Conselheira Isabel Bonduki, 97 anos, a sócia mais idosa da UDV
A Conselheira Isabel Miusago Bonduki (Núcleo Alto das Cordilheiras- Campinas-SP), 97 anos, é a sócia mais idosa do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. Atualmente, ela vem participando de Sessões do Vegetal eventualmente, devido à idade. No texto abaixo, sua filha, Conselheira Maria Alice Correa conta um pouco da história de sua mãe que conheceu o Vegetal em 1985.
Maria Alice Correa*
| 29 Abril 2019
Isabel Miusago Bonduki nasceu dia 28 de outubro de 1921, em São Paulo- Capital. Seus pais, Alice Arruda Pereira e Manoel Miusago Pereira, tiveram cinco filhos: Manoel, Lúcia, Isabel, Aurora (Nenê) e Paulinho, que faleceu minutos depois do seu nascimento. Mamãe teve uma infância difícil. Ao longo de sua infância, ganhou uma única boneca, que tinha corpo de pano e a cabeça de porcelana e que ela gostava muito. Quase não pôde estudar, algumas vezes precisou sair da escola e quando voltava precisava recomeçar.
Minha avó Alice precisou trabalhar como lavadeira e dama de companhia, devido às frequentes ausências do meu avô. Por isso, mamãe concluiu o 3º ano primário em um colégio interno de freiras espanholas na cidade de Santos. Ela conta que a sua companhia era a sua irmã Nenê, de quem ela cuidava e que tinha 4 anos na época. No colégio interno, apesar da saudade que sentia da mãe, vivenciou também coisas interessantes. Contava que um dia, apontando lápis na janela, avistou com espanto e surpresa o Zeppelin (balão dirigível) passar próximo ao Colégio.
Aos 14 anos conseguiu um trabalho no Hospital da Cruz Vermelha de São Paulo. Lá, aprendeu o ofício de auxiliar de enfermagem e depois trabalhou como enfermeira na Santa Casa de São Paulo. Na sua infância e juventude viu muitas transformações na cidade onde morava. Nos contava suas lembranças de menina de como era a Avenida Paulista, ainda em terra, iluminada por lampiões que eram acesos ao findar da tarde e apagados ao raiar do dia. Dos momentos na Av. Rebouças onde morou, dos passeios de barco a remo com o irmão Manoel no Rio Tietê e piqueniques aos domingos à beira deste rio.
Aos 18 anos, casou-se. Teve três filhos: Rachid, Rachel, Rames. Ficou viúva com os filhos ainda pequenos. Casou-se com Mário e teve mais uma filha, Maria Alice. Isabel venceu muitas dificuldades ao longo de sua vida, teve muitas perdas, passou por infortúnios e desilusões, mas ela sempre foi uma mulher que nos deu inúmeros exemplos de otimismo e perseverança na luta do dia a dia.
Mamãe sempre tem uma ligação forte com Nossa Senhora e Jesus, nos educou com um sentimento de amor a Deus. Ensinava que precisamos pedir com fé o que estamos necessitando. Sempre foi uma pessoa com muita fé nas coisas que ela queria conseguir e vencer na vida. Dizia: “Querer é Poder”, e ela tem isso de verdade com ela. Fomos batizados, fizemos primeira comunhão, mas ela não gostava de beatices e nem de ir à igreja.
Chegada à UDV
Em 1983, eu já estava na União do Vegetal e ela não gostava. Com o tempo, mudou o jeito de pensar e um dia, lá pelo final do ano de 1984, me pediu para beber o Vegetal. Ela participava e auxiliava nas promoções que fazíamos (festas, jantares, feiras) e precisou esperar um ano pra beber o Chá. Dizia que teve que esperar tanto por causa das coisas que ela tinha dito da União, quando achava que não era uma coisa boa.
Então, no dia 16 de novembro de 1985 (tendo ela 64 anos), eu a trouxe para conhecer o Vegetal na UDV. Ela não acreditava em reencarnação, dizia que não existia outra vida, também não acreditava naquela coisa de purgatório e paraíso, que isso era conversa de padre. Enfim, ela chegou e o Mestre Spencer deu o Vegetal a ela, um copo cheio. Era Sessão de Escala, porque as Sessões de adventício estavam suspensas naquele momento. Ela ficou zangada quando sentiu a burracheira na primeira vez, foi forte.
Participava de atividades, gostava das pessoas e queria entender as coisas, porque por um tempo, não acreditava em diversas coisas que ouvia em Sessão. Um dia, para saber se o que o Mestre Gabriel dizia era verdade, ela pediu uma prova a ele, dizendo ainda que se ele provasse, ela iria se associar, mas que se não recebesse essa prova, ela não voltaria mais ali. E, então, ela disse que recebeu do Mestre Gabriel a prova que queria e se associou ainda em 1985, seguindo o seu caminho.
Tem muita fé mesmo no Mestre Gabriel e gosta de saber das histórias de exemplos da sua vida. Certo dia, a caminho da Sessão, ela me disse: “filha, acho que nunca vão me pôr no Corpo Instrutivo porque eu não tenho instrução”. Eu dizia a ela que não era assim, pra ela não pensar daquele jeito. Ela sempre procurava ler e aprender muitas coisas. Ela mesma não sabia, mas sempre foi uma pessoa com muitos saberes e muitas habilidades.
Mamãe ficou muito feliz quando chegou ao Corpo Instrutivo e também quando foi convocada para o Corpo do Conselho. Ela foi a primeira Organ do Núcleo Alto das Cordilheiras e se sentia muito honrada por essa oportunidade. Às vezes ela diz: “Devo muito ao Mestre Gabriel. A União é uma Glória em minha vida!” E aos seus 97 anos vem seguindo a sua caminhada.
*Maria Alice Correa é integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Alto das Cordilheiras (Campinas-SP).