Bacurau, um dos pioneiros da União do Vegetal
Salomão Taumaturgo Marques*
| 17 maio 2017
Raimundo Ribeiro das Chagas, conhecido como “Bacurau”, nasceu no Estado do Amazonas em 1º de maio de 1943 e, ainda jovem, dirigiu-se aos seringais da Bolívia para exercer a profissão de seringueiro. Nesse tempo teve a oportunidade de conhecer, entre os anos de 1959 e 1960, José Gabriel da Costa, Mestre Gabriel, pessoa com quem manteve uma próxima e boa convivência junto com sua família.
Bacurau auxiliou o Mestre Gabriel na sua missão nos seringais e esteve presente em importantes datas festivas atualmente comemoradas na União do Vegetal, como, por exemplo, o dia da sua criação, em 22 de julho de 1961, no Seringal Sunta, na fronteira do Brasil com a Bolívia. Nesse período, Bacurau ouviu valiosos ensinamentos do Mestre Gabriel, inclusive a história que intitula como “História do Denário”, ocasião especial e de grande aprendizado na sua caminhada. Ainda nos seringais, Bacurau recebeu do Mestre Gabriel o título de Mestre pela UDV.
No início de 1965, Mestre Gabriel foi morar em Porto Velho (RO) e Bacurau continuou nos seringais da Bolívia distribuindo Vegetal pela UDV em uma colocação de seringa localizada na parte alta do Rio Abunã, curso de água que faz fronteira do Brasil com a Bolívia. Nessa colocação, Bacurau recebeu das mãos do Mestre Pernambuco (Manoel Severino Felix) uma carta, escrita pelo Mestre Gabriel, de três folhas contendo quatro chamadas: “Caminho do Mestre”, “Abalo da Consciência”, “Exame e Correição do Mestre Equilibrando” e “Sou Mariri, Sou Chacrona”.
No preâmbulo da primeira folha da carta, Mestre Gabriel diz: “1º Passo. Porto Velho, 28 de março de 1967. Prezado amigo Raimundo Ribeiro, Mestre Bacurau, faço votos que o irmão esteja seguindo no meu caminho”. Demonstrando ao Bacurau que, apesar da distância física, o Mestre não se esquece dos seus discípulos e por eles está zelando e a eles orientando.
Mensagens de Mariri e Chacrona
Ao sair dos seringais no ano de 1969, Bacurau foi ao encontro da UDV em Porto Velho (RO) e posteriormente foi residir em Jaru (RO), localidade onde havia uma grande quantidade de Mariri nativo. De lá, Bacurau mandava mensagens de Mariri e Chacrona para dar continuidade à missão do Mestre em Porto Velho, cidade no qual estava estruturando a União do Vegetal.
Após retornar de Fortaleza (CE), em 1971, Mestre Gabriel, acompanhado de alguns discípulos, dirigiu uma sessão em Jaru. Nessa sessão, Bacurau perguntou ao Mestre Gabriel se ele iria entregar-lhe uma estrela de pano bordada na farda e o Mestre lhe respondeu que ele, Bacurau, não precisava de uma estrela de pano, e continuou dizendo: “Bacurau, a sua estrela sou eu, é uma estrela que nunca se apaga e nunca deixa de brilhar”. Com estas palavras, Mestre Gabriel fez uma demonstração de gratidão e reconhecimento a um dos seus primeiros discípulos que tanto lhe auxiliara na missão de recriar a UDV.
Atualmente, aos 74 anos, Bacurau pertence ao Corpo do Conselho da União do Vegetal, seguindo no Núcleo Estrela Guia (Ji-Paraná–RO) e é autor de algumas chamadas aprovadas pelo Mestre Gabriel. São elas: “Passarinhos”, “Quando o Mariri Florou”, “Canário”, “Um Belo Jardim”, “Graças a Deus” e “A Estrela Vem Brilhando”.
No mês em que inteirou mais um ano de vida, externamos ao Conselheiro Bacurau nosso reconhecimento e gratidão pelo trabalho feito nas origens desta religião e em prol do Mestre Gabriel.
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*Salomão Taumaturgo Marques é integrante do Corpo Instrutivo da Sede Geral (Brasília-DF) e Presidente do Conselho Fiscal da Diretoria Geral, do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (2015-2018).