Núcleo Estrela Divina: nas origens da União do Vegetal
Mayko de Souza Aguiar*
| 31 março 2017
No dia 27 de março, inteirou 34 anos que o Núcleo Estrela Divina, em Plácido de Castro (AC), foi elevado à condição de Pré-Núcleo (designação existente à época). Mas a história do Estrela Divina é bem mais antiga, e está ligada às origens da União do Vegetal (UDV) nos seringais da Amazônia.
Na época em que o Mestre Gabriel começou a distribuir o Vegetal aos seus primeiros discípulos, Plácido de Castro era uma vila que servia de ponto de encontro para os seringueiros que trabalhavam e viviam nas “colocações” próximas dali.
A primeira sessão dirigida pelo Mestre Gabriel naquele local aconteceu no início da década de 1960, quando ele passou pela Vila Plácido de Castro, regressando de uma viagem a Rio Branco (AC), onde foi tratar da saúde do seu filho mais velho, Getúlio. A partir dessa data, o Mestre esteve algumas vezes em Vila Plácido (como também era chamada), dirigindo sessões e fazendo seu trabalho de ensinar o caminho do bem para as pessoas. Foi ele quem deu o nome de Estrela Divina ao lugar onde essas sessões eram realizadas.
Após 1965, quando o Mestre Gabriel se mudou dos seringais para Porto Velho com sua família, a distribuição de Vegetal de Plácido de Castro foi desligada da UDV, pois os que lá ficaram não deram continuidade aos trabalhos conforme ensinado pelo Mestre.
Reinício dos trabalhos
A distribuição de Vegetal pela UDV em Plácido de Castro só reiniciou em 1979, após o desencarnamento do Mestre Gabriel. Na época, o Mestre José Pereira, também conhecido como Mestre Zé Pretinho (pessoa de fundamental importância na criação do Núcleo Estrela Divina), pediu à Mestre Pequenina, companheira do Mestre Gabriel, para recomeçar os trabalhos.
Ela então acompanhou Zé Pretinho à Plácido de Castro levando os documentos que são lidos nas Sessões. Após realizar uma sessão na casa de um senhor chamado José Siqueira Filho e explicar como funciona a UDV, Mestre Pequenina perguntou aos presentes quem queria seguir na UDV. Dez irmãos responderam positivamente: José Pereira da Silva, José Siqueira Filho, José Radier de Oliveira, Edilson Oliveira de Sá, Pedro Neres de Almeida, João Soares Ferreira, Lucas Afonso da Silva, Dilmo Martins da Silva, Guilherme Balica Ribeiro e Francisco Joaquim da Conceição, conhecido como Chico Mariri.
Esse grupo de irmãos seguiu bebendo o Vegetal na casa do senhor José Siqueira. Mas, devido às dificuldades para se chegar ao local no período do inverno amazônico, aceitaram então o convite do senhor Radier para beberem o Vegetal na olaria dele, da mesma forma como fazia o Mestre Gabriel em Porto Velho.
Eles permaneceram na olaria algum tempo, até que passaram a beber o Vegetal em uma área cedida pelo senhor Edmilson Ferreira. Ele construiu uma casa no local, com mesa e bancos para realização das sessões. Um dia, porém, ao chegar nesse local, o grupo viu que tudo o que eles tinham havia sido jogado num Igarapé próximo dali. Eles então voltaram a comungar o Vegetal na olaria do Radier. Pouco tempo depois, conseguiram um terreno de 80x80m, doado pela prefeitura, onde até hoje funciona o Núcleo Estrela Divina.
Em 27 de março de 1983, o Mestre Monteiro, que na época ocupava o lugar de Mestre Geral Representante, designou o Mestre José Pereira para Mestre Representante e o Estrela Divina passou à condição de Pré-Núcleo, tendo sido elevado a Núcleo seis anos depois, em 27 de março de 1989.
Núcleo Estrela Divina hoje
O Mestre Pedro Brás de Oliveira está no lugar de Mestre Representante e o Mestre Sidon Silva Feitosa, no cargo de Presidente. O Núcleo possui atualmente 44 sócios, sendo cinco do Quadro de Mestres, doze do Corpo do Conselho, vinte do Corpo Instrutivo e sete do Quadro de Sócios. É uma irmandade que conta com sócios antigos, discípulos que chegaram há menos tempo, e também com familiares do Mestre Sidon e da Conselheira Losa, pessoas que conviveram com o Mestre Gabriel e que vieram auxiliar no desenvolvimento desse trabalho.
Com o apoio dessa irmandade e o auxílio de alguns núcleos, o Núcleo Estrela Divina vem renovando suas instalações físicas para atender bem as pessoas que vêm chegando à UDV e os visitantes que vêm em busca de conhecer este lugar cuja história está ligada à própria história da criação da UDV nos seringais da Amazônia.
Primeira Diretoria
A primeira Diretoria era constituída pelos seguintes membros:
Presidente – Guilherme Balica Ribeiro
Vice-presidente – Pedro Braz de Oliveira
1º secretário – João Nunes Ferreira
2ª secretária – Francisca Pereira Monte Ferreira
1º Tesoureiro – Edilson Oliveira de Sá
2º Tesoureiro – Pedro Neres de Almeida
Orador Oficial – José Radier de Oliveira
1º membro do Conselho Fiscal – Ivanilde Neres de Oliveira
2º membro do Conselho Fiscal – Sebastião José Guimarães.
–
* Coordenador Regional da Diretoria Geral da 7ª Região e integrante do Quadro de Mestres do Núcleo João Lango Moura (Rio Branco – AC). Contribuíram com informações os senhores José Radier de Oliveira (integrante do Quadro de Sócios do Núcleo Estrela Divina), Edilson Oliveira de Sá (integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Estrela Divina), Carlos Cley (Coordenador Regional DMC da 7ª Região e integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Belo Jardim, Rio Branco – AC) e José Roberto S. Barbosa (Mestre Central da 7ª Região).
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Agradeço aos irmãos que organizam estas pequenas e importantes reportagens sobre os Núcleos da UDV.
Desta maneira posso saber mais da nossa história.
Gratidão!
Julia Motta
CDC NAC
Vejo a importância deste Núcleo na história da recriação da União. Vejo que é importante conhece-lo e também o lugar onde Mestre Gabriel fez a sessão em 06 de Janeiro de 1963. Nas expedições ao Seringal Novo Encanto, também vamos no Sunta e Plácido de Castro.
Estrela Divina, recomendo a visita a este lugar na cidade de Plácido de Castro, mais um lugar que se pode sentir a essência da UDV. Núcleo importante na linha do tempo da nossa União do Vegetal, há alguns anos quando por lá estive, junto com alguns irmãos, participamos de sessão, em suas dependências nos hospedamos por 3 dias…Tivemos também a oportunidade a partir da margens do rio Abunã que margeia a cidade, navegar algumas horas até o Seringal Sunta e dali também até a Novo Encanto …momentos inesquecíveis!