Benefícios do plantio de espécies lenheiras

Núcleos reduzem custos de Preparo de Vegetal investindo em boas práticas ambientais

Fábio Góis*
Saulo Miguez**

| 25 Julho 2017

Sócio maneja lenha colhida no terreno do Núcleo Estrela da Manhã durante Preparo de Vegetal | Foto Luciano Oliveira

Redução de custos, preservação do meio ambiente e desenvolvimento de sistemas agroecológicos. Esses são alguns dos benefícios que alguns Núcleos do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal já estão colhendo com as orientações do Departamento de Plantio e Meio Ambiente (DPMA) para cultivo de espécies lenheiras dentro de seus terrenos.

No mês passado, por exemplo, o Núcleo Estrela da Manhã (Camaçari-BA) fez um Preparo de Vegetal (o chá Hoasca) e pela primeira vez utilizou lenha plantada no seu próprio terreno. “Iniciamos o plantio das primeiras mudas de Eucalipto e Acacia Mangium em 2008, e este ano fizemos a primeira colheita. O trabalho compensa porque, além de estarmos contribuindo com o meio ambiente, o custo da compra e do frete de lenha certificada é muito alto”, explica o Mestre Representante do Núcleo, André Manta.

Segundo o Tesoureiro do Estrela da Manhã, Diogo Miguez, a economia obtida chegou a mais de 50% dos custos que o Núcleo geralmente têm nos Preparos. “Agora é continuar plantando, para chegarmos na condição de sermos autosustentáveis na utilização de lenha”. Ele conta que já está previsto, inclusive, um novo plantio de mais 500 mudas de Sansão do Campo, ainda neste segundo semestre.

No Crato, no sertão do Ceará, o Núcleo Santa Fé do Cariri também vem se beneficiando do plantio de espécies lenheiras. De acordo com o Monitor do Departamento de Plantio no Núcleo, Edmar Dino da Silva, a economia lá tem sido em torno de 25% dos custos do Preparo. A espécie mais cultivada é o Sansão do Campo, também conhecida como Sabiá. A planta, de alto poder calorífico, possui desenvolvimento rápido. Para se trabalhar com ela de maneira sustentável são necessários aproximadamente quatro anos; tempo necessário de rebrotamento, crescimento e desenvolvimento para utilização como lenha ou para fazer estacas.

Além do Sansão do Campo e do Eucalipto, que são as espécies mais plantadas, os Núcleos também têm utilizado Marmeleiro, Jurema Branca e Preta, e o Taxi-branco (também conhecido como Carvoeiro). São plantas de rápido crescimento, pouco exigentes e que se adaptam bem, mesmos nos solos mais arenosos e pobres em nutrientes.

Experiências exitosas podem ser encontradas em Núcleos de todo o Brasil como por exemplo no Castelo de Marfim (Santarém-PA), no Água da Vida (Tarauacá-AC), no Estrela Brilhante (Maranguape, CE), no Flor Divina (Fortaleza-CE), no São Joaquim (Campo Grande, MS), entre outros.

“O Preparo de Vegetal exige que tenhamos lenha de boa qualidade e a grande maioria dos Núcleos têm área de terra suficiente para fazermos o manejo no próprio terreno. No entanto, é necessário estar regular perante as leis ambientais”, enfatiza o Diretor do Departamento de Plantio e Meio Ambiente, Armínio Pontes (Núcleo Menino Deus, Manaus-AM). Ele explica que é necessário buscar informações com os órgãos ambientais locais (municipal ou estadual), fazer um plano de manejo, registrar o plantio das espécies, garantir que as plantas estejam em equilíbrio com a mata nativa, e ter a documentação necessária para a colheita.

Boas práticas

O Vice-Diretor de Pesquisa Científica do DPMA, José Beethoven Barbosa (Núcleo Flor Encantadora, Belo Horizonte-MG), ressalta que o plantio de espécies lenheiras nos Núcleos é uma ação de extrema importância, não só pela redução de custos, mas também porque é uma prática de desenvolvimento sustentável que auxilia na preservação do meio ambiente.

Ele destaca ainda que, no Boletim Regulamentar que trata dos Departamentos da União do Vegetal, o Departamento de Plantio e Meio Ambiente tem como objetivo “o plantio, cultivo, pesquisa, estudo, planejamento e a supervisão das ações de plantio do Mariri, Chacrona e espécies lenheiras, bem como a difusão das boas práticas ambientais”.

Beethoven lembra também que “as árvores são fundamentais para o desenvolvimento das nossas plantas sagradas. O Mariri precisa delas para subir e a Chacrona, para ter sombreamento. No Preparo do Vegetal, algumas dessas árvores podem também servir como lenha para alimentar as fornalhas”, explica.

Guia de Espécies Lenheiras

Com o objetivo de estimular os Núcleos a produzirem lenha em seus terrenos, o DPMA lançou o Guia de Espécies Lenheiras, que em 2017 chegou à segunda edição. A proposta da cartilha é servir de referência para consulta, apresentando árvores nativas do Brasil recomendadas para a produção de lenha.

Os critérios para a seleção das espécies com potencial para a produção de lenha foram:

  • Fornecimento de alto poder calorífico;
  • Rapidez de crescimento e boa adaptação em diferentes regiões;
  • Compatibilidade com a legislação ambiental por não serem espécies ameaçadas de extinção.

A Vice-Diretora Técnica de Capacitação do DPMA, Maria Alice Corrêa (Núcleo Alto das Cordilheiras, Campinas-SP), destaca que o guia traz também a importância dos Núcleos desenvolverem os sistemas agroflorestais. “Queremos evitar a monocultura, ampliar o conhecimento do uso de espécies nativas de cada região, preservando assim o equilíbrio de cada bioma”, explica. A nova edição do Guia foi distribuída no início do ano a todos os Coordenadores Regionais e Monitores de Plantio dos Núcleos da UDV.

Destino nobre

Além do plantio das espécies lenheiras, Núcleos da União do Vegetal estão se habilitando também, junto a órgãos ambientais, para receber doações de madeira apreendida, extraída ilegalmente da mata nativa. No Ceará, por exemplo, os Núcleos Tucunacá, Fortaleza e Flor Divina já receberam doações de lenha da Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (leia mais aqui).

Esse tipo de doação está prevista em lei. Mas é preciso os Núcleos cadastrarem-se no órgão estadual comprovando a utilização da madeira para fins não comerciais.

*Fábio Góis é integrante do Corpo do Conselho do Núcleo Estrela da Manhã, Camaçari-BA.
**Saulo Miguez é integrante do Corpo Instrutivo do Núcleo Estrela da Manhã, Camaçari-BA

5 respostas
  1. Mônica Carvalho
    Mônica Carvalho says:

    Acho muito importante a iniciativa dos Núcleos no plantio de árvores para sermos autossustentável na utilização de lenha no preparo do vegetal.
    Parabéns!

    Responder
    • Lucas Ribeiro
      Lucas Ribeiro says:

      Estão todos de parabéns.
      Uma excelente atitude, de se trabalhar dessa forma. Além de reduzir os custos do preparo, vem auxiliando no cuidado com o meio ambiente.

      Responder
  2. Zélia Seibt
    Zélia Seibt says:

    Ótima lembrança. Bom será se os monitores do DPMA divulgarem e incentivarem essas boas práticas junto aos Núcleos, para que tenhamos a real dimensão de sua importância.
    Abraço.

    Responder

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