Sustentabilidade no Preparo de Vegetal

Giuliano Villa Nova*

| 24 Fevereiro, 2017

Núcleo Tucunacá recebe doação de 90m³ de lenha para utilizar em preparos | Foto: Queiroz Netto.

Conciliar a sustentabilidade financeira com a preservação dos recursos naturais, tudo dentro da legalidade. Com esse pensamento, o Núcleo Tucunacá (11a Região – Caucaia, CE, ) do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal foi beneficiado com a doação de 90 m³ de lenha, por parte da Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace). A doação do material está prevista em Lei. Para isso, o Núcleo precisou se mobilizar, cadastrando-se no órgão estadual e comprovando a utilização da madeira sem fins comerciais.

Saiba mais: Núcleo Tucunacá, a UDV inteira 36 anos no Ceará.

“A lenha é um dos principais itens de despesa dos Preparos de Vegetal. Com essa doação, vamos ter uma economia considerável no orçamento. É uma maneira de obtermos recursos de parceiros externos, mesmo que indiretamente, evitando que a irmandade desembolse esse dinheiro”, comenta Roldão Gomes e Silva Netto, integrante do Quadro de Mestres e presidente do Núcleo Tucunacá.

Para se ter uma ideia da economia obtida com a doação, a cada Preparo do Chá Hoasca (denominado Vegetal na UDV, ou Ayahuasca por diversas outras instituições), o Núcleo Tucunacá tem gasto, em média, de R$ 1.200 a R$ 1.400 com lenha. “Nossa previsão é de que temos lenha para, pelo menos, quatro ou cinco Preparos de Vegetal”, conta Roldão.

Doação

A lenha doada pela Semace é apreendida em fiscalizações. Geralmente, o material – uma mistura de espécies como Sabiá, Marmeleiro e Jurema, dentre outras – é retirado ilegalmente da mata nativa da caatinga para comercialização. De acordo com a Gerência de Instância e Julgamento da Semace, qualquer entidade pública de caráter científico, cultural, educacional, hospitalar, penal, militar ou social, e instituições sem fins lucrativos de caráter beneficente podem requerer a doação de materiais apreendidos.

Para ter direito à doação, a Diretoria do Núcleo Tucunacá, por meio da 2ª Secretária, Carolina Mendes Cruz Araújo (integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Tucunacá), fez um cadastro na Semace. “Enviamos um ofício, informando a respeito da Diretoria, as dimensões do Núcleo, a quantidade de lenha que consumimos por ano, e que usamos a madeira para nossas atividades, sem fins comerciais”, explica. “Depois de analisado o pedido, eles solicitaram outras informações. No total, o processo durou cinco meses”, comenta.

Aproximação

A aproximação com o órgão público deu resultado: neste mês de fevereiro, a doação foi oficializada. Inclusive, a lenha já foi utilizada em um Preparo de Vegetal, que ocorreu entre os dias 11 e 12 deste mês. O gasto do Núcleo foi apenas com o frete do material. Na 11ª Região, os Núcleos Fortaleza e Flor Divina também receberam doações de madeira da Semace.

O sucesso da iniciativa pode trazer outros benefícios para o Núcleo Tucunacá. “Vamos solicitar um documento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), certificando que trabalhamos apenas com madeira legalizada. Se houver uma fiscalização, estamos respaldados por esse documento, inclusive se houver reclamação dos vizinhos, com relação à fumaça, durante os Preparos”, observa Carolina. “A Semace faz doação de outros materiais, como madeira para construções. Pode ser um bom auxílio, futuramente, se precisarmos desse material”, projeta Roldão.

*Giuliano Villa Nova é membro do Quadro de Mestres do Núcleo Tucunacá (Caucaia, CE), monitor local e Vice-Diretor de Comunicação Interna do Departamento de Memória e Comunicação da União do Vegetal (DMC).

7 respostas
  1. Bhering Aragão
    Bhering Aragão says:

    Muito boa notícia. Incentiva-nos também a nos organizar mais nesse sentido para também sermos beneficiados a exemplo do Núcleo Tucunacá. Ao mesmo tempo, reafirmamo-nos perante as autoridades de que trabalhamos em conformidade com as leis do país.
    Parabéns aos Núcleos Tucunacá, Fortaleza e Flor Divina.

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