Mestre Adamir, um amigo verdadeiro

Francinete Alves de Oliveira Giffoni*

| 31 julho, 2018

Entre as tradições e os valores cultivados pela União do Vegetal, a amizade e a prontidão para servir são qualidades observadas no Mestre Francisco Adamir Lima (Mestre Adamir), que hoje estaria inteirando 86 anos de idade. Desde o início de sua caminhada na UDV, Mestre Adamir esteve presente no convívio diário com o Mestre Gabriel, colaborando no que fosse necessário, com elevada sensibilidade espiritual, bondade e amor no coração.

Quando estava dirigindo uma Sessão de Vegetal e um irmão pedia licença pra fazer uma pergunta, ele dizia: “Pronto!”. E logo estava pronto a atender. Um dia, conversando com o Mestre Mesquita (hoje Mestre Assistente Central da 17ª Região), ele disse: “Nós temos sempre de ouvir os irmãos porque nós não sabemos o que eles querem”. E, realmente, a atitude de escuta, com respeito e disponibilidade, era característica do Mestre Adamir.

Na convivência com Mestres, Conselheiros e discípulos, reconhecia o valor de cada um. Sempre manteve um diálogo aberto e relacionamento bem próximo com os Mestres que, igualmente a ele, receberam a Estrela de Mestre da União do Vegetal das mãos do Mestre Gabriel. Procurava ter uma atitude de humildade e respeito quando se encontravam em Sessões e reuniões.

Numa dessas reuniões, a Convenção de Mestres da UDV de 1985, no Núcleo Samaúma (Araçariguama-SP), levou a proposta de criar um órgão incumbido de zelar pela Doutrina da União do Vegetal. Mestre Márcio Da Rós participou dessa criação. Segundo o Mestre Adamir, eles tiveram “o mesmo pensamento” e o Mestre Márcio Da Rós lembra a ele para apresentar a proposta na Convenção de 1985. A proposta foi aprovada e, em abril de 1987, aconteceu a primeira reunião do que é hoje o Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel, no Núcleo Mestre Rubens (Jaru-RO), com a presença de todos os Mestres formados pelo Mestre Gabriel.

Clique aqui e leia no Blog da UDV uma matéria a respeito dos 30 anos do primeiro encontro do Conselho da Recordação. 

De pé, da esquerda para direita: Mestres Pernambuco, Herculano, Jair, José Luiz, Florêncio, Braga, Nonato e Pequenina; sentados da esquerda para a direita: Mestres Sidon, Roberto Souto, Paixão, Adamir, Monteiro e Manoel Nogueira (Jaru – RO, 1987) | Foto: Yuugi Makiuchi.

Trajetória rápida na UDV

Mestre Adamir nasceu em 31 de julho de 1932 na cidade de Ubajara, Ceará. Fez a passagem em 28 de maio de 2001, em Fortaleza (CE). Em 1964 casou-se com Maria da Conceição Ferreira Lima (Conselheira Conceição). Tiveram cinco filhos: Alkimir, Nociley, Solidey, Adamira e Natália. Em sua primeira Sessão, dirigida pelo Mestre Braga, ouviu a História da Hoasca (em 24 de novembro de 1969) e, 15 dias depois, na segunda vez que bebeu o Vegetal, associou-se à UDV. Começou a frequentar a casa do Mestre Gabriel e assistir às Sessões nos sábados e nas quartas-feiras. Em 10 de fevereiro de 1970, Mestre Gabriel o convocou ao Corpo Instrutivo e em 28 de fevereiro de 1970, ao Corpo do Conselho, dentro de uma Sessão Instrutiva na Olaria de Mestre Gabriel.

Em novembro de 1970 acompanhou o Mestre Gabriel em viagem a Fortaleza para tratamento de saúde. Em 27 de março de 1971, recebeu a Estrela de Mestre. Poucos dias antes, em 19 de fevereiro de 1971, Mestre Gabriel, em Fortaleza, ainda no hospital, lhe escreve uma carta iniciando com as seguintes palavras: “Prezado amigo, e Mestre, Adamir, Luz, Paz e Amor”. Dessa forma demonstra que o considera um Mestre e também um amigo.

Mestre Adamir e Mestre Sidon, amigos para sempre

Mestre Adamir e Mestre Francisco dos Anjos Feitosa (Mestre Sidon) residiam em Jaru quando fundaram o Núcleo Mestre Rubens, em 1974, sendo o Mestre Adamir o Mestre Representante por 13 anos. A respeito da amizade do Mestre Adamir com o Mestre Sidon, diz a Conselheira Losa, esposa de Mestre Sidon: “É comparado a dois irmãos unidos, nenhum queria ser maior que o outro, e nos ensinos da União, um complementava o outro”. É verdade. Percebia-se no convívio e nas atitudes de zelo pela União o quanto eram amigos e solidários um ao outro.

Naquele período, Mestre Adamir comprou um sítio com Chacrona e Mariri nativos e desenvolveu ali um extenso plantio. Com a ampliação desse trabalho de cultivo, auxiliava os Núcleos de São Paulo e Rio de Janeiro, realizando Preparos, levando a mensagem e também mudas para o plantio. “Quase todos os meses ele viajava levando mensagem”, relata seu filho Solidey.

Também recebia em Jaru muitos visitantes que vinham buscar mensagens ou realizar Preparos. Conselheira Conceição lembra que uma vez chegaram 72 irmãos de São Paulo com o Mestre  Raimundo Pereira da Paixão (Mestre Paixão) e todos se hospedaram na casa do Mestre Adamir. Eram momentos festivos, de confraternização com os Núcleos mais próximos, fortalecendo a amizade entre as irmandades do Norte e do Sul.

Visitas frequentes ao Ceará

Conheci o Mestre Adamir em Fortaleza, em 1985. Ele estava trazendo uma mensagem de Chacrona de Jaru com Mestre Sidon para um Preparo. Por ser cearense e muito dedicado a sua família de origem, visitava com frequência seus parentes em Ubajara e sempre trazia Chacrona de Jaru, dirigia Sessões, transmitindo ensinos e orientações. Depois conheci a Conselheira Conceição, quando veio para o nascimento de sua filha Natália, que ocorreu em 11 de janeiro de 1986, em Fortaleza.

Daí nasceu também uma amizade com a família do Mestre Adamir e do Mestre Sidon. Numa conversa, Mestre Sidon me disse que a Conselheira Losa gostaria de morar perto do mar, mas que ele não poderia deixar o Núcleo de Jaru, porque se sentia responsável  por ter lançado aquela semente, junto com o Mestre Adamir, e que precisava continuar zelando.

Em Fortaleza, Mestre Central da 11ª Região

Nos fins dos anos de 1990, Mestre Adamir precisou dar mais atenção à sua saúde e por isso começou a realizar mais algumas viagens a Fortaleza, onde irmãos médicos o atendiam com dedicação e carinho, da mesma forma como ele, há tantos anos, cuidou do Mestre Gabriel, nessa mesma cidade. Como médica e amiga da família, também participava com zelo desses cuidados. Vivemos momentos de alegria, que ele nos inspirava, quando viajávamos, também com meu esposo, Mestre Vicente de Paula Giffoni Filho, para participar de Sessões em Natal, Caruaru, Recife, Sobral, Crato e Teresina.

Numa dessas vindas, Mestre Adamir intuitivamente previu o nascimento de minha filha, Flora. Ele falou sorrindo e olhando para mim: “A senhora está com cara de gestante”. Eu disse brincando: “Se for mesmo, o senhor será o padrinho”. E deu certo. Sua afilhada nasceu em 7 de janeiro de 1996. Desde então, ele é nosso compadre e a Conselheira Conceição é a querida “comadre”.

Nesse tempo eles se organizaram para residir no Ceará. Compraram um apartamento perto do mar, um sítio e trouxeram os filhos. No dia 6 de janeiro do ano 2000, Mestre Adamir recebeu das mãos do então Mestre Geral Representante, José Luiz de Oliveira, o cargo de Mestre Central da 11ª Região (Ceará, Piauí e Maranhão). Sua presença mais constante veio fortalecer a amizade construída ao longo de anos com a irmandade dessa Região. Tivemos oportunidades de conhecer mais sua espiritualidade, observando o quanto ele percebia o sentimento das pessoas, a forma como explicava a importância dos mistérios das palavras e o sentimento verdadeiro de fidelidade aos ensinos do Mestre.

Dedicou-se à irmandade de Teresina que iniciava o trabalho de implantação do Núcleo, que em 31 de julho de 2002 (dia de seu aniversário) recebe o nome de “Mestre Adamir”, desmembramento do Núcleo Mestre Sidon (Sobral-CE). E hoje temos na 11ª região dois Núcleos com o nome desses inseparáveis amigos, Mestre Adamir e Mestre Sidon, seguindo o mesmo propósito de amizade e união que aprenderam com o Mestre Gabriel.


>>>Leia também: Mestre Adamir, um pacificador


*Francinete Alves de Oliveira Giffoni é integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Linha de Tucunacá (Fortaleza-CE).

9 respostas
  1. José Radier
    José Radier says:

    Grato C. Francinete por compartilhar conosco sua valorosa convivência com M. Adamir! Forte abraço à todos os amigos da 11ª região e, em especial, à irmandade do N. Mestre Adamir que está em festa na data de hoje!

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  2. Jean Carlos Freire Lima
    Jean Carlos Freire Lima says:

    O Mestre Adamir por seu zelo ao Mestre tornou-se um de seus mais valorosos discípulos. Um mestre que tem uma bela trajetória de bons serviços prestados à UDV. Há outro ponto a se destacar em sua trajetória: o Acre. Residiu aqui por aproximadamente dez anos e até hoje é lembrado por seu jeito de ser: manso, cativante e atencioso com os irmãos.

    Chegou ao Acre pra somar. Foi Mestre Representante do Núcleo João Lango Moura e Mestre Central da 7.ª Região. Nesse trabalho sempre primou pelo bom convívio da irmandade, pela união das pessoas e da paz. Um período de prosperidade pra UDV nessa região. Antes, o Acre era ligado a 1.ª Região da UDV e com a vinda dele, após um tempo, em 1996, houve a criação da 7.ª Região. Incentivou a criação dos Encontros em nossa região. Uma forma de aproximar as pessoas de outras localidades a se conhecerem e confraternizar. Trabalhou de maneira especial a formação de dirigentes. O resultado disso é que tanto na 7.ª quanto na 17.ª Região já tivemos discípulos formados pelo M. Adamir em cargos de Mestre Representante e Mestre Central.

    Destaca-se também que no município de Tarauacá havia um grupo de pessoas que bebiam o chá de forma independente – sem estar ligado a nenhum centro. E ele chegando lá, atendendo a um pedido do Mestre Braga e sem conhecer aquelas pessoas, realizou uma Sessão de Vegetal. Iniciando desde ali a implantação da UDV naquela cidade, a semente do que hoje é o Núcleo Senhora das Águas. Naquela época não era fácil chegar ao interior do Acre, pois em alguns períodos do ano o único acesso era somente por avião, os “teco-teco”. E mesmo assim ele acompanhava os Núcleos Mulateiro, em Envira/AM; João Brandinho, em Feijó/AC; e o Cruzeiro do Sul, na cidade de mesmo nome, então ligados à 7ª Região da UDV.

    Outra coisa importante é o respeito que ele tinha por outras sociedades que bebem o Chá em Rio Branco. Fez uma aproximação com os Centros de Daime – em especial o Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz, também conhecido por Barquinha, à época dirigido pelo padrinho Manuel Araújo.

    Portanto, 31 de julho era um dia festa quando o mestre Adamir aqui residia. E hoje continua importante para reverenciarmos à memória de um homem que construiu tão bela história e até hoje serve como exemplo e inspiração!

    Jean Carlos Freire Lima
    N. João Lango Moura
    Rio Branco/AC

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  3. José Roberto Acre
    José Roberto Acre says:

    Que maravilha, também somos conhecedores das virtudes deste amigo verdadeiro.
    Felicidades a toda família a quem queremos muito bem é a toda irmandade do Núcleo Mestre Adamir.
    Abraços fraternos do amigo.
    M. José Roberto da Silva Barbosa.

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  4. Waléria Lemos de Sant'Anna
    Waléria Lemos de Sant'Anna says:

    É emocionante a história de fidelidade e amizade do M. Adamir e M. Sidom. Exemplo a ser seguido. Gratidão por esse exemplo!

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