70 anos de Jandira Gabriel da Costa: celebração de uma caminhada

| 2 de julho, 2025

Joelson Ferreira de Oliveira*
Jamsson Ferreira de Oliveira**
Joycimere Ferreira de Oliveira de Andrade***
Enoã Dandara Ferreira de Lima****

Jandira Gabriel da Costa, nascida nos seringais da Amazônia, celebra neste dia 2 de julho seus 70 anos. Filha de José Gabriel da Costa e Raymunda Ferreira da Costa, Jandira é a terceira filha do casal, sendo a única filha mulher que chegou à idade adulta. Em uma época em que a sobrevivência era um desafio para muitas crianças, Jandira cresceu e constituiu sua família na União do Vegetal. Tornou-se mãe de quatro filhos, Joelson, Jamsson, Joycimere e Dandara, avó de seis netos – Yasmim, Jamsson Filho, Pedro Otávio, Flora, Ana Lis e Uriel Bento –, estando há 40 anos casada com o Mestre Amâncio de Lima.

Sua vida se entrelaça com a história da União do Vegetal. Há acontecimentos marcantes, que soam como um conto poético, como a primeira vez que o Mestre Gabriel serviu o Vegetal a Jandira, em 22 de julho de 1961 (Álbum de Família, Editora Pedra Nova).

Para aqueles que a conhecem de perto, é notável a forma como ela aplica os ensinamentos do Mestre Gabriel e da Mestre Pequenina em seu dia a dia. Esta homenagem busca compartilhar um pouco mais sobre esta figura tão querida para muitos.

Fazer o bem sem olhar a quem

A generosidade da Conselheira Jandira é uma de suas marcas. Durante uma Sessão do Vegetal, alguém comentou: “A Conselheira Jandira é o tipo de pessoa que eu vi levar morador de rua para a casa dela”. Em certa ocasião, C. Jandira e M. Amâncio acolheram um morador de rua na casa deles durante dois anos. Um caminhoneiro, amigo deles, havia dado carona para o morador de rua e, não sabendo o que fazer com ele, deixou-o no Núcleo Erunaiá (Candeias do Jamari-RO), que fica ao lado da casa da Conselheira Jandira e do M. Amâncio. Diante da situação precária daquele irmão, o casal permitiu que ele ficasse morando com eles. O morador de rua já era um senhor de idade. Eles o levaram para cortar o cabelo, auxiliaram-no a pôr uma prótese dentária, enfim, devolveram-lhe a dignidade. Um tempo depois, Mestre Amâncio localizou uma pessoa da família e ele foi embora. Chegou a voltar para as ruas e foi trazido de volta à casa da C. Jandira. Passou mais um tempo por ali quando M. Amâncio conseguiu um emprego para ele próximo à família e ele seguiu seu destino. Morou na casa deles por cerca de dois anos.

Outro exemplo comovente de “fazer o bem sem olhar a quem”: era um período de festas de fim de ano e a C. Jandira e sua filha Dandara saíram do supermercado com dois carrinhos de compras fartos. Itens que ela escolheu para confraternizar com sua família. Havia um guardador de carros que acabara de auxiliar outro motorista. O motorista, após guardar as compras, apenas fechou o vidro do carro e foi embora. O guardador pensou em voz alta: “E a roupa da minha filha?”. Logo depois ele começou a auxiliar a C. Jandira com suas compras. Ela começou a puxar assunto, perguntou o nome dele, onde ele morava e o que estava precisando. Ele lhe disse que, naquele momento, o que precisava mesmo era completar o dinheiro para comprar a roupa para a festa da escola da filha. Jandira falou algo como “saco vazio não para em pé”. Foi então que o guardador de carros pediu um pacote de arroz. Naquele mesmo dia, C. Jandira foi até a casa dele, conheceu o local onde ele vivia com a família e, vendo as condições, deixou toda a compra que ela havia feito para si e para os seus, além de uma quantia em dinheiro. Entregou-lhe o que havia escolhido para si mesma.

“Mesmo esquecendo de si, lembre-se de todos além”

Durante alguns anos, Conselheira Jandira e Mestre Amâncio viveram numa casinha simples no pequeno município de Candeias do Jamari (RO), há cerca de 20 km de Porto Velho-RO. Naquela época, chamava o seu lar carinhosamente de “choupana real”. Havia muitas goteiras naquela casa, mas isso não a abatia, buscava ter a alegria consigo e um sorriso no rosto. Um dia, um amigo com boas condições financeiras, vendo a situação, disse à C. Jandira: “Eu vim lhe oferecer uma casa e a senhora peça do jeito que a senhora quiser”. Naquela época, as condições do Núcleo Erunaiá, que C. Jandira auxiliou a fundar, também não estavam muito boas. Foi então que, ao invés de pedir a reforma de sua casa, pediu ao amigo que auxiliasse nas obras do Núcleo. Nas palavras da sua filha, C. Joycimere: “Ele queria dar a ela uma casa, mas a C. Jandira pediu um Núcleo. Porque lá tinha mais gente se molhando do que na casa dela. Para mim este é um exemplo muito fino de amor à obra do Mestre Gabriel, uma obra que ele deixou para nós e para todas as pessoas que querem transformar as suas vidas”.

O bem sabe é quem recebe

É importante registrar que tais acontecimentos aqui trazidos são pequeníssimas partes de muitas que ocorreram silenciosamente ao longo dos anos. Só os mais próximos é que podiam dar testemunho deles. Nesta oportunidade, além de homenagear a C. Jandira, este conteúdo tem como objetivo trazer algumas valiosas lições a todos nós que desejamos chegar mais próximo desse lugar de discípulos do Mestre Gabriel. O convite é para uma reflexão a respeito da profundidade do bem que podemos ser capazes de oferecer a um irmão. Sem superficialidade, sem convenções, mas com sinceridade e amor no coração.


*Joelson Ferreira de Oliveira é membro do Corpo do Conselho do Núcleo Convite aos Encantos (Formosa-GO);

**Jamsson Ferreira de Oliveira é Mestre Assistente Central da 8ª Região;

***Joycimere Ferreira de Oliveira de Andrade é membro do Corpo do Conselho do Núcleo Erunaiá (Candeias do Jamari/RO – 1ª Região);

****Enoã Dandara Ferreira de Lima é membro do Corpo Instrutivo do Núcleo Erunaiá (Candeias do Jamari/RO – 1ª Região).