O Pequeno Príncipe e a mensagem da rosa na UDV

| 4 Julho, 2024

Arte: Thais Bolton.

Na manhã de 31 de julho de 1944, o aviador francês e autor do célebre livro O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, fez sua última decolagem e sumiu no mar Mediterrâneo. Neste ano de 2024, 80 anos após sua partida, diversos veículos de comunicação no mundo inteiro rememoram os feitos de Saint-Exupéry, entre eles, a fábula infantil d’O Pequeno Príncipe – uma obra rica em simbolismo. Graças a um presente de um irmão da União do Vegetal (Geraldo Carvalho) ao Mestre Gabriel, essa fábula passa a fazer parte do acervo sonoro do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal, reforçando a mensagem do fundador desta Sagrada Obra: a mensagem da rosa.

Na data de hoje, disponibilizamos novamente o texto de autoria do Conselheiro Tito Liberato*, publicado em julho de 2020 no Blog da UDV, por ocasião dos 120 anos de nascimento de Antoine Marie Jean-Baptiste Roger Foscolombe, Conde de Saint-Exupéry (1900-1944). Desejamos uma boa leitura!

No dia 29 passado, Antoine Marie Jean-Baptiste Roger Foscolombe, Conde de Saint-Exupéry (1900-1944), faria 124 anos. É dele a autoria do clássico O Pequeno Príncipe, um livro que, embora numa linguagem infantil, faz uma abordagem altamente espiritualizada da vida. Uma das belíssimas lições do livro é a respeito do ‘cativar’, criar laços, mensagem que o Mestre Gabriel também pregava, conclamando seus discípulos a zelarem pela amizade. É célebre a frase “Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante”. Foi nesse contexto que a história d’O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, passou a fazer parte do acervo utilizado por Mestre Gabriel nas Sessões da União do Vegetal.

Geraldo Carvalho – irmão dos Mestres Florêncio e José Carvalho – bebeu o Vegetal em Porto Velho, então território federal do Guaporé, na presença do Mestre Gabriel, por quem, no início, sentiu afeição, mas precisava de um pouco mais de “provas” pra reconhecê-lo como seu Guia Espiritual. Numa das iniciativas de testar o Mestre, ele o presenteou com o disco d’O Pequeno Príncipe e pediu que o Mestre Gabriel fizesse uma Chamada por dentro do disco. Esse pedido foi feito por meio de fita K7, uma vez que Geraldo Carvalho morava em Manaus-AM, onde a UDV estava iniciando suas atividades. Como não era possível fazer “por dentro do disco”, uma vez que o disco já estava gravado, Mestre Gabriel fez uma Chamada “por fora do disco” – palavras dele em resposta ao pedido – e mandou a gravação para Geraldo Carvalho.

A partir daí, a gravação d’O Pequeno Príncipe passou a ser utilizada também nas sessões da UDV por Mestre Gabriel. Mestre José Luiz de Oliveira, integrante do Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel, sentiu naquela época que Mestre Gabriel também usou a mensagem para anunciar sua despedida deste plano, como acontece no livro.

Biografia de Saint-Exupéry (1900-1944) e sua obra literária

Antoine Marie Jean-Baptiste Roger Foscolombe, Conde de Saint-Exupéry, era francês, filho de aristocratas endividados e empobrecidos. Foi escritor, jornalista, ilustrador e piloto de avião.

As obras literárias de Saint-Exupéry eram inspiradas em sua experiência de aviador, mas foi após uma pane no deserto do Saara, em 1935, que escreveu O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince), sua obra mais importante.

Seu enredo desenvolve-se a partir da fuga do Pequeno Príncipe de seu asteroide, o B-612, após se desentender com uma rosa bonita, porém, vaidosa.

Em sua jornada, visita diversos planetas, que representam universos particulares: o acendedor de lampiões, a quem só importa cumprir o regulamento; o rei sem súditos, mas que se considerava monarca universal que a todos governava; um vaidoso, que vivia a tirar o chapéu, achando que todos viviam a aclamá-lo; um bêbado, que bebia para esquecer a vergonha que tinha de beber; um empresário, que se considerava uma pessoa séria e passava o dia contabilizando as estrelas, porque se julgava dono delas e, por isso, muito rico; por fim, o geógrafo, que estudava seu planeta, mas não o conhecia, porque precisava de exploradores que não tinha. Foi esse último que lhe indicou a Terra para conhecer, porque gozava de boa reputação.

Em sua aproximação com uma raposa, aprende que o que importa neste mundo é criar laços, cativar e ser cativado, pois o essencial é invisível aos olhos. Percebe que amava deveras a rosa que deixou em seu asteroide.

Ao fim, querendo voltar para o lugar de onde veio, o Pequeno Príncipe entrega-se ao veneno de uma serpente, aquela que, através da morte, desvenda todos os mistérios e resolve todos os enigmas.

Seu amigo aviador, tomado do sentimento da futura saudade, lamenta sua partida, mas o Pequeno Príncipe o conforta, garantindo que permaneceria vivo, habitando uma estrela, e lá estaria sorrindo. Ao olhar o céu, ouviria seu riso, sorriria também e seria consolado. Assim, seu amigo ficaria contente por tê-lo conhecido, pois teria estrelas que riem, como milhões de guizos iluminando a escuridão.

Através de sua viagem, o Pequeno Príncipe realiza uma jornada no mundo dos adultos, descobrindo que “é preciso ser muito tolerante com as pessoas grandes”, incapazes de enxergar um carneiro dentro de uma caixa ou um elefante dentro de uma jiboia fechada. Há um mundo invisível e que está muito além dos números e dos regulamentos. Para lá, haveremos de regressar quando compreendermos que só podemos conhecer bem aquilo que cativamos e que a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar, mas “é preciso suportar duas ou três larvas se quisermos conhecer as borboletas”.

O Legado

O escritor faleceu um ano após terminar de escrever O Pequeno Príncipe, num acidente aéreo, após decolar da Córsega, num vôo de reconhecimento sobre a França ocupada pelos alemães. Seu corpo nunca foi encontrado, o que fez surgir a lenda de que, tal qual o protagonista do seu livro, sofrera uma pane no deserto. Em 2004, destroços do avião que pilotava foram encontrados no mar, próximos a Marselha, na França. Um pescador francês encontrou uma pulseira prateada nas areias da praia, com o nome de Exupéry e de sua esposa, Consuelo.

Na década de 30, um jornalista lhe perguntou que tipo de morte preferiria. Escolheu a água: “Você não sente que está morrendo. Simplesmente sente que está caindo no sono e começando a sonhar”. Num mundo que estava mergulhado na 2ª Guerra Mundial, foi nas águas do Oceano Atlântico que Exupéry caiu no sono eterno e entregou-se ao sonho de um mundo sem guerras, onde um Príncipe pode preocupar-se com as rosas e aprender com as raposas a importância de criar laços.

Morreu aos 44 anos, exatamente o número de pores do sol que o Pequeno Príncipe assistia por dia em seu asteroide.

Homenagem

Rendemos nossas homenagens a este escritor que nos legou a história d’O Pequeno Príncipe, uma mensagem de amor e amizade. Embora com tom de despedida, mostra que a morte não encerra nossa jornada e traz uma nota de esperança no ser humano e na sua capacidade de construir um mundo melhor, como nos disse o próprio Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.

*Tito Liberato é integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Luz do Oriente (Brazlândia-DF).

*publicado anteriormente em 2 de julho de 2020.