O Pequeno Príncipe e a mensagem da rosa na UDV

| 2 Julho, 2020

Tito Liberato*

Arte: Thais Damião.

No dia 29 passado, Antoine Marie Jean-Baptiste Roger Foscolombe, Conde de Saint-Exupéry (1900-1944), faria 120 anos. É dele a autoria do clássico O Pequeno Príncipe, um livro que, embora numa linguagem infantil, faz uma abordagem altamente espiritualizada da vida. Uma das belíssimas lições do livro é a respeito do ‘cativar’, criar laços, mensagem que o Mestre Gabriel também pregava, conclamando seus discípulos a zelarem pela amizade. É célebre a frase “Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante”. Foi nesse contexto que a história d’O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, passou a fazer parte do acervo utilizado por Mestre Gabriel nas Sessões da União do Vegetal.

Geraldo Carvalho – irmão dos Mestres Florêncio e José Carvalho – bebeu o Vegetal em Porto Velho, então território federal do Guaporé, na presença do Mestre Gabriel, por quem, no início, sentiu afeição, mas precisava de um pouco mais de “provas” pra reconhecê-lo como seu Guia Espiritual. Numa das iniciativas de testar o Mestre, ele o presenteou com o disco d’O Pequeno Príncipe e pediu que o Mestre Gabriel fizesse uma Chamada por dentro do disco. Esse pedido foi feito por meio de fita K7, uma vez que Geraldo Carvalho morava em Manaus-AM, onde a UDV estava iniciando suas atividades. Como não era possível fazer “por dentro do disco”, uma vez que o disco já estava gravado, Mestre Gabriel fez uma Chamada “por fora do disco” – palavras dele em resposta ao pedido – e mandou a gravação para Geraldo Carvalho.

A partir daí, a gravação d’O Pequeno Príncipe passou a ser utilizada também nas sessões da UDV por Mestre Gabriel. Mestre José Luiz de Oliveira, integrante do Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel e Mestre Assistente Geral da UDV, sentiu naquela época que Mestre Gabriel também usou a mensagem para anunciar sua despedida deste plano, como acontece no livro.

Biografia de Saint-Exupéry (1900-1944) e sua obra literária

Antoine Marie Jean-Baptiste Roger Foscolombe, Conde de Saint-Exupéry, era francês, filho de aristocratas endividados e empobrecidos. Foi escritor, jornalista, ilustrador e piloto de avião.

As obras literárias de Saint-Exupéry eram inspiradas em sua experiência de aviador, mas foi após uma pane no deserto do Saara, em 1935, que escreveu O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince), sua obra mais importante.

Seu enredo desenvolve-se a partir da fuga do Pequeno Príncipe de seu asteroide, o B-612, após se desentender com uma rosa bonita, porém, vaidosa.

Em sua jornada, visita diversos planetas, que representam universos particulares: o acendedor de lampiões, a quem só importa cumprir o regulamento; o rei sem súditos, mas que se considerava monarca universal que a todos governava; um vaidoso, que vivia a tirar o chapéu, achando que todos viviam a aclamá-lo; um bêbado, que bebia para esquecer a vergonha que tinha de beber; um empresário, que se considerava uma pessoa séria e passava o dia contabilizando as estrelas, porque se julgava dono delas e, por isso, muito rico; por fim, o geógrafo, que estudava seu planeta, mas não o conhecia, porque precisava de exploradores que não tinha. Foi esse último que lhe indicou a Terra para conhecer, porque gozava de boa reputação.

Em sua aproximação com uma raposa, aprende que o que importa neste mundo é criar laços, cativar e ser cativado, pois o essencial é invisível aos olhos. Percebe que amava deveras a rosa que deixou em seu asteroide.

Ao fim, querendo voltar para o lugar de onde veio, o Pequeno Príncipe entrega-se ao veneno de uma serpente, aquela que, através da morte, desvenda todos os mistérios e resolve todos os enigmas.

Seu amigo aviador, tomado do sentimento da futura saudade, lamenta sua partida, mas o Pequeno Príncipe o conforta, garantindo que permaneceria vivo, habitando uma estrela, e lá estaria sorrindo. Ao olhar o céu, ouviria seu sorriso, sorriria também e seria consolado. Assim, seu amigo ficaria contente por tê-lo conhecido, pois teria estrelas que riem, como milhões de guizos iluminando a escuridão.

Através de sua viagem, o Pequeno Príncipe realiza uma jornada no mundo dos adultos, descobrindo que “é preciso ser muito tolerante com as pessoas grandes”, incapazes de enxergar um carneiro dentro de uma caixa ou um elefante dentro de uma jiboia fechada. Há um mundo invisível e que está muito além dos números e dos regulamentos. Para lá, haveremos de regressar quando compreendermos que só podemos conhecer bem aquilo que cativamos e que a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar, mas “é preciso suportar duas ou três larvas se quisermos conhecer as borboletas”.

O Legado

O escritor faleceu um ano após terminar de escrever O Pequeno Príncipe, num acidente aéreo, após decolar da Córsega, num vôo de reconhecimento sobre a França ocupada pelos alemães. Seu corpo nunca foi encontrado, o que fez surgir a lenda de que, tal qual o protagonista do seu livro, sofrera uma pane no deserto. Em 2004, destroços do avião que pilotava foram encontrados no mar, próximos a Marselha, na França. Um pescador francês encontrou uma pulseira prateada nas areias da praia, com o nome de Exupéry e de sua esposa, Consuelo.

Na década de 30, um jornalista lhe perguntou que tipo de morte preferiria. Escolheu a água: “Você não sente que está morrendo. Simplesmente sente que está caindo no sono e começando a sonhar”. Num mundo que estava mergulhado na 2ª Guerra Mundial, foi nas águas do Oceano Atlântico que Exupéry caiu no sono eterno e entregou-se ao sonho de um mundo sem guerras, onde um Príncipe pode preocupar-se com as rosas e aprender com as raposas a importância de criar laços.

Morreu aos 44 anos, exatamente o número de pores do sol que o Pequeno Príncipe assistia por dia em seu asteroide.

Homenagem

Rendemos nossas homenagens a este escritor que nos legou a história d’O Pequeno Príncipe, uma mensagem de amor e amizade. Embora com tom de despedida, mostra que a morte não encerra nossa jornada e traz uma nota de esperança no ser humano e na sua capacidade de construir um mundo melhor, como nos disse o próprio Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.

*Tito Liberato é integrante do Corpo do Conselho da Sede Geral (Brasília-DF).

*texto atualizado em 03 de julho de 2020, 13:03. 

37 respostas
  1. Ângelo Reis
    Ângelo Reis says:

    Belo texto, mostrando com detalhes partes dessa linda história que o nosso Mestre introduziu na União como um valioso ensino. Me lembrei do M Geraldo Carvalho que, por algumas vezes, o escutei narrando essa história. Ele dizia que o disco que havia mandado para o M Gabriel pertencia a sua filha, Graciete Carvalho, onde a mesma ainda hoje também lembra com alegria. “O que preciso fazer para cativar? Precisa ser paciente…” São tantas pérolas que essa história nos trazem, parabéns ao Blog pelo registro.

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  2. Paulo Tasso Freire
    Paulo Tasso Freire says:

    Prezados, o LP remetido ao Mestre Gabriel, era do acervo da jovem Graciete Carvalho, uma das filhas do prezado amigo Mestre Geraldo. Hoje Conselheira Graciete é sócia no Núcleo Princesa Sama, 2a.Regiao. Cidade de Manaus. Uma conversa com ela tornaria mais rico texto a respeito desta justa homenagem. Ao escritor, a *inteligência do Geraldo* e a amiga e irmã Graciete. LPA

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  3. Sandra Mota
    Sandra Mota says:

    Gostei muito dessa publicação porque textualmente trouxe algumas associações sobre a História do Pequeno Príncipe, sua relação com a UDV e minha própria experiência de viver a VIDA!!.
    Considero que para esse exato momento é uma contribuição social especial haja visto que no Brasil tem sido notificado um aumento do índice de violência intra doméstica ampliada pela necessidade de isolamento social.
    Nesse Sentido a reflexão sobre o CATIVAR e o AMOR fortalece a UNIÃO, a compreensão, a visão do valor da família e das coisas mais simples nas nossas vidas.
    Precisamos de um ambiente saudável dentro e fora de nós. HARMONIA!!
    Parabéns C.Tito Liberato e equipe do Blog.
    Gratidão. LPA
    Sandra Mota – N Salvador / BAHIA

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  4. Miguel Almeida
    Miguel Almeida says:

    Achei muito interessante a matéria, bonita bem escrita trazendo informações a respeito da obra e da vida este autor francês, que inclusive em suas viagens chegou a passar pelo Brasil.
    Na parte que fala do pedido do Geraldo ao Mestre, foi per meio de uma fita K7 que ele gravou umas palavras, o pedido, e enviou à Porto Velho junto com o LP.

    RESPOSTA: Grato, Caro Miguel. Texto atualizado.

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  5. JOELDA COELHO DA SILVA SANTOS
    JOELDA COELHO DA SILVA SANTOS says:

    Eis o meu segredo, é muito simples, só se vê bem com o coração o essencial é invisível para os olhos….Ah, são tantas frases maravilhosas que a minha vontade é de escrever todas elas. Este livro é riquíssimo em ensinamentos não só sobre amizade, mas também nos ensina sobre a vida, a importância de nosso espírito, que a “morte não existe,” a importância da água, a importância de não sermos orgulhosos e vaidosos, são tantos os ensinamentos… saudemos este maravilhoso autor que com grande simplicidade trouxe este tesouro pra humanidade que é este livro.

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  6. Jairo Santos
    Jairo Santos says:

    Prezado Tito, muito grato por esse texto. Essa é uma história muito preciosa. Saint Exupéry escreveu, Geraldo foi o mensageiro e chegou no Sertão, comprovando que o Mestre sempre é o Mestre.

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  7. Samy Castro
    Samy Castro says:

    Que nobre atitude do Mestre com seu discipulo, distante fisicamnete, mas perto do seu coração, nos ensinando a importância, neste caminho, da amizade, do cativar e de ser cativado. Outro detalhe importante foi a nobreza do M. Geraldo em afirmar que não enviou o disco consciente, demonstrando a honestidade e a sinceridade.

    Samy Castro
    N. Menino Deus

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  8. PATRICK ROZATTI CAMILO
    PATRICK ROZATTI CAMILO says:

    Belo texto! C. Tito descreveu com belas palavras a mensagem e o autor Exupéry. E o Blog da UDV sempre nos informando e contando mais histórias. Show.

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  9. Renato Rocha
    Renato Rocha says:

    Belo texto e ilustração!

    Interessante notar também que em sua biografia o Conde de Exupéry, enquanto piloto de avião da companhia francesa Aeropostale, transportou correspondências entre a Europa, África e América Latina. Nesse ofício passou por algumas cidades litorâneas Brasil. Uma dessas cidades foi Florianópolis que hoje, em seu distrito do Campeche, está a Avenida Pequeno Príncipe cujo nome foi escolhido em homenagem ao Sr. Zé Perri, que tornou-se personagem na memória dos moradores daquela região da ilha que foi por ele visitada entre as décadas de 1920 a 1940.

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  10. Alba Liberato
    Alba Liberato says:

    Muito edificante a lembrança da paciência na arte de cativar, que só pode se dar um dia após o outro, jamais de forma instantânea, porém passo a passo, encontro a encontro, dia a dia. Continuemos a nos deixar cativar pelo Mestre Gabriel, amigo de todos, para que cresça e floresça em nós o cativar entre nós, irmãos.

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  11. Adriano Flavio Santos da Rocha
    Adriano Flavio Santos da Rocha says:

    Linda esta homenagem, e uma gratidão ao Mestre Gabriel, por fazer chegar em nossos corações mensagens tão importantes. Me senti bem feliz quando escutei em sessões. Lindo livro, como também o Voo Noturno (que ao meu ver mostra uma clarevidência de Saint Exupery) e O Amor do Pequeno Príncipe.
    Abraços Fraternos! Adriano Flávio Santos da Rocha – Núcleo Pau D’arco – 10° Região

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  12. Erika Madelaine
    Erika Madelaine says:

    Que texto belíssimo, retratando essa tão importante história e a tão importante arte de cativar, de ter amigos na vida.
    Parabéns, C. Tito.

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  13. Reyla
    Reyla says:

    Uma grande contribuição esse texto! Parabéns! Também vejo essa obra como uma joia rara que foi dada a humanidade. A semelhança entre ela e a história do nosso Mestre é muito bonita e pode ser percebida em vários aspectos, como no trecho “É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar”.

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  14. Thaynara Nogueira da Silva
    Thaynara Nogueira da Silva says:

    Achei muito digna a homenagem Uma vez que essa história me cativou muito… Quando no livro fala a respeito do “Drama dos Baobás”, o narrador nos diz que é preciso ter disciplina pois quando em semente, os baobás e rosas não são diferentes mas quando os baobás crescem – no caso do asteróide do Pequeno Príncipe – poderia destruir o seu planeta! Pois são gigantes as árvores de baobás! Já as rosas podem trazer alegrias para seu planeta…Traduzindo pra nós, esse drama dos Baobás seria de não deixar coisas que não são boas crescerem em nosso coração. Grande é a lição do Pequeno Príncipe que Antonie nos deixou. Gratidão pelo texto

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  15. Sérgio Pinho dos Santos
    Sérgio Pinho dos Santos says:

    Belo texto, com excelente síntese, onde o “essencial” está bem visível aos olhos!
    É o AMOR DO MESTRE, que deixou o Espírito que É, continuar seu trabalho com A ESTRELA DIVINA UNIVERSAL! Grato, C. Tito.

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  16. ANDRE LUIZ CAIXETA
    ANDRE LUIZ CAIXETA says:

    Belíssimo texto.
    Estou encantado com a história deste grande escritor. E com a do livro. Não o li, embora tenha ouvido falar muito.
    E desconhecia também esta ligação do livro com o Mestre Gabriel e os ensinos da UDV.
    Despertou-me o interesse na leitura do livro, bem como em aprofundar mais nos ensinos do Mestre.

    Responder
  17. Kennedy Saldanha
    Kennedy Saldanha says:

    C. Tito, o seu texto nos conduz com a mesma sensibilidade que Exupery nos apresenta o príncipe menino. Gratidão por nos compartilhar seu dom no uso das palavras. Viva Mestre Gabriel e Mestre Geraldo Carvalho por nos proporcionarem momentos de encantamento com um recorte desta história em sessão.

    Responder
  18. Raimunda Aporcino de Almeida
    Raimunda Aporcino de Almeida says:

    Bem oportuno rever esta mensagem do “Cativar” na obra de Exupéry. Nos 40 anos que tenho de UDV, ouvi o disco em sessões algumas vezes quando o Mestre Geraldo era representante no Núcleo Tiuaco – Manaus.

    Parabéns pela excelente interpretação do conteúdo, que traz com clareza, ritos significativos e a relação com a obra do nosso grande Mestre Gabriel. Gratidão- LPA

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  19. Camila de Carvalho
    Camila de Carvalho says:

    Que belo texto nos lembrando dessa história tão especial e atual nos dias de hoje. Gratidão à equipe do blog da UDV por nos trazer mais detalhes da vida de Saint-Exupéry e de como a história d’O Pequeno Príncipe chegou à União. Que suas mensagens estejam vivas em nossos corações.

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  20. Estêvão Daltro
    Estêvão Daltro says:

    Sempre fui uma admirador de Saint-Exupéry. Para mim, quando cheguei na UDV, saber que o M. Gabriel se utilizava da estória do pequeno príncipe nas sessões, foi mais uma confirmação que a União era um bom lugar para seguir. Esta homenagem valiosa, à quem sabe sintetizar tantos ensinamentos em um estória para leitores todas as idades. Belo texto, grato

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  21. Andreza de Araujo
    Andreza de Araujo says:

    Acabei de assistir com minha filha o filme na Netflix. Quando era mais nova, costumava ler MT, e umas das histórias que passou em minhas mãos foi esse.
    De início lembro que não entendi muito, mas dps de ler outras vezes pude entender muita coisa!! O essencial de fato é invisível aos olhos!!! Belíssimo texto! Boa noite ❤️

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