Hoasca na Adolescência
Em 1997, um ano após a publicação dos resultados da pesquisa do Projeto Hoasca, o consumo do Chá Hoasca por menores de idade foi desaconselhado expressamente pelo Conselho Federal de Entorpecentes (Confen), sem qualquer fundamentação científica. O Centro Espírita Beneficente União do Vegetal encaminhou questionamento ao Ministério Público que, então, solicitou a realização de uma pesquisa científica sobre os efeitos do Vegetal em menores de idade.
Em 2001 tiveram início as investigações científicas. Dartiu Xavier da Silveira, médico, doutor em Psiquiatria, professor da Universidade Federal de São Paulo e consultor do Ministério da Saúde, explicou que para a questão existia a alegação, por parte dos membros da UDV, de que o Chá, usado em contexto ritual, não oferece riscos para o desenvolvimento dos adolescentes. “Embora fosse uma percepção de muito tempo, não havia nenhum estudo científico que realmente tivesse avaliado se isso era uma verdade ou apenas uma crença sem fundamento”, disse o pesquisador e coautor da pesquisa Hoasca na Adolescência.
ADOLESCENTES DA UDV SÃO AVALIADOS
“Queríamos verificar se existem ou não efeitos de uso prolongado da Ayahuasca nas funções afetivas e cognitivas dos adolescentes”, disse a professora, doutora em Educação, Luiza Nunes Alonso. Para fundamentar as análises, foram formados dois grupos de 40 adolescentes de 15 a 19 anos: um com os adolescentes da UDV, que bebiam o Chá e que foram comparados com outros 40 adolescentes que nunca beberam o Chá, mas que eram muito parecidos em todos os outros aspectos com os adolescentes da UDV.
Durante a pesquisa, 97,5% dos jovens da UDV relataram que a experiência com o Chá teve uma forte influência no seu destino, para melhor. Segundo Dartiu Xavier, em resumo, “os testes qualitativos avaliaram valores e crenças dos adolescentes, as condições gerais de saúde tanto física quanto mental (inclusive dependência de substâncias) e algumas funções cognitivas tais como memória, atenção, capacidade de concentração, capacidade de aprendizado”.
RESULTADOS INDICAM BENEFÍCIOS
Os resultados das investigações foram publicados no Journal of Psychoative Drugs (2005) e evidenciaram que os adolescentes da UDV apresentavam desenvolvimento físico e mental semelhante ao do grupo de comparação. Também sugeriram que o consumo ritual da Hoasca poderia ter um efeito protetor contra o abuso de drogas na adolescência. Segundo Luiza Alonso, “em termos de diferença, os grupos da UDV tinham uma maior cooperação nas tarefas de casa. Também algo que chama a atenção: há uma maior interação com o pai. Mesmo aqueles que não moram com o pai tem uma maior aproximação. O pai não é uma figura ausente”, enfatiza. Em um dos relatórios, os autores afirmam, conclusivamente: “não encontramos evidências dos efeitos prejudiciais da ayahuasca em adolescentes que participam com suas famílias dos rituais cerimoniais”.
“Eu aprendi muito no decorrer desta pesquisa no contato com estes jovens (da UDV)”, avaliou Dartiu Xavier. “Eles deixaram todo o grupo de pesquisadores encantados: tinham uma criatividade, um desempenho fantástico nas propostas, um contato ótimo com a gente, muito afetivos”, destacou.
O médico Glacus de Souza Brito, Ph.D em Imunologia, mestre na UDV e então diretor do Departamento Médico da UDV (Demec), lembrou que o objetivo da pesquisa não foi provar que os adolescentes da UDV são melhores que os outros, mas, sim, que o Chá não causa dano à eles. “O real significado deste trabalho é simplesmente confirmar a palavra do Mestre Gabriel, de que o Chá é verdadeiramente inofensivo à saúde”, conclui Dr. Glacus.