A floresta e seus encantos

Um relato da vivência na 10ª capacitação de plantadores e zeladores de Mariri e Chacrona em São João da Baliza-RR

Cintia Pereira Rocha*

| 22 Janeiro, 2020.

Capacitação oferece conhecimento prático no trabalho do plantio de Mariri e Chacrona | Foto: Mário Jr.

“Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito”, assim diz a música… E foi através do convite de um amigo que me encontrei com essa vivência que se tornou um marco na minha vida e na minha caminhada na UDV.

No início de 2019, defini como objetivo conhecer mais a respeito de nossas plantas sagradas, suas características e seu cultivo, o que me aproximou das atividades do Departamento de Plantio e Meio Ambiente, fazendo crescer no coração o querer conhecer o Mariri e a Chacrona na Floresta. Essa possibilidade se tornou real com a 10ª Capacitação de Plantadores e Zeladores de Mariri e Chacrona, realizada entre 13 e 17 de novembro, no município de São João da Baliza, em Roraima.

A palavra que define os dias em que estive lá é “ENCONTRO”. Fui buscar conhecer o Mariri e a Chacrona na floresta, mas o que encontrei foi muito mais do que eu poderia imaginar.

Encontrei-me com um belíssimo trabalho de estudo e conhecimento, feito com amor e dedicação, pela preservação da floresta e dos ensinamentos trazidos pelo nosso Mestre Gabriel. O que presenciei, me despertou respeito, admiração e gratidão por todos que ali estavam com o objetivo de nos atender em nosso propósito de conhecer mais. E aqui cabe uma palavra de gratidão ao Mestre Central da 16ª Região, Mestre Aloysio Menezes, e a toda equipe da Central de Formação de Plantadores.

Pela generosidade daqueles que conhecem, pude ver, tocar, sentir o cheiro, experimentar e conhecer algumas coisas a respeito da medicina da floresta. Fiquei maravilhada com tanta diversidade.

A trilha dos nove vegetais é uma jornada à parte, tamanha beleza e encantamento. Para aqueles que ainda não conhecem os nove vegetais na floresta, posso garantir que eles são de uma imponência e elegância sem igual. E o cajueiro então? Não vou contar para não estragar a surpresa de quem ainda não viu…

Diante da grandeza e exuberância desse lugar, pude acolher no coração uma indescritível sensação de pertencimento, experimentando e me ligando no ritmo da natureza com a simplicidade e a naturalidade de seus ciclos, como a vida deve ser, da aurora ao poente e do poente a uma nova aurora. Foi também com naturalidade que senti minha energia e minha saúde sendo restauradas, pois quanto mais caminhava na floresta, mais disposição e vitalidade tinha. A disposição e a vitalidade, trouxe comigo de volta para casa.

Colhi Chacrona com folhas maiores que a palma da minha mão e, com gratidão, semeei suas sementes nas trilhas da floresta por onde passei. Bebi água de Cipó, recebi instruções de como me orientar dentro da mata, e aprendi com os instrutores que, mesmo com conhecimentos técnicos, as melhores ferramentas para identificar o Mariri na floresta é a experiência e o sentir. Ainda não foi dessa vez que identifiquei o Mariri em seu ambiente natural, mas para mim é mais um motivo para voltar outras vezes a São João da Baliza.

Nesse constante aprendizado do sentir, me alegrei por encontrar, neste curso de capacitação, amigos que já conhecia de longa data, e muitos que conheci naqueles dias. Todos trazendo a mesma sensação de reencontro. Juntos, vivenciamos a essência da União do Vegetal, a comunhão com o Sagrado em dias que estão gravados na memória.

A floresta com seus encantos, me mostrando o quanto sou pequena diante de tanta beleza, tocou meu coração. E como o que toca o coração nos transforma de alguma maneira, me encontrei também comigo mesma.

E assim, esse “ENCONTRO” se fez baliza em minha trajetória!

Voltei para casa com a certeza de que muitos mais precisam conhecer esse curso de Capacitação da Central de Formação de Plantadores, pois é um resgate ao simples, ao natural, ao essencial da vida.

Conhecer é preciso! Preservar é preciso! Colaborar também é preciso!

Que eu possa, mesmo de forma singela e à distância, colaborar com esse trabalho. Alegria e gratidão ao Mestre Gabriel por essa Sagrada União.

*Cintia Pereira Rocha é integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Sabiá (Uberlândia – MG).

Leia também este depoimento:

>> Um exemplo de preservação da floresta.

6 respostas
  1. Heloísa Marinho Cunha
    Heloísa Marinho Cunha says:

    Um encanto esse relato! Eu me senti vivenciando tudo que estava sendo descrito, mesmo sem estar presente, cheguei até a me emocionar neste trecho: “a floresta com seus encantos, me mostrando o quanto sou pequena diante de tanta beleza, tocou meu coração. E como o que toca o coração nos transforma de alguma maneira, me encontrei também comigo mesma.” Quanta beleza!

    Responder
  2. Erika Madelaine
    Erika Madelaine says:

    Que emoção ler este depoimento, este texto tão cheio de emoções que nos fazem voltar aos momentos vividos em nossa memória em nosso coração. Lembrei de um “Samba de amigo” o que sinto em coração – Gratidão, gratidão.

    Erika Madelaine
    CDC Nucleo Santa Rosa

    Responder
  3. Júlio César T S Junior
    Júlio César T S Junior says:

    Lendo esse relato de minha amiga C Cíntia , fico aqui imaginado esse momento tão especial vivido por ela.
    Graças a Deus estamos tendo essa oportunidade mesmo de longe poder sentir essa emoção . Grato .

    Responder

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