Mestre Braga: o legado que floresce no Núcleo Estrela do Norte e na União do Vegetal

Diana Braga*

| 12 novembro, 2025

Mestre Braga | Foto: Yuugi Makiuchi.

No dia 12 de novembro, data de nascimento de Raimundo Carneiro Braga e de criação do Núcleo Estrela do Norte (Porto Velho – RO), a irmandade celebra a trajetória de um homem que,  guiado pelo seu amor à esta obra santa e ao Mestre Gabriel, dedicou sua vida ao Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.

A história de Mestre Braga, como passou a ser chamado, é marcada por devoção, trabalho e gratidão. Dedicou mais de cinco décadas de sua vida à União do Vegetal, desempenhando um papel fundamental na consolidação e expansão da instituição.

Como sócio número três da UDV, esteve ao lado de Mestre Gabriel e Mestre Pequenina na construção dos alicerces da instituição, contribuindo com esforço, fidelidade e amor pela Obra.

“Por tudo o que recebi do Mestre Gabriel, que fez tudo pela minha felicidade, o que posso fazer é contribuir com esse trabalho que venho fazendo pelo engrandecimento da União do Vegetal e procurar, da melhor maneira, ser amigo dos discípulos, porque eu sou um deles. Isso é um dever meu.”

Esse senso de dever o conduziu por uma trajetória marcada pela entrega e pelo amor ao Mestre. Em suas palavras mais conhecidas, ressoa a força da sua convicção espiritual:

“Se um dia as autoridades quisessem fechar a UDV e precisassem de uma demonstração pra não fazer, eu aceitaria ir pra cruz como Jesus, para salvar a União do Vegetal.”

Início da missão

O destino uniu Mestre Braga à União do Vegetal em 1965. Naquele tempo, a União ainda dava seus primeiros passos, reunindo familiares de Mestre Gabriel e alguns poucos discípulos.

Mesmo com pouca estrutura material, seu Braga logo reconheceu a grandeza daquele trabalho espiritual conduzido com serenidade e sabedoria por Mestre Gabriel.

“Desde que eu cheguei, eu reconheci. Eu digo: é o meu caminho. De bem material não tinha nada, mas tinha tudo, porque tinha o Mestre ali presente para nos ensinar.”

Servir com amor e obediência

Desde os primeiros tempos, Mestre Braga se colocou à frente dos trabalhos, oferecendo o que tinha e o que sabia, guiado pela convicção de que “quem trabalha pela União colhe sempre bons frutos.”

“Naquele tempo, eu era uma das poucas pessoas que tinha carro. Terminava a Sessão, enchia minha picape de gente e saía distribuindo naquele mundo todo, deixando cada um em sua casa. O último a chegar era eu. Eu cheguei pra dar as mãos mesmo, pra fazer as coisas pela União do Vegetal.”

Equilibrou trabalho, família e espiritualidade com simplicidade e dignidade, tornando-se um verdadeiro Mestre pela Obediência, título que recebeu das mãos de Mestre Gabriel.

Assumiu grandes responsabilidades na União do Vegetal, sendo o primeiro a receber a responsabilidade de um Preparo de Vegetal diretamente de Mestre Gabriel, o primeiro Tesoureiro, o primeiro Conselheiro e o primeiro Mestre Representante do Mestre Gabriel (Mestre Representante do Mestre Geral), cargo que exerceu em duas ocasiões. Mais tarde, ocupou também o lugar de Mestre Geral Representante por quatro mandatos e, foi também Mestre Central de Região diversas vezes.

Foi ainda o primeiro Mestre a usar a faixa — que hoje é colocada em rodízio entre os Mestres Assistentes — e o único a vestir a camisa azul por autorização direta do Mestre Gabriel.

Após o desencarnamento do Mestre, o cargo de Representante do Mestre Geral passou a ser denominado Mestre Geral Representante (MGR). Mestre Braga exerceu essa função por cerca de dez anos, considerando os dois anos com Mestre Gabriel presente e os quatros mandatos posteriores, já após o desencarnamento do Mestre.

Deixou importantes legados: trouxe chamadas que se tornaram patrimônio espiritual da União (“Vem, oh Mestre Gabriel”, “Batismo Perfeito”, “Rei Inca e Hosca”, “União das Barquinhas” e “Justiça do Mestre Gabriel”) e foi braço forte na construção do primeiro Templo da UDV, hoje Núcleo Mestre Gabriel, em Porto Velho — Sede Histórica da UDV.

Inspirado pela Luz de Salomão, concebeu a fachada desse Templo, origem do modelo com três arcos, atualmente presente em todos os Núcleos da União do Vegetal.

Também foi responsável por instituir as cerimônias de Batismo e Casamento dentro da União, consolidando rituais que se tornaram parte da tradição do Centro.

Raízes no sertão, flores na Amazônia

Nascido em 12 de novembro de 1929, na pequena localidade de Sericora, interior do Ceará, Mestre Braga era o quarto dos nove filhos de Raimundo Ferreira Braga e Isabel Carneiro de Oliveira. Criado em meio à vida simples do sertão, ajudava o pai na lavoura e alimentava, desde menino, o sonho de conhecer a Amazônia.

No final da década de 1940, partiu do Ceará rumo ao Norte, no ciclo da borracha, passando por Belém (PA) e Manaus (AM) até chegar a Porto Velho (RO), justamente no dia do seu aniversário de 21 anos.

Ao desembarcar, declarou: “Nunca mais vou morar no Ceará. Esse é o meu lugar definitivo para viver o resto da minha vida”.

E assim fez. Viveu e construiu sua história em Rondônia, onde fundou o Núcleo Estrela do Norte, um dos pilares de sua missão espiritual.

Casado com a Conselheira Dionéa, pai de sete filhos e avô de 11 netos, Mestre Braga sempre expressou alegria e gratidão pela família que formou e pelas amizades que cultivou na União do Vegetal.

Templo do Núcleo Estrela do Norte, Porto Velho-RO | DMC/N. Estrela do Norte.

Presença que permanece

Mestre Braga desencarnou em 18 de janeiro de 2017, aos 87 anos, após cumprir sua missão.

Hoje, 12 de novembro de 2025, data em que completaria 96 anos, o Núcleo Estrela do Norte, fundado por ele, celebra 43 anos de existência.

Duas datas que se unem para lembrar a vida de um homem que colocou o coração e a força a serviço do bem, da União do Vegetal e do Mestre Gabriel.

Seu exemplo segue vivo — uma luz que orienta, uma estrela que brilha e um símbolo de devoção, lealdade e obediência à Obra Sagrada da União do Vegetal.


*Diana Braga integra o Corpo do Conselho do Núcleo Estrela do Norte (Porto Velho – RO, 1ª Região), é a 3ª filha de Mestre Braga e Conselheira Dionéa.