-AC), hoje deputado estadual no Acre, se uniram movidos por um ideal: conseguir uma área de floresta que pudesse ser preservada.
“Sonho que se sonha junto é realidade”, disse o poeta. Na concretização desse “sonho”, um grupo de ambientalistas que compartilhava da mesma visão espiritualizada da natureza, liderado por Mestre Raimundo Monteiro de Souza, fundou a Associação Novo Encanto em 30 de janeiro de 1990. Com o auxílio financeiro de Jeffrey Bronfman (hoje Mestre na União do Vegetal, M. Jeffrey é responsável pela Distribuição Autorizada de Vegetal do Havaí – EUA e Vice-Presidente da Diretoria Geral) foi comprado o seringal que deu o nome à Associação.
Atualmente, a integração entre as atividades da União do Vegetal e as da Novo Encanto está cada vez mais forte. O Mestre Geral Representante e o Presidente da Diretoria Geral, Mestre Tadeo Feijão, fazem parte do Conselho Diretor da Novo Encanto, numa demonstração da importância da Associação para as atividades do Centro.
Na vivência na floresta, os expedicionários fazem contato com a natureza intacta, e podem perceber a grandeza e riqueza de um ambiente equilibrado. O contraste com as áreas devastadas, especialmente para formação de pastos, fica evidente. “Nosso objetivo com essas expedições é fazer com que mais gente se dê conta da importância da conservação ambiental e que os associados se conscientizem do trabalho que ainda precisa ser feito para garantir a preservação dessa área”, disse o Presidente da Novo Encanto, Mestre José Roberto.
“Durante a visita de cinco dias, preparamos uma programação que permitiu aos expedicionários conhecerem o modo de vida nos seringais da Amazônia, a vida simples e suas principais dificuldades, e também as facilidades que este modo de vida proporciona, com destaque à visita ao Seringal Sunta, berço da Criação da União do Vegetal”, acrescentou Mestre José Roberto.
O resultado é que os expedicionários puderam ver na prática o que é um seringal, o barracão, as colocações e suas estradas de seringa (como são chamados os caminhos tradicionalmente utilizados pelos seringueiros) e a forma tradicional de coleta do látex, além de fazer contato com as principais espécies nativas da floresta, como Apuí, Samaúma, Castanheira, Pau-d’Arco, Mulateiro, Imburana-de-Cheiro, Carapanaúba, Massaranduba, Copaíba e Andiroba, entre outras.
Apoio dos sócios da UDV para preservação
Mário Marques, Mestre Assistente Central da 7ª Região, lembrou que o objetivo é que essa expedição se propague e chegue até os Núcleos da União do Vegetal. “Nós estamos vivendo na União do Vegetal um momento em que a Novo Encanto está integrada diretamente ao Centro. O seringal é uma floresta nativa, às margens do Rio Iquiri, local riquíssimo. Contamos com o apoio dos sócios do Centro para preservar esse paraíso”, disse.
Para o Mestre Geral Representante, a vivência no seringal fez crescer a amizade entre expedicionários e organizadores. “Além da vivência na floresta, do conhecimento das principais árvores que a compõem, sua utilização e usos medicinais, dos banhos de rio, dos fatos históricos da época dos seringais e da paz dos dias vividos em contato com a natureza, cresceu a amizade entre os expedicionários e os organizadores do encontro, laços de amizade para toda a vida”, observou.
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*Flavio Gut é integrante do Corpo Instrutivo do Núcleo São João Batista (Mairiporã-SP) e Assessor de Comunicação da Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico.
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Bela matéria! Foi uma alegria pra mim estar presente nesta expedição! Sentir um pouco das dificuldades enfrentadas pelo Mestre pra recriar a União fez crescer em mim o sentimento de gratidão por ele, m. Pequenina e sua família! É uma honra poder pertencer a esta sagrada obra e sou grato a toda equipe q organizou a expedição e nos proporcionou ótimos momentos q estão gravados na memória e no coração! Grato!!!!
Parabéns Flávio pelo belo texto!!!
A 20° Expedição ao Seringal Novo Encanto foi um presente de DEUS para mim e minha esposa, conhecer e vivenciar o lugar por onde nosso M. Gabriel esteve e recriou a União do Vegetal é uma Alegria que vamos guardar em nossos corações. Chegar no Seringal Novo Encanto e puder conviver com a Irmandade e fazer novas amizades foi um tanto especial, momentos harmoniosos e felizes. Conhecer a Floresta em seu estado natural pra mim foi uma experiência única, pois pude sentir e perceber a importância deste bioma para a sobrevivência na Terra. Neste sentido, devemos conservar e preservar as Florestas, é nós da União do Vegetal temos está área do Seringal Novo Encanto onde podemos praticar está importante ação. Sou grato a toda equipe da Organização que nos proporcionaram esta Linda Expedição. VIVA A UNIÃO DO VEGETAL!!!
Momento sublime. Um dia ainda vou participar