Um Mestre na UDV, Formador De Muitos Mestres
Roberto Evangelista*
| 14 abril, 2016
Conhecemos Mestre Cruzeiro, assim era chamado por Mestre Gabriel e por todos da UDV, em 1970. Dele recebemos, eu e minha companheira, Conselheira Ana, o primeiro copo de vegetal, os primeiros ensinamentos e os que se seguiram foram a nós por ele transmitidos, nos deixando claro seu empenho em se manter um discípulo fiel ao Mestre.
A fidelidade, essa virtude que deve ser compreendida e praticada por todos caianinhos, Mestre Florêncio a instruiu e a revelou em sua prática e conduta ao longo da vida. Nos momentos que esteve afastado nunca arredou o pé do salão do vegetal, acompanhando as sessões de escala e participando ativamente da vida do Núcleo Caupuri.
Foi um dos maiores, senão o maior, incentivador dos plantios de mariri e chacrona, incitando a coragem ou o estímulo de todos, por todos os núcleos que visitou. Essa será sempre uma de suas marcas registradas na memória de todos nós.
Pela sua maneira única e especial de fazer as chamadas, recebeu a estrela de Mestre pelos Encantos, porque realmente tocava a sensibilidade, o coração de quem as ouvia, e nós, discípulos, conduzidos pela força e luz transmitidas, nos sentíamos motivados, incentivados a aprendê-las.

Era peculiar sua maneira de ensinar, principalmente nas sessões instrutivas, fazendo perguntas para testar os discípulos ou solicitando, de surpresa, para fazer determinada chamada. Sua maestria na maneira de preparar o vegetal era e permanece sendo incontestável.
A sua forma de doutrinar vinha rente quando necessária, mas estava sempre acompanhada e embasada nas palavras do Mestre Gabriel, em seus ensinamentos, permitindo ao discípulo compreender e entender a mesma. Sua peneira era fina e justa e muitos não passaram por ela, pois jamais o vi protegendo quem quer que fosse, nem jamais o vi se vangloriando.
Mestre Florêncio – que hoje, 14 de abril, estaria inteirando 84 anos — tinha um humor à flor da pele, o que o tornava uma pessoa simpática e querida. Os “causos” que contava da sua vida pregressa, isto é, antes dele chegar à União, junto com os da sua vivência nos seringais, eram incomparáveis.
Foi um talentoso contador de histórias e estórias. Quando Elmano, um de seus filhos com a Conselheira Sueli, formou-se nos Estados Unidos, ele foi convidado a fazer uma palestra. Deu uma aula de ecologia e de Amazônia a professores, doutores e alunos que ali estavam e foi aplaudido de pé por todos.
O vi atravessar momentos dificílimos, mas nunca o vi reclamar da vida, muito pelo contrário. Certa vez ele me disse: que se parasse de sorrir – ele morreria.
Mestre Florêncio, a quem conheci Mestre Cruzeiro, saudades.
Sua vida e sua importância para nós, não cabem aqui.
Grato, muito grato pela minha formação.
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*Mestre Roberto Evangelista é Assistente Geral do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal e membro do Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel.