Um maternal coração

| 13 Julho, 2020

Hiúna Badaró*

Conselheira Ana Maria deixa um legado de bons exemplos | Arquivo familiar

Destacar uma virtude na Conselheira Ana Maria
é como desvelar um raio de luar em noite plena de estrelas.
Pode ser que esse raio de luz seja a humildade,
que lhe era tão íntima,
ou a dedicação à família, ao trabalho e à União do Vegetal.
Talvez esse pequenino feixe de prata
 possa ser a paciência, a constância ou mesmo a sabedoria.
Paciência, constância ou sabedoria, sabemos que todas elas estão em um mesmo foco
– o maternal coração da Ana –
e que todas elas são, tão somente, o simples, o eterno,
o fecundo amor.

Edson Lodi

Em respeitoso silêncio e carinho, prestamos hoje uma singela homenagem à Conselheira Ana Maria de Lima Souza, que no dia 30 de junho do corrente ano, ao pôr do Sol, se despediu deste plano. Ao elevar nosso pensamento ao Divino Mestre Jesus e a sua bondosa mãe Maria Santíssima, reconforta-nos saber que ela estava serena e confiante no cumprimento de sua missão, qualidades que praticava com simplicidade e constância.

Don’Ana, como era carinhosamente chamada pelos amigos mais próximos, era conhecida por ser essa senhora tão generosa e gentil, que trazia sempre um sorriso doce e amplo, sua marca registrada.

Nascida em 26 de maio de 1953, filha de Raimundo Ferreira Lima e Mari Sales Ferreira, recebeu formação católica em sua infância e juventude, buscando desde nova os ensinamentos da fé e da espiritualidade. Chegou à União do Vegetal aos 17 anos, ainda na presença do Mestre Gabriel, trazida pelo Mestre Monteiro, que dela se lembra com carinho:

“Ana Maria foi uma pessoa que morou conosco e é parte da nossa família, e por ela temos toda a consideração. Sinto que é uma pessoa que soube cativar e se conduzir na vida de forma exemplar e com moral, pois sempre se apresentou com uma conduta leve e serena. Uma das nossas primeiras irmãs, que teve a oportunidade de conviver com o Mestre Gabriel e hoje deixa um espaço vazio na UDV, pelo exemplo de pessoa, boa companheira, mãe e Conselheira que ela era”.

Associou-se em 1970, tendo o merecimento de conviver com seu Guia Espiritual, e dele receber ensinamentos e exemplos. Mesmo tão jovem, mostrou-se uma discípula disposta a aprender, a respeitar e a reconhecer. Sua devoção ao Mestre Gabriel a acompanhou por toda a sua vida.

Na UDV, conheceu Luíz Carlos Cardoso de Souza, com quem viria a se casar e constituir família, dentro dos preceitos de moral e amor. Viveram juntos por mais de 46 anos, constituindo um casal querido e exemplar, dentro da instituição e na sociedade. Tiveram três filhos: Samarone, Luciano e Hiúna. Ana deixa, ainda, três netos: Murilo, Eloah e Alice. Emocionado, o Conselheiro Luiz Cardoso relata:

“Conheci a Ana em 1970, no Salão do Vegetal em Porto Velho. Eu já estava na União do Vegetal quando ela chegou. Era uma jovem bonita, de 17 anos. Dois anos depois, começamos a namorar. Foi um namoro seguro, firme, e assim noivamos e casamos em 1974, no dia 20 de julho. Posso dizer que fui bem feliz ao lado dela. Pessoa que tinha grande força de vontade de conhecer a essência da União do Vegetal através dos ensinamentos da União do Vegetal. Foi convocada para a Instrutiva em 1976, pelo Mestre Janico, e recebeu o CDC em 1978, uma das primeiras irmãs a receber. Era uma pessoa de muitas virtudes, conhecidas por muitas pessoas na União do Vegetal. Uma pessoa muito respeitada e respeitadora, muito inteligente, responsável na profissão e com os ensinamentos da União do Vegetal. Foi uma das pioneiras desse trabalho da Escola Caianinha, e um de seus maiores sonhos é ver essa Escola se tornar realidade.

Sou muito feliz de tê-la conhecido, pois é uma pessoa que, com certeza, me auxiliou a ser uma pessoa melhor. Foi minha companheira por muitos anos, minha amiga, minha irmã e minha conselheira. Conselheira de todos os momentos. E tenho certeza, pela pessoa bondosa que ela era, ela está em um lugar bom, na morada do nosso Mestre Gabriel. Sou grato por tudo que ela fez por mim. E uma das razões principais da minha felicidade é de ter encontrado ela dentro da União do Vegetal, onde nos conhecemos e construímos uma família. Sei que onde ela estiver, sei que está olhando por mim, por seus filhos e seus netos. Sou muito grato pela minha conselheira oriental”.

Ana e Luiz casaram em 1974 | Arquivo familiar

Chegou ao Corpo Instrutivo em agosto de 1976, recebendo o Corpo do Conselho em julho de 1978. Sua dedicação e amor à União do Vegetal, ao seu trabalho e à sua família faziam com que sua palavra fosse respeitada e ouvida em todos os lugares por onde passava. Sua dignidade de mulher, companheira, mãe, avó, professora, Conselheira e discípula do Mestre será lembrada como ensinamentos vivos de quem viveu dentro do sagrado ofício de servir.

“Dentro daquilo que me é possível, tenho procurado auxiliar, buscando me portar no meu papel de mulher, que é um papel muito importante. Não tenho nenhuma aspiração de ser Mestre, porque, pra mim, vejo que a história da Hoasca, ela é valiosíssima pra nós percebermos que nós, mulheres, temos um papel, temos uma função dentro da UDV. E se nos dermos conta disso, estaremos contribuindo muito bem. É o que eu tenho procurado fazer, buscando encontrar e ocupar o espaço que é meu, como mulher, como mãe, como companheira, como Conselheira dentro da UDV.”

Laura Gabriela Lima da Costa, sobrinha, expressa seus sentimentos de saudades e de reconhecimento.

“São tantas coisas boas a dizer desta senhora que aqui esteve em matéria e hoje se tornou uma estrela no céu da noite a brilhar. Algumas pessoas se destacam em qualquer lugar a que chegam, são pessoas iluminadas, que sorriem com os olhos, encantam com atitudes sinceras, sempre possuem uma palavra de conforto, assim foi esta senhora de nome Ana Maria, conhecida como Conselheira Ana. Nos deixou um legado aqui na terra e registrada sua história e trajetória de amor ao próximo e calmaria, Doutora e Mestre de muitas pessoas, grata eu sou a Deus pela oportunidade de ter tido ela como minha tia querida. Para aqueles que a amam, estarás sempre em nossos corações e em nossa memória. Saudades eternas em meu coração.”

No campo profissional, atuando no magistério superior na Universidade Federal de Rondônia, é reconhecida por muitos colegas e alunos por uma trajetória das mais corretas, dedicadas e brilhantes, lembrada por seu elevado grau de humanidade, sabedoria e pelo seu jeito didático e alegre de lecionar. Pode-se dizer que sua vida foi dedicada à meritória arte de ensinar, talento que também se fez presente na União do Vegetal.

Foi sócia-fundadora e integrante da Direção do Núcleo Mestre Gabriel, onde tantas vezes auxiliou no equilíbrio, na orientação e no conforto da irmandade. Suas palavras serenas, firmes, além de seus conselhos, baseados em sua vida e no que aprendeu com Mestre Gabriel, serão recordados com saudades.

Registramos também seu auxílio prestimoso nos trabalhos do Centro, dentre os quais destacamos sua contribuição à orientação espiritual com crianças e adolescentes, desde o início do trabalho com os jovens em Porto Velho até os dias atuais. Representou o Centro Espírita Beneficente na I Conferência Estadual da Diversidade Religiosa, em Rio Branco-AC, no ano de 2011.

Mestre Carmiro Júnior, sobrinho e afilhado, demonstra seu afeto por ela, lembrando:

“Ela, em sua passagem pela vida terrena, deixou uma imagem que jamais será esquecida por aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-la. Sua personalidade, seu caráter digno, sereno e gentil. Era uma mulher pacificadora, e com seu sorriso marcante e espontâneo revelava a ternura de seu espírito”.

Em maio deste ano, Conselheira Ana deixou gravado este belo depoimento a respeito da vida e da sublime missão da maternidade:

“Aprender a valorizar esse presente que Deus nos proporciona, que é a Vida. E a Vida, quando nós a recebemos, ela nos traz para o seio de uma família, que é o primeiro núcleo social no qual nós somos inseridos. E nesse núcleo social nós vamos aprendendo a amar, a respeitar, a conviver com os diferentes, porque, mesmo sendo filhos dos mesmos pai e mãe, irmãos sanguíneos, somos pessoas ímpares. Pessoas que temos nossas qualidades, que se diferenciam umas das outras. E vejam qual desafio esse, para a família. O casal receber no seu seio filhos, que são espíritos que Deus nos permite receber, que vêm para nosso cuidado, para que eles se desenvolvam como pessoas, como espíritos que reencarnam no reconhecimento ao nosso Pai Superior, Deus, e tendo a consciência de que cada um de nós precisa trabalhar para que esse desenvolvimento se dê da forma mais plena possível”.

Sua irmã de sangue e afetos, a Conselheira Mitonha, nos oferece um sincero e profundo depoimento.

“Só tenho a agradecer a Deus pela a irmã, companheira e amiga que eu tive ao longo dos meus 65 anos de vida. Sou grata pois, com ela, aprendi alguns valores passados por nossos pais, sei que ela há de fazer muita falta pra mim, pra minha família e para todos que a amam. Exemplo de esposa companheira, mãe e amiga e uma grande Conselheira na UDV. De caráter e dignidade única, com seu jeito humilde de ser, fazia brotar em seu sorriso tudo o que a gente precisava na hora certa. São muitas virtudes até mesmo no campo profissional. Para mim, será uma imensa saudade que levarei para toda a minha vida de minha querida e eterna irmã.”

Nossos melhores sentimentos aos familiares e amigos e a nossa gratidão ao Criador por nos ter permitido conviver com essa pessoa exemplar. As flores plantadas por ela estão registradas no tempo, na memória da União do Vegetal e no coração dos tantos amigos que ela semeou com alegria e sinceridade.

Que a Luz do Mestre a guie em alegria e serenidade, na continuação de sua caminhada espiritual.

Assista o vídeo abaixo:


Hiúna Badaró é filha da C. Ana Maria e do Conselheiro Luiz Cardoso e integra o Corpo do Conselho do Núcleo Caminho do Mestre (Porto Velho-RO). 

>> Deputado Wolney Queiroz presta homenagem à Professora da UNIR e Conselheira da UDV, Ana Maria Souza, na Tribuna da Câmara dos Deputados: clique aqui.

10 respostas
  1. Marcelo Lima Barros
    Marcelo Lima Barros says:

    Uma Pessoa admirável pela sua educação, inteligência e leveza, entre outros atributos. Quando falava em sessão se percebia que era uma conselheira firme nas suas palavras e ao mesmo tempo humilde. Deixa muitas saudades nos corações dos amigos que a conheceram.

  2. Angela Vitória
    Angela Vitória says:

    Conselheira Ana Maria é a minha conselheira de referência na UDV, justamente por todas as qualidades mencionadas.
    Um dia, em nosso derradeiro encontro, pude dizer-lhe o quanto é especial.
    Às pessoas que iam morar em Porto Velho, sempre recomendava: “procure conhecer a Conselheira Ana Maria. Ela tem boas coisas a ensinar.”
    Dentro das coisas que a nossa UDV ensina, ela estar usufruindo da Paz e Luz que recebeu nessa encarnação.

    Mestre Luiz Cardoso, o senhor sabe o caminho para continuar recebendo do nosso Mestre a Força e Luz necessárias e transmiti-las aos seus filhos.

    Um abraço fraterno.
    Angela Vitória – Núcleo Princesa Mariana.

  3. Marcelo Lima
    Marcelo Lima says:

    Um esteio de nossa família que nunca se abalou ao longo do tempo. Pérolas finas deixadas em minha memória, pelos exemplos de firmeza e equilíbrio em todos os planos de sua vida. Marcante, em especial, pela extraordinária capacidade de falar no salão do vegetal e suas palavras serem ouvidas pelo coração. Onde a Sra. estiver, Tia, terás sempre meu carinho e admiração; e minha eterna gratidão por ter sido a nossa porta de entrada na UDV, quando aceitou o convite de M. Monteiro, em novembro de 1970. Marcelo Lima. Núcleo Encantos da Natureza | Patrocínio, Minas Gerais.

  4. Halysson Nogueira Fraga
    Halysson Nogueira Fraga says:

    Tive a honra de conhecer a C. Ana e o C. Luiz Cardoso quando vieram a Fortaleza para o aniversário do Núcleo Estrela Brilhante, na conversa que tive com eles ela demostrou bem pelas suas histórias o exemplo de amor ao próximo.

  5. Sandra Leite Coura Diniz
    Sandra Leite Coura Diniz says:

    Realmente fica em meu coração registrado o seu jeito carinhoso de expressar sábias palavras sempre com um sorrisso nos lábios, um exemplo a ser seguido.
    Tive a oportunidade de trabalhar com ela na Orientação Espiritual com os jovens na 1 região e só tenho a agradecer, pois aprendi muito com ela.

  6. Jean Carlos Freire Lima
    Jean Carlos Freire Lima says:

    Conhecia a Conselheira Ana Maria de ouvir falar pelas pessoas. Da forma educada, cortês e tranquila dela ser. O contato presencial veio em outubro de 2016, durante a II Conferência Mundial da Ayahuasca, aqui em Rio Branco. Ela veio ao Acre representar a UDV e fez uma exposição a respeito da vida do Mestre Gabriel aos presentes à Conferência. Ali senti o quão especial era. Acreana de nascimento e rondoniense de coração, percebi uma pessoa que deixava na gente uma boa sensação de paz, tranquilidade e serenidade.

    Naquela ocasião, eu e o meu amigo Patrick Walsh, a entrevistamos com o M. Luiz Cardoso. Um momento que ficou gravado em tecnologia digital, mas, principalmente, ficou gravado em minha recordação a boa energia de uma pessoa que trabalhou uma vida inteira pela UDV. Na entrevista, dentre outras coisas, ela destacou a importância de nos conduzirmos com responsabilidade na União do Vegetal. Sermos um bom exemplo às pessoas que nos veem.

    Em 2017 atravessei um problema de saúde com a minha esposa e fomos pro Rio. E lá, de vez em quando chegava uma mensagem em meu celular: “E aí menino, como tá a sua Juliana?” Ficou marcado em mim essa atenção dela.

    É isso Dona Ana: que a sua terna lembrança seja eterna em nossas mentes!

    Jean Freire
    N. João Lango Moura
    Rio Branco/AC

  7. JOÃO BOSCO QUEIROZ
    JOÃO BOSCO QUEIROZ says:

    Conselheira Ana Maria deixará além dos bons exemplos transmitidos através de sua vida, o eco de suas suaves palavras pronunciadas no salão da União e que estão gravadas na memória e coração de todos aqueles que tiveram a oportunidade de ouvi-la durante sua passagem aqui nesse plano. Uma ausência que será sentida nos lugares onde sempre se fez presente com sua mensagem de amor, carinho, fraternidade, Luz, Paz e Amor. Qualquer homenagem ou palavras expressas dizem muito pouco da grandeza dessa pessoa simples e especial.

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