Testemunhas da busca do tesouro: a criação da UDV

| 22 de julho de 2024

Equipe do Blog

Hoje celebramos 63 anos da União do Vegetal, uma sociedade religiosa onde se comunga o Chá Hoasca, que é a união de dois vegetais: o Mariri (cipó Banisteriopsis caapi) e a Chacrona (árvore Psychotria viridis). Criada originalmente pelo Rei Salomão, ficou esquecida por muitos anos, até que em 22 de julho de 1961 foi relembrada para a humanidade pelo seringueiro José Gabriel da Costa, o Mestre Gabriel, fundador desta Obra.

Mestre Gabriel marcou o dia 22 de julho de 1961 para declarar criada a União do Vegetal durante uma Sessão do Vegetal, no Seringal Sunta, localizado em meio à Floresta Amazônica, em território boliviano, fronteira com o Estado do Acre, resgatando os seus princípios originais: a valorização da família, o desenvolvimento moral, intelectual e espiritual do ser humano, pautada nos princípios cristãos-reencarnacionistas.

Hoje, além do Brasil, a UDV está presente em mais 10 países e conta com mais de 23 mil sócios. Somado ao trabalho espiritual, a UDV também tem atuado junto à sociedade em prol da beneficência e do meio ambiente, comprovando o propósito de fazer o bem à humanidade.

Na sua saga heroica até reencontrar o Vegetal, José Gabriel da Costa esteve por quatro vezes vivendo nos seringais da Amazônia com sua família, mulher e filhos, que foram nascendo em meio a idas e vindas entre Porto Velho (RO) e a floresta.

Getúlio (1948) e Jair Gabriel da Costa (1950), os dois filhos mais velhos de Pequenina e José Gabriel, são algumas das testemunhas vivas da caminhada que levou ao dia da criação da União do Vegetal. Naquela data, já haviam nascido outros quatro filhos do casal: Jandira (1954); Maria, que faleceu em tenra infância; Carmiro (1957) e Abomir (1961).

Nesta oportunidade o Blog da UDV traz algumas percepções do filho mais velho: Getúlio Gabriel da Costa, um senhor que cresceu em meio à dura lida dos seringais e, desde muito cedo, com 14 anos, assumiu algumas responsabilidades do sustento da família. Teve pouca instrução formal, porém importantes vivências, estando entre as mais significativas os acontecimentos da criação da União do Vegetal e da vida do Mestre Gabriel.

O trecho a seguir foi extraído da entrevista concedida ao Departamento de Memória e Comunicação, em celebração aos 60 anos da União do Vegetal, quando foram reunidos os quatro filhos vivos do Mestre Gabriel e da Mestre Pequenina – Getúlio, Jair, Jandira e Carmiro –, juntamente com outras pessoas, no Seringal Sunta, em 2021.

Mestre Jair e Getúlio Gabriel, Seringal Sunta (2021) | Foto: Augusto Pessoa.

Vivências do Getúlio Gabriel*

Desde que me lembro dele, ele falava desse tesouro. Que tinha que encontrar o tesouro. Na colocação em que a Jandira nasceu, Fortaleza, que ficava meia hora do barracão, ele já falava desse tesouro, que depois foi revelado como sendo a União do Vegetal.

Meu sentimento de estar aqui na Sunta, eu me lembro como se a gente estivesse morando aqui. Eu cortava seringa à noite, porque eu preferia… não tinha a perturbação das abelhas, era mais calmo e saía mais leite da seringueira. Rodava essa mata toda e nunca vi nada. Ouvia o esturro da onça, ouvi dizer que tem muita cobra, mas nunca vieram para cima de mim.

No dia 22 de julho de 1961, iniciamos o preparo cedo. O local onde colhemos o Mariri era bem próximo da casa, levava uns cinco minutos até lá. Ajudei a preparar o Vegetal, mas não bebi. Fui cortar seringa à noite. Na hora de abrir a Sessão eu disse: “Pai, eu vou para o mato”. Ele disse assim: “Deus te acompanha, te abençoe e te acompanha. Tá guardado”. Só falou isso: “Pode ir porque tá guardado por Deus”. Meti a cara e fui cortar seringa.

A importância da União do Vegetal, ela é muito importante. Porque é uma luz sagrada, trazida para a Terra. Naquela época eram umas dez pessoas, no máximo, e hoje é uma multidão, como diz a música do Roberto Carlos, é uma multidão. E eu fico muito grato por ele deixar esta herança aqui para todo mundo, conduzir ela e saber o que era e o que que é.

Colaboradores:

Luisa Torreão Sá Lasserre é integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Apuí (Salvador/BA – 4ª Região) e Diretora Adjunta do Departamento de Memória e Comunicação da Diretoria Geral (DMC-DG).

Flávia Ilíada é integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Rei Hoasqueiro (Brasília/DF – 8ª Região) e Vice-Diretora de Comunicação Externa do Departamento de Memória e Comunicação da Diretoria Geral (DMC-DG).


Yuugi Makiuchi é
integrante do Quadro de Mestres do Núcleo Luz do Oriente (Brasília/DF – 8ª Região) e pesquisador da Diretoria Geral do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.


Lucas Dantas é integrante do Corpo Instrutivo do Núcleo Linha de Tucunacá (Itaitinga/CE – 11ª Região).

*Depoimento extraído das entrevistas realizadas no Seringal Sunta, durante as gravações do filme dos 60 anos, pela equipe do DMC-DG do triênio 2021-2024.