Mestre Bartolomeu, um líder nato

*Gilson Vargas

| 24 dezembro, 2017

Mestre Bartolomeu e família chegando em Goiânia | Foto: Gilson Vargas.

Bartolomeu Pinheiro do Nascimento chegou à União do Vegetal no ano de 1967 e teve a merecida oportunidade de conviver com o Mestre Gabriel, de quem recebeu o grau de Mestre em 28 de março de 1970.

Por sua valorosa contribuição à UDV e seu jeito cativante de ser, foi convidado pelo Mestre Raimundo Monteiro de Souza e pela Conselheira Zildinha de Souza para dar início aos trabalhos da UDV em Goiânia (GO). Assim, saiu de Ariquemes (RO) e chegou a Goiânia em dezembro de 1982, juntamente com sua companheira Inácia, sua filha Helena e seus filhos Valdivino e Reissalo.

Encontrou uma irmandade com poucas pessoas que viajavam de Goiânia para beber o Vegetal na Sede Geral, em Brasília-DF. Ele dizia que queria colocar o nome de Inca em um Núcleo por ser o começo da História da Hoasca, e queria iniciar um Núcleo pelo começo desta história.

O início do Núcleo Rei Inca

Em 1983, ele participou da aquisição do terreno e nesse mesmo ano foi inaugurado o Pré-Núcleo Rei Inca. Ele sempre foi muito dedicado às causas da UDV. Dizia que estava 24 horas à disposição dos discípulos, sempre mostrando amizade por todos. Era um trabalhador muito arrojado. Pegava no terçado (facão), como ele dizia, e ia limpando a área de mata virgem para dar início à construção do Templo de uma maneira muito rápida e com uma disposição de impressionar, e dizia: “Eu vou abrindo a picada e vocês vão dando o acabamento”.

Em menos de um ano, o Pré-Núcleo foi elevado a Núcleo, no dia 1° de maio de 1984. Essa data ele escolheu dizendo que, por ser dia do trabalhador, nós iríamos ter muito trabalho pela frente. Tornou-se assim sócio-fundador e também o primeiro Mestre Representante do Núcleo Rei Inca.

Já naquela época, ele começou um trabalho de formação de dirigentes, trazendo os ensinamentos do Mestre Gabriel, ensinando as chamadas, a dirigir Sessão, a preparar Vegetal, convocando pessoas para o Corpo Instrutivo, o Corpo do Conselho e em seguida para o Quadro de Mestres. E tudo isso ele fez em um período muito curto, do início de 1983 até o fim de 1985.

Momentos especiais

Me lembro que, em 1983, quando eu e o Hélio Gonçalves éramos do Corpo Instrutivo, estávamos participando de uma Sessão dirigida pelo Mestre Bartolomeu na chácara do pai do Hélio, pois não tínhamos ainda um local próprio da UDV em Goiânia. Mestre Bartolomeu levantou e começou a falar, e em um determinado momento ele disse: Irmão Gilson, venha até aqui e fique aqui do meu lado”. Fui e fiquei de pé ao lado dele. Ele continuou: “Irmão Hélio, venha aqui e fique aqui deste meu outro lado”, e assim o Hélio fez. Ele então colocou um braço no meu ombro, e o outro braço no ombro do Hélio, e, nesse momento, nós três de pé na cabeceira da mesa, ele me convocou juntamente com o Hélio para o Corpo do Conselho. Foi um momento de muita emoção. Ele fazia as coisas de uma maneira muito especial.

Dizia que “a UDV é um marco de progresso na história da humanidade”. Valorizava muito o Vegetal e dizia: “Nada se iguala à maneira que o Vegetal toca no íntimo de cada um”. Falava que “o que mais aflige a humanidade é a preocupação”. Tinha uma frase que virou um slogan dele: “Vamos desatar os nós e estreitar os laços”.

Houve também acontecimentos importantes do Mestre Bartolomeu com o Mestre Gabriel. Um dia, em uma Sessão, Mestre Bartolomeu pediu licença para falar e o Mestre Gabriel deu a licença. Só que o Mestre Bartolomeu decidiu colocar uma música primeiro antes de falar, mas a radiola não tocava. Tentou-se algumas vezes, mas não funcionava. Até que o Mestre Gabriel perguntou: “Mestre Bartolomeu, o senhor pediu licença para falar ou para colocar uma música?”. Mestre Bartolomeu respondeu: “Pedi para falar, mas estou querendo colocar primeiro a música porque vou falar umas palavras que têm a ver com o que a música fala”. E assim Mestre Gabriel disse: “Então você quer primeiro a licença pra colocar a música?”. Mestre Bartolomeu disse: “Sim”, e o Mestre Gabriel falou: “Então pode colocar a música”. Após a autorização do Mestre, a radiola funcionou e tocou a música.

Mestre Bartolomeu era uma pessoa muito alegre, tinha sempre um sorriso estampado no rosto, muito carismático. Quem se aproximava dele sentia uma liderança. Era muito habilidoso no trato com as pessoas. Tinha um nível de flexibilidade para entender o jeito de cada um. Era um psicólogo nato, com pouco tempo de conversa ele já traçava o perfil da pessoa. Tinha o dom da palavra, uma facilidade muito boa para expressar o que queria dizer com clareza e com firmeza. Era direto para dizer o que precisava ser dito e dizia para quem de direito. Deixou um Núcleo formado com alguns Mestres, Conselheiros e Conselheiras, que ele formou no curto período em que esteve no Núcleo Rei Inca. Nos deixou muito cedo. Fez a passagem na cidade de Goiânia, em março de 1986. Mas o que ele nos ensinou está para sempre guardado na memória e no coração.

*Gilson Vargas é Mestre Assistente Central da 8a Região.